terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sem barreiras

Bellini Tavares de Lima Neto (*) 

Sabe de uma coisa? Diga, mesmo, tudo o que você acha que tem que dizer ou, como se dizia antigamente, tudo o que lhe der na telha. Mais uma vez me valendo dos antigos, diga tudo na cara, na lata. E se alguém não gostar, que coma mesmo, tal como diziam esses mesmos antigos. Essa história de ficar com papas na língua não leva a coisa alguma. Dizem até que quem não solta o verbo acaba represando sentimentos e um dia isso pode virar doença. E ninguém vai querer ficar doente, ainda por cima por conta de tomar cuidado com o que diz. 

Muita gente por aí fica com temores e pudores para dizer o que pensa. Na maioria das vezes seu principal argumento é que se disser tudo o que pensa ou acha ou, então, se não escolher bem as palavras, poderá magoar as pessoas à sua volta. Ora, a vida não é para principiantes. E não poupa ninguém. De que adianta tanto cuidado se, no calor do dia a dia, ninguém terá esses pruridos com essas mesmas pessoas com quem se convive? Essas filigranas de nada resolvem, são quase uma hipocrisia, camuflam a verdade e as verdadeiras intenções. Se o que eu quero dizer tem uma conotação mais agressiva ou menos delicada, paciência. É o que eu quero dizer e pronto. 

Além de tudo isso, convenhamos que o tipo de gente que se melindra com palavras ou atitudes demonstra uma fraqueza que talvez não mereça lá muito respeito mesmo. A natureza tem regras. Há os predadores e os que são alvo dos predadores. Aí reside o equilíbrio da cadeia alimentar, por exemplo. Se o leão fosse se compadecer de sua presa, morreria de fome e colocaria toda a sua espécie em risco. Portanto, se a natureza nos fez a todos mais fortes e mais fracos, que cada um cumpra seu destino uma vez que se insurgir contra a natureza só leva ao prejuízo. 

Por tudo isso, não se constranja. Se tiver que dizer alguma coisa, diga-a exatamente como deseja, sem rodeios ou eufemismos. Seja contundente. Se alguém porventura se sentir tocado por isso, paciência. Da mesma forma que se melindrou, que trate de se desmelindrar. É o que se tem, é o que resta. 

E foi com essa lição, dita aos ventos bem da porta de sua caverna, que o ermitão deu uma última olhada para a floresta onde não vivia nenhuma outra alma e tratou de se recolher. Afinal, amanhã seria um ouro dia e a natureza dizia que ele precisava continuar. 

(*) Advogado, avô, corintiano e morador em São Bernardo do Campo (SP)

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