sábado, 9 de novembro de 2013

Em obras, 'trem da República' vai voltar

Estadão 

Nos trilhos da história do Brasil, trata-se de capítulo dos mais importantes. Há 140 anos, em 18 de abril de 1873, ocorreu o episódio conhecido como Convenção Republicana de Itu - uma reunião de 133 opositores da Monarquia, na maioria cafeicultores, no casarão onde morava Carlos Vasconcelos de Almeida Prado e sua família, no município do interior do Estado. 

Mas por que esse encontro chave pré-Proclamação da República aconteceu em Itu? Pois bem: a elite estava lá justamente porque na véspera houve a inauguração da Estrada de Ferro Ituana, ligando a cidade a Salto. Em 15 de novembro de 1889, enfim, foi proclamada a República, que se comemora na próxima sexta-feira. Para homenagear a convenção e incentivar o turismo, um grupo de ituanos e saltenses estão empenhados na reconstrução da ferrovia. 

"É um sonho que alimento desde 2005", diz o turismólogo Fábio Luis Grizoto, hoje funcionário da Secretaria de Turismo de Itu. Na época, ele fazia faculdade e estudava o tema, analisando a viabilidade da reativação da ferrovia-monumento. 

Ele articulou um grupo e, em 2008, o projeto de recuperação da ferrovia, que funcionou de 1873 a 1987, e recebeu verba federal de R$ 4 milhões. Foi criado um consórcio intermunicipal e, a esse valor, somaram-se montantes estaduais e das duas prefeituras: um total de R$ 10 milhões. Até 2012, 2 km da ferrovia - que deve ter 7 km quando estiver concluída - foram reconstruídos. Um atraso na liberação de parte dessa verba causou o rompimento do contrato. 

Agora, os trilhos estão lá à espera de nova licitação - que deve ocorrer nos próximos meses. "No ano que vem, as obras vão recomeçar", afirma Grizoto. "Difícil cravar quando tudo será concluído, mas tenho esperança de ver isso pronto até o fim de 2014." 

O projeto prevê que a ferrovia seja explorada pela iniciativa privada. Quem ganhar a licitação para a operação será responsável por providenciar o trem. "Terão de ser locomotivas a vapor e carros de passageiro de madeira", diz Grizoto. 

Os envolvidos no projeto pretendem que a ferrovia sirva principalmente para atrair turistas interessados em conhecer o patrimônio histórico das duas cidades e, claro, sentir como era um passeio de maria-fumaça das antigas. "Será um passeio incrível", afirma o turismólogo. 

De certa forma, essa divulgação turística e histórica já começou. Em 29 de setembro, um grupo de fotógrafos profissionais e amadores encarou, a pé, um passeio por parte do trajeto, com o objetivo de fotografar coletivamente o trecho. 

Documentário. 
Interessado nessa história e de olho na movimentação do projeto, o documentarista José Antonio Barros Freire produziu o documentário Trem Republicano 1873. Foram cinco meses de filmagens e entrevistas com diversos especialistas. Na sexta-feira, 15, feriado da Proclamação da República, o filme deve ser exibido pela TV Cultura, às 22h. 

Um dos entrevistados é o trineto do imperador d. Pedro II, o fotógrafo João de Orleans e Bragança. "Pedro II tinha a correta visão de que o Brasil, mesmo longe da Europa, não podia perder o trem da história", afirma ele, em trecho do documentário de Barros Freire. 

A opinião é corroborada pelo historiador Maurício Vicente Ferreira Júnior, diretor do Museu Imperial de Petrópolis. "O imperador foi um grande incentivador da ferrovia e estimulou o desenvolvimento ferroviário do País", diz o pesquisador. 

"Agora vamos liberar os direitos de exibição do filme para o conteúdo ser usado como ferramenta de aula dos professores", diz Barros Freire. "O documentário estará disponível aos jovens, com apoio de escolas, museus e TVs educativas e comunitárias." 

Divulgação. 
A disseminação desse conteúdo já se iniciou. Em setembro, Trem Republicano 1873 foi exibido pela Câmara de Itu e pela Secretaria da Cultura de Salto. Na próxima terça-feira, 12, o filme será projetado no Museu Republicano de Itu, às 17h. No Museu Paulo Setúbal, de Tatuí, o documentário está programado para quarta-feira, 13, às 20h. "A luta continua. Como diria (o antropólogo) Darcy Ribeiro: história no Brasil tem muita. Falta é gente para contar", diz Barros Freire.

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