Jornal da Tarde
A partir deste ano, conquistar uma vaga na Universidade de São Paulo (USP) ficará mais difícil. Na semana passada o Conselho de Graduação (CoG) aprovou cinco mudanças no exame da Fuvest que eram discutidas havia meses e foram adiantadas pelo Jornal da Tarde, com exclusividade, em março.
As medidas devem tornar o processo seletivo mais restritivo, chamando menos estudantes para a segunda fase (de dois a três candidatos) e criando um mecanismo que permitirá aos melhores alunos não aprovados nas três primeiras chamadas a escolha de outras carreiras da USP, uma flexibilidade inédita. Além disso, a nota mínima para passar para a segunda etapa sobe de 22 para 27 pontos – de 90 questões.
Agora, a nota da primeira fase volta a valer na pontuação final e o número de questões da prova do segundo dia da segunda fase passa de 20 para 16. O objetivo das mudanças é melhorar a qualidade do aluno que ingressa na USP e, com isso, a nota de corte deve aumentar em praticamente todas as carreiras.
Com as alterações, o número de convocados à segunda fase passa a variar de acordo com a média geral da carreira obtida pelos candidatos na primeira fase, respeitando os seguintes limites: para uma média de 30 acertos, seriam chamados dois por vaga; para uma média de 60 acertos, três por vaga.
Como mais de 95%das carreiras não obtêm média superior a 60 pontos na primeira fase, os grupos na segunda fase serão menores e mais qualificados. Mas, para a pró-reitora de graduação da USP, Telma Zorn, o vestibular não ficará mais difícil, pois não foram feitas alterações estruturais na prova. “Esses pequenos ajustes são necessários em prol do aluno e da qualidade do processo. O formato e conteúdo das questões não foram modificados.”
O grupo de trabalho para o vestibular da USP garante que, mesmo com as mudanças, o número de ingressantes com ensino médio na rede pública não vai diminuir. “Foram feitas simulações que mostram isso”, explica Telma.
A redução de questões no segundo dia da segunda fase se concretizou porque a Fuvest havia diagnosticado que os alunos ficavam até os últimos minutos da prova. “Era muito pesado”, afirma a pró-reitora. Já a chance de escolher uma nova carreira após a terceira chamada é uma forma de manter na instituição as “melhores cabeças” estudantis. Neste ano, após a terceira chamada, 98% das vagas foram ocupadas – sobraram 235 vagas.
Alunos de cursos pré-vestibular da capital ouvidos pela reportagem dizem que as mudanças vão servir como “incentivo extra” para estudar. “Encaro como mais uma motivação”, afirma Ana Luisa Salerno, 17 anos, que almeja Medicina. Leandro Guimarães, 18, garante que o “apetite para fazer as provas e estar entre os melhores cresceu”. Para ele, candidato a Medicina, as mudanças só “aumentam o foco e a certeza da escolha pela USP”.
Na opinião dos estudantes, as mudanças vão tornar a USP mais seletiva. “Acho que eles só estão buscando os melhores”, afirma Giovanni Guilherme de Medeiros Magliano Filho, 18, que está no segundo ano de cursinho e tentará pela segunda vez a vaga em Engenharia na instituição. “Mas poderiam ter decidido e anunciado antes.”
César Augusto Tadeu Mamede de Souza, de 19 anos, também veterano de Fuvest e candidato a Engenharia pela segunda vez, diz que as mudanças vão pesar mais para os candidatos de “cursos menos competitivos”. Marcelo Bonassa, de 16 anos, aluno do Bandeirantes e vestibulando de Direito, aprovou especialmente as mudanças feitas para a primeira fase. “Vão diferenciar os alunos que passam raspando para a segunda fase dos que realmente sabem mais”, acredita.
Já Vinicius de Sá, de 18 anos, diz que as alterações podem não melhorar o nível dos ingressantes. “Estão querendo subir a nota para dar a impressão de que a USP está mais seletiva. No ano passado, fizeram a prova mais difícil para tentar aprovar os melhores, mas a nota de corte de todos caiu”, diz ele, que tenta Direito.
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