quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O governo x Quem produz

Demóstenes Torres (*)

Os exames nacionais aplicados pelo governo, do Provinha Brasil, para crianças, ao Enade, para quem termina o curso superior, são oportunidades perdidas de avaliação verdadeira. As questões parecem elaboradas por chefes de ONGs para recrutar militantes de partidos da base aliada.

Nos testes, destacam-se as perguntas em que o aluno é induzido a considerar o agropecuarista e o livre mercado os maiores inimigos do País.

No Enem, que averigua o ensino médio, os testes da edição de 2011, realizados no fim de outubro, repetem a cantilena de anos anteriores. Uma questão é ilustrada pela fotografia de araucária ao lado de um alerta para a degradação do bioma em que sobrevive. O aluno tem que responder, entre as cinco alternativas, qual seria uma das formas de intervenção humana que resultaram na destruição do ecossistema natural da espécie.

Resposta correta: o vilão da árvore é a indústria de papel a partir da exploração da madeira, extraída principalmente na região Sul.

Antes de o aluno aderir ao MST para invadir e depredar fazendas ligadas aos produtores de celulose, é preciso lembrar que as mesmas fábricas têm reflorestado continuamente a mata nativa, numa das maiores ações de consciência ambiental das Américas.

Desde outros exames, o instituto que faz as provas, o Inep, é useiro em opor os produtores à preservação. Não importa se o tema é chuva ácida, desmatamento ou biocombustíveis, o aluno sabe que a alternativa correta é a que culpa o empreendedor, principalmente o rural. Ele é o responsável por qualquer malefício, do aquecimento global à exploração da mais-valia.

Noutra questão, o estudante conhece uma cadeia agroindustrial integrada a um supermercado. Para ficar mais próximo de um assento na universidade, o avaliado deve dizer o que demonstra a disposição dos atores no esquema.

O aprendiz de José Rainha deve marcar a alternativa em que os produtores se subordinam ao setor financeiro. O infográfico apenas omite que os financiadores estão sujeitos a regras da oferta e da procura, além de fatores externos, como a seca ou pragas, antes de investir em grão e gado.

O governo odeia os produtores por eles conseguirem algo de que as políticas oficiais têm se mostrado incapazes: sustentar a balança comercial, mesmo sem incentivo, sem investimento em pesquisas e submetidos aos solavancos da economia internacional.

Em troca, o estado doutrina a juventude para responsabilizá-los por sua ineficiência.

Os exames são uma grande ideia que se desviou do foco. Analisadas uma a uma, perguntas e respostas descrevem os interesses oficiais do Palácio do Planalto: escolas e universidades aparelhadas, as salas de aula como células partidárias e uma juventude a serviço do pensamento único – a ideia de que arroz nasce no saco plástico e carne é feita de lixo reciclado por uma ONG de alimentos orgânicos.

(*) Procurador de Justiça e senador pelo DEM/GO

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