Opinião do Estadão
Em pouco mais de duas décadas, a agricultura brasileira alcançou um nível de eficiência que a tornou uma das mais competitivas do mundo. Quando se trata de colocar o produto no mercado, porém, a situação se modifica completamente. Para boa parte dos agricultores brasileiros, que obtiveram ganhos notáveis de produtividade, não passa de sonho a possibilidade de utilizar, para sua produção crescente, um sistema de escoamento da safra tão eficiente e barato como o de que desfrutam, por exemplo, os produtores de grãos do Estado americano de Iowa.
Meios eficazes e rápidos para o transporte da produção até a ferrovia mais próxima, e que, em geral, não dista mais de duas dezenas de quilômetros da propriedade; malha ferroviária que oferece ampla gama de serviços; e descarregamento nos armazéns de destino com o trem em movimento caracterizam o sistema de logística e transporte dos Estados Unidos descrito em reportagem de Alexa Salomão publicada pelo Estado (10/11).
A realidade brasileira é muito diferente. Rodovias precárias, malha ferroviária insuficiente, hidrovias praticamente inexistentes, falta de armazéns, portos congestionados geraram uma espécie de paradoxo do campo: quanto melhor e mais eficiente a agricultura, maiores as dores de cabeça do produtor para escoar sua produção. Os resultados são alimento mais caro na mesa do brasileiro, ganhos menores para o produtor em razão dos aumentos dos custos e perda de competitividade do produto brasileiro.
Por ter investido na capacidade de armazenagem na própria fazenda, o produtor americano pode escolher o momento mais adequado para vender sua produção. Como resultado desses investimentos privados, nos EUA, a capacidade de armazenamento dentro das propriedades equivale a 1,8 vez a safra, o que assegura ao produtor a possibilidade de comercializar sua safra quando as condições do mercado lhe forem mais favoráveis. Isso evita o congestionamento das rodovias, ferrovias e hidrovias na época da colheita.
Aqui, no entanto, apenas 17% da produção pode ser armazenada nas propriedades e a capacidade total de armazenamento, dentro e fora das fazendas, não passa de 67% da safra. Por não terem investido em silos e armazéns, os produtores são forçados a negociar a safra e despachá-la tão logo seja colhida, o que leva ao congestionamento das rodovias e dos portos - e ao aumento do frete.
Não é um problema novo nem seu agravamento é uma surpresa. Tudo o que está ocorrendo na logística do agronegócio - e na logística em geral do Brasil - era perfeitamente previsível há bastante tempo caso não fossem feitos vultosos investimentos nessa área, e na ocasião apropriada. Em 12 anos, a safra de grãos praticamente dobrou de tamanho, passando de cerca de 100 milhões de toneladas em 2001-2002 para os 185 milhões de toneladas colhidas em 2012-2013. Nesse período, a produtividade passou de 65 sacas por hectare para 105 sacas por hectare.
Não houve, porém, aumento proporcional nos investimentos em infraestrutura. O resultado só poderia ser o caos logístico observado neste ano e que, pelo ritmo como avançam os investimentos, tende a se repetir.
Embora disponha de um sistema muito mais precário do que o americano, o Brasil investe proporcionalmente bem menos em transporte do que os Estados Unidos. Aqui, os investimentos não alcançam 0,5% do PIB, enquanto nos EUA chegam a 4%. Além disso, enquanto os EUA investem pesadamente em ferrovias e hidrovias, aqui, até há pouco, os investimentos estavam concentrados em rodovias, cujo custo de operação é mais alto. Em agosto de 2012, o governo lançou o Programa de Investimentos em Logística, que prevê a aplicação de R$ 153 bilhões em rodovias e ferrovias em cinco anos. Até agora, porém, o programa mal saiu do papel.
O problema não será resolvido no curto prazo. A superprodução do milho que terminou de ser colhido no início do semestre soma-se ao início da supersafra de soja, num momento em que os armazéns estão cheios. São componentes de um novo caos logístico, que em 2014 pode vir mais cedo - e pior.
Em pouco mais de duas décadas, a agricultura brasileira alcançou um nível de eficiência que a tornou uma das mais competitivas do mundo. Quando se trata de colocar o produto no mercado, porém, a situação se modifica completamente. Para boa parte dos agricultores brasileiros, que obtiveram ganhos notáveis de produtividade, não passa de sonho a possibilidade de utilizar, para sua produção crescente, um sistema de escoamento da safra tão eficiente e barato como o de que desfrutam, por exemplo, os produtores de grãos do Estado americano de Iowa.
Meios eficazes e rápidos para o transporte da produção até a ferrovia mais próxima, e que, em geral, não dista mais de duas dezenas de quilômetros da propriedade; malha ferroviária que oferece ampla gama de serviços; e descarregamento nos armazéns de destino com o trem em movimento caracterizam o sistema de logística e transporte dos Estados Unidos descrito em reportagem de Alexa Salomão publicada pelo Estado (10/11).
A realidade brasileira é muito diferente. Rodovias precárias, malha ferroviária insuficiente, hidrovias praticamente inexistentes, falta de armazéns, portos congestionados geraram uma espécie de paradoxo do campo: quanto melhor e mais eficiente a agricultura, maiores as dores de cabeça do produtor para escoar sua produção. Os resultados são alimento mais caro na mesa do brasileiro, ganhos menores para o produtor em razão dos aumentos dos custos e perda de competitividade do produto brasileiro.
Por ter investido na capacidade de armazenagem na própria fazenda, o produtor americano pode escolher o momento mais adequado para vender sua produção. Como resultado desses investimentos privados, nos EUA, a capacidade de armazenamento dentro das propriedades equivale a 1,8 vez a safra, o que assegura ao produtor a possibilidade de comercializar sua safra quando as condições do mercado lhe forem mais favoráveis. Isso evita o congestionamento das rodovias, ferrovias e hidrovias na época da colheita.
Aqui, no entanto, apenas 17% da produção pode ser armazenada nas propriedades e a capacidade total de armazenamento, dentro e fora das fazendas, não passa de 67% da safra. Por não terem investido em silos e armazéns, os produtores são forçados a negociar a safra e despachá-la tão logo seja colhida, o que leva ao congestionamento das rodovias e dos portos - e ao aumento do frete.
Não é um problema novo nem seu agravamento é uma surpresa. Tudo o que está ocorrendo na logística do agronegócio - e na logística em geral do Brasil - era perfeitamente previsível há bastante tempo caso não fossem feitos vultosos investimentos nessa área, e na ocasião apropriada. Em 12 anos, a safra de grãos praticamente dobrou de tamanho, passando de cerca de 100 milhões de toneladas em 2001-2002 para os 185 milhões de toneladas colhidas em 2012-2013. Nesse período, a produtividade passou de 65 sacas por hectare para 105 sacas por hectare.
Não houve, porém, aumento proporcional nos investimentos em infraestrutura. O resultado só poderia ser o caos logístico observado neste ano e que, pelo ritmo como avançam os investimentos, tende a se repetir.
Embora disponha de um sistema muito mais precário do que o americano, o Brasil investe proporcionalmente bem menos em transporte do que os Estados Unidos. Aqui, os investimentos não alcançam 0,5% do PIB, enquanto nos EUA chegam a 4%. Além disso, enquanto os EUA investem pesadamente em ferrovias e hidrovias, aqui, até há pouco, os investimentos estavam concentrados em rodovias, cujo custo de operação é mais alto. Em agosto de 2012, o governo lançou o Programa de Investimentos em Logística, que prevê a aplicação de R$ 153 bilhões em rodovias e ferrovias em cinco anos. Até agora, porém, o programa mal saiu do papel.
O problema não será resolvido no curto prazo. A superprodução do milho que terminou de ser colhido no início do semestre soma-se ao início da supersafra de soja, num momento em que os armazéns estão cheios. São componentes de um novo caos logístico, que em 2014 pode vir mais cedo - e pior.
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