Presidente da Abimaq alerta para desindustrialização
Produzir um equipamento na Argentina, no Uruguai ou no Paraguai custa 35% a menos do que produzi-lo no Brasil.
As indústrias nos países vizinhos conseguem exportar com preços 20% inferiores aos do que uma empresa brasileira venderia em seu próprio país, devido aos créditos fiscais oferecidos em terras estrangeiras - na Argentina, por exemplo, o programa Reintegro permite créditos de até 14% sobre os valores de produtos.
Esse cenário, para a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), explica o direcionamento dos investimentos de empresas brasileiras e estrangeiras para os outros países do Mercosul.
Em abril, a Case New Holland (CNH), fabricante de tratores, anunciou plano de investir US$ 100 milhões em uma unidade na Argentina, ilustrando um caminho seguido por um número crescente de companhias.
"As indústrias estão se mudando para países vizinhos para escapar do custo Brasil", afirmou o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, que esteve em Porto Alegre para proferir uma palestra na Fiergs.
"O movimento começou com as grandes empresas e tem se esticado agora às médias", apontou.
O resultado é o direcionamento de ampliações fabris para unidades fora do Brasil e a diminuição de produção internamente. Segundo o dirigente, as indústrias de máquinas e equipamentos têm sido seduzidas pelos estímulos fiscais oferecidos pelos outros países do Mercosul, e optam por vender sua produção ao aquecido mercado brasileiro contando com as licenças automáticas.
Quem não faz isso acaba enfrentando uma concorrência forte, em especial da China, cuja produção é mais barata. Aubert exemplifica as dificuldades da indústria nacional lembrando do caso da fabricante de equipamentos agrícolas John Deere, que há poucos dias anunciou férias coletivas de 1,3 mil empregados em Horizontina e dispensa de parte deles.
Além dos custos menores, que favorecem a entrada de produtos estrangeiros no País, o setor critica as barreiras pela Argentina aos produtos brasileiros.
O atual contra-ataque do Brasil à entrada de produtos portenhos, dificultando as licenças de importações para automóveis, é visto com bons olhos pela indústria nacional. "Apenas agora o Brasil está impondo as barreiras a produtos argentinos, e esta medida é muito bem-vinda, inclusive deveria ser ampliada para outros tipos de produtos, além de automóveis", apontou Aubert. "Temos de ter isonomia nas condições de competição."
Para o dirigente, o que se vê no setor de máquinas e equipamentos é reflexo de uma falta de política de estímulo à indústria, com medidas compensatórias às exportações, e do não uso de salvaguardas e medidas anti-dumping para dificultar importações.
Ele cita os setores de café, soja e recursos minerais como um movimento crescente de beneficiamento no exterior, ou por estrangeiros no Brasil. "Estamos voltando a ser colônia", alertou.
Nota do Blog: Depois algumas pessoas aqui da região não entendem porque é tão complicado de se montar uma fábrica na região. Já não há estimulos municipais, já não há logistica, e ainda existem todos os altíssimos custos operacionais para se manter uma fábrica funcionando que o desestímulo se torna muito maior. Uma explicação do porque se exporta mais matérias primas in natura do que industrializadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário