Uma história da rivalidade entre Manaus e Belém
Padre Sidney Augusto Canto (*)
É com tristeza que fatos, recentemente acontecidos, apontem para uma animosidade entre os vizinhos do Amazonas e do Pará. Enquanto muitas pessoas, se deixando levar pelas emoções que os fatos produzem, apimentam ainda mais este ensopado, eu comecei a me perguntar qual a origem de tudo isso?
Não quero aqui apelar para os sentimentos de ninguém. Creio que a razão deva constituir mais luz sobre os fatos recentes. Como pesquisador histórico, quero apenas resgatar os fatos...
Impossível não olhar para trás, para a história da Amazônia, e não encontrar respostas. A que eu coloco aqui é apenas uma de tantas que possam vir à luz, baseada em fatos reais do passado (alguns deles ainda mal curados) e que, vez por outra, afloram à superfície dos relacionamentos políticos e civis atuais.
A ocupação amazônica não foi pacífica. Portugal ocupou um território que não era seu, e, por meio da força e das articulações políticas da época, conseguiu tomar para si o que hoje o Brasil se orgulha de possuir (apesar de dever-se esse mérito aos portugueses, principalmente a Pombal) como sendo seu. Mas não sejamos injustos conosco mesmos, no início da República um antigo adimirador da monarquia (Barão do Rio Branco) nos ajudou a definir as questões pendentes da fronteira amazônica, favorecendo seu atual contexto dentro do território nacional.
Entrementes, voltemos a 1755, quando era criada a Capintania do Rio Negro (ou do Alto Amazonas). O próprio Mendonça Furtado residiu nesta capitania a fim de facilitar a demarcação e os limites entre a Colônia Portuguesa e a de Castela. A carta de criação da novel Capitania explicitava o estabelecimento de um TERCEIRO GOVERNO na Colônia Amazônica (já havia São Luiz, que fazia parte do “norte” e a cidade do Pará, hoje Belém). Contudo houve um adendo: permaneceria a nova Capitania sendo “subalterna” ao Pará.
Em 1758 foi nomeado o primeiro governador da Capitania: Coronel Joaquim de Mello Povoas. A antiga aldeia de Mariuá, elevada a Vila de Barcelos passou a ser a capital. Em 1791 foi a capital transferida para junto do Forte da Barra (hoje Manaus). Em 1798 voltava a Barcelos e em 1804 ficou finalmente na Vila da Barra.
Com o processo de Independência do Brasil, Manaus e todo o Alto Amazonas se portaram como uma Capitania Independente do poder de Belém, inclusive criando uma JUNTA GOVERNATIVA PROVISÓRIA do Alto Amazonas. Tudo estava preparado para a criação da Província, mas... Belém se opôs veementemente. Os políticos da capital não reconheceram as pretensões da emancipação do Amazonas e tramaram para que isso não ocorresse. Foi a primeira oportunidade de fazer as pazes, perdida pelos paraenses que governavam a Província.
Em 1825, o Governador do Grão Pará, dissolveu a JUNTA GOVERNATIVA PROVISÓRIA do Amazonas, causando grande insatisfação aos amazonenses. Mesmo recorrendo ao governo imperial, Dom Pedro I, não aceitou a representação dos amazonenses e acatou a decisão do Governador. Os ressentimentos foram grandes.
No período seguinte, da Cabanagem, o Estado do Amazonas (o Oeste do Pará também), servindo como refugio dos cabanos, foi palco da severa reação do governador Soares de Andrea, que não mediu esforços em aplicar uma justiça mais pautada na vingança do que na reconciliação do povo amazônico. Novos ressentimentos para com o governo central de Belém.
Terminada a Cabanagem, os Amazonenses levantaram a voz. NÃO QUERIAM MAIS SER GRÃO PARÁ. E levaram a batalha para a Corte Imperial. Em 30 de agosto de 1939 foi apresentado o projeto para a CRIAÇÃO DA PROVÍNCIA DO RIO NEGRO. Demorou ainda onze anos para que o Imperador Dom Pedro II proclamasse, pela Lei 582, de 05 de setembro de 1850, a criação da Província do Amazonas.
Porque demorou tanto? Porque os Deputados Paraenses da Corte se OPUSERAM, entres eles, Sousa Franco. Isso aumentou ainda mais os ressentimentos.
Contudo o Imperador deixou-se levar por outros conselhos, que lhe advinham de pessoas como o Senador José Saturnino da Costa Pereira, do Marquês de Abrantes, do Senador Cândido Batista, do Marquês do Paraná, etc.
Augusto Fausto de Souza, falando deste fato, em 1877, nos diz que “as poucas vozes discordantes, se bem que muito ilustradas, eram eivadas do espírito de provincialismo, que, mal-entendido, acha vantagem nos grandes territórios, embora seja isso prejudicial ao verdadeiro interesse do país”. É dele, Augusto Fausto, que surgiu o estudo de dividir o Império em 40 Províncias, entre as quais a do TAPAJÓS, com capital em SANTARÉM, apresentada ao Imperador Dom Pedro II.
A emancipação do Amazonas do Pará (leia-se mais explicitamente: Belém). Não foi o final da contenda. A Borracha traria uma nova disputa entre as duas capitais, dessa vez, não somente política, mas econômica e culturalmente falando. Ambas, imbuídas de velhos ressentimentos, quiseram demonstrar seu poder político e econômico diante do “ouro verde”. Vaidades que procuravam mostrar que uma cidade era melhor que a outra.
Depois da queda da Borracha, Belém levou a melhor, por um momento, mas Manaus não ficou para trás e garfou a famosa Zona Franca: enquanto os belenenses acreditavam que seus recursos naturais eram suficientes para manter a boa vida da capital, os manauaras investiram na produção. O resultado nós já sabemos, Manaus hoje produz mais que Belém, tem mais oferta de emprego e cresce mais do que a capital paraense.
Contudo, arraigado está a idéia de que o Pará tentou impedir o crescimento do Amazonas por quase cem anos... E isso, não será resolvido em cem dias...
Hoje, Belém, com seu provincialismo, luta para manter um território que historicamente já se encontra dividido. O que será da vida do povo deste Pará separado, ainda não em território, mas já em espírito, pelos próximos anos? Isso só o tempo dirá...
(*) Sacerdote santareno e foi ordenado presbítero no dia 28 de dezembro de 2001. É membro da Academia de Letras e Artes de Santarém, como escritor e pesquisador da história da sua Diocese já tendo dois livros publicados e outros dois inéditos.
odeio o fato de ver Belém perder feio pra Manaus que hj tem o quarto maior pib entre as capitais.Mesmo assim,Belém tem muito mais cara de metrópole que Manaus.
ResponderExcluirMeu caro Anônimo
ResponderExcluirObrigado pela sua audiência.
Posso entender sua frustração mas tenha bronca, fique chateado, mas nunca com ódio.
Esse sentimento é por demais pesado e causa um profundo mal estar . Não atinja esse estágiode odiar. Nada vale esse sentimento.
Valeu
Rabiscos do Antenor
SHOW DE BOLA A AULA DE HISTORIA QUE O PADRE AI EM CIMA DEU!! MAS UMA COISA E CERTA ESTA RIVALIDADE SO VAI ACABAR QUANDO CRISTO VOLTAR JA QUE OS NOSSOS VIZINHOS PARAENSES SEMPRE QUEREM SER SUPERIORES A NOS DO AMAZONAS!!
ResponderExcluirPURA INVEJA,COMO SEMPRE! BYE BYE
ASS: JULIODEZ/AM
Reverendíssimo Padre Sidney
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria de lhe manifestar publicamente minha adimiração e respeito pelo seu ministério presbiteral em nossa querida Sampa. Nossa família lhe estima muito, ao senhor e ao Revmo. Padre Chicão.
Eu não conhecia a história da sua terra. Soube que lá haverá a consulta sobre a criação dos Estados do Tapajós e Carajás pelas emissoras de Televisão.
Confesso que muito me entristece o fato de ainda existirem Estados da Federação que cultivam este tipo de animosidade por conta de tolas e flivolas vaidades.
Estamos em oração para que sua terra seja uma terra de paz, pois me parece que bela ela já o é.
Contamos com sua benção.
Muito cordialmente,
Afonso.