Emerson Gonçalves (*)
Reproduzo trecho da entrevista de S.Exa., o Ministro do Esporte da República Federativa do Brasil, Orlando Silva Jr, a maior e principal autoridade nessa área em todo o país. Acima dele, naturalmente, somente o próprio Presidente, em sua gestão anterior, na qual S.Exa. também era o Ministro dos Esportes, e a atual presidente, que manteve-o no cargo.
“Esse foi um erro, na minha opinião, no debate anterior sobre o Morumbi. Na fase anterior, parecia que o problema de São Paulo era o Morumbi, sendo que ele era a solução. Não era o problema do São Paulo. Era o problema de São Paulo. A mesma coisa eu falo agora. O estádio do Corinthians é a solução. Nem o São Paulo poderia assumir as responsabilidades do estádio nem o Corinthians poderia agora. Então, não podemos imputar a nenhum clube responsabilidades que são de autoridades paulistas.”
As palavras acima citadas de S.Exa. foram ditas em resposta à pergunta dos jornalistas Bernardo Itri e Eduardo Ohata, do jornal Folha de S.Paulo: “Qual o nível de responsabilidade do Corinthians nisso?” – falando sobre os problemas e dificuldades que o clube está enfrentando para iniciar as obras de seu estádio, previsto para ser a sede paulista da Copa 2014 e, fundamentalmente, sediar o jogo de abertura da Copa.
Ao contrário do que pensa o torcedor, o jogo mais importante da Copa do Mundo é o de abertura e não a final. Isso, naturalmente, para a FIFA e os organizadores da Copa, pois é a esse jogo que comparece o maior número de chefes de estado e de governo e os famosos VIPs. A ponto, por exemplo, da federação mundial exigir 30 – trinta – elevadores para conduzir as muitas Excelências presentes do térreo às tribunas, sem perder tempo esperando a chegada do elevador, como acontece com todos nós, mortais comuns.
Para fazer o jogo de abertura o estádio previsto para Itaquera custará, pelo menos, 1,07 bilhão de reais. O Sport Club Corinthians Paulista não tem como bancar essa quantia.
Da mesma forma, para fazer do Morumbi o estádio para a abertura da Copa, o custo seria de 0,65 bilhão de reais, valor que o São Paulo FC não teria como bancar.
Entre a possibilidade corintiana e o custo orçado hoje, a diferença é de 0,43 bilhão de reais.
Entre a possibilidade são-paulina e o custo então orçado para a reforma do Morumbi, a diferença era de 0,25 bilhão de reais.
Sabemos agora, tarde para um, em tempo para outro, que o problema não é e nunca foi do clube, seja o São Paulo, seja o Corinthians. O problema, como deixou claro o Ministro dos Esportes da República Federativa do Brasil, autoridade maior na área, é da cidade de São Paulo, é do estado de São Paulo, mas não é, curiosamente, do Brasil. Então, para deixar claro, vou repetir trecho da fala do Ministro do Esporte: “…não podemos imputar a nenhum clube responsabilidades que são de autoridades paulistas” – portanto, S.Exa. deixa claro que a responsabilidade é das autoridades paulistas.
Se alguém ainda duvidava que o destino das promessas de “Copa sem dinheiro público” feitas pelo presidente da CBF e por autoridades do governo federal era a lata de lixo, essa dúvida deixa de existir.
O sinal para a gastança foi aberto há algum tempo, com as “flexibilizações” de licitações e outras coisinhas. Parecia, ainda, haver algum pudor com relação aos estádios, mas, nessa altura da corrida rumo à Copa, 18 de maio de 2011, a meros e rápidos 38 meses do evento, não há mais tempo para aparências.
E, quem sabe, aquela previsão de instituto do próprio governo federal, que a Copa terá 98,5% de seus custos bancados pelos governos, talvez tenha quer ser refeita para algo como 99,9%.
Não há mais tempo e espaço para pudores, quaisquer que sejam.
Minha avó seria mais direta: não há mais tempo para ter vergonha na cara.
Pena que eu não seja tão direto e claro como minha avó.
E, se não há tempo para pudores, contrapartida é tempo da verdade mostrar sua cara.
Ainda que tardiamente.
(*) Atua na área de marketing. Responsável pelo blog Olhar Crônico Esportivo
Nenhum comentário:
Postar um comentário