Investigue mais, ministro Aldo. O buraco é mais embaixo
José Cruz (*)
O ministro Aldo Rebelo, que hoje cumpre sua primeira agenda oficial no Ministério do Esporte, tem um compromisso prioritário com o seu partido, com o desporto em geral e com a Nação: limpar o Ministério do Esporte dos corruptos que infestam a pasta.
Antes de tratar dos sérios assuntos da Copa do Mundo, o ministro precisa se inteirar sobre os convênios assinados por seu antecessor. São milhões de reais repassados para centenas de entidades – que não são ONGs, mas, nem por isso, muitas, fogem da suspeição de envolvimento em gravíssimas falcatruas.
Antes de mergulhar nos assuntos da Copa, o ministro Aldo tem a obrigação de mandar uma equipe investigar sobre a aplicação dos recursos da Lei de Incentivo ao Esporte.
Pouco divulgada, é aí que se concentram gravíssimas suspeitas de desvio de muita grana, sem que o Ministério tenha a noção do que está ocorrendo, pois não há fiscalização alguma. O Segundo Tempo começou assim, apesar dos alertas do Tribunal de Contas da União. Deu no que deu.
Antes de receber autoridades da FIFA, o ministro Aldo precisa proibir qualquer relação do Ministério do Esporte com empresas de ex-funcionários, como a Casa de Taipa, de Julio Filgueira, especialista na elaboração de projetos esportivos que, mais tarde, são aprovados por seus ex-colegas do Ministério do Esporte, entre eles pessoas de sua intimidade.
O paulista Filgueira é ex-secretário de Esporte Educacional de Orlando Silva. Antes, foi secretário de Esportes da então prefeita Marta Suplicy, em São Paulo. Mais tarde, ocupou o mesmo cargo na Prefeitura de Guarulhos.
Foi como secretário de Esporte Educacional que Filgueira criou o “puxadinho”, o suspeito aluguel de salas na área comercial de Brasília, para ali instalar o “controle” do Segundo Tempo.
Surra
Num dos entreveros do escandaloso Segundo Tempo – que está respingando fortemente no governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz - Filgueira apanhou muito de João Dias, o delator do esquema de corrupção no Ministério do Esporte.
Nessa ocasião, o chefe de gabinete do então secretário Educacional Filgueira era Fábio Hansen, que agora aparece nas gravações de João Dias, orientando-o como fraudar a prestação de contas do SegundoTempo, para aliviar a barra do amigo Agnelo Queiroz.
Depois da surra, Filgueira deixou a pasta no final de 2009 e abriu a Casa de Taipa, usando a influência e amizades colecionadas ao longo de sua carreira em prefeituras e governo federal, para oferecer serviços de assessoria ao esporte.
Para que recupere a credibilidade do Ministério do Esporte e de seu partido, o PCdo, principalmente, o ministro Aldo Rebelo precisa limpar a área. E a sujeira não está concentrada apenas no Segundo Tempo.
(*) Jornalista e que cobre há mais de 20 anos os bastidores da política e economia do esporte, acompanhando a execução orçamentária do governo, a produção de leis e o uso de verbas estatais na área esportiva.
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