Humberto Peron (*)
Muitos adoram me chamar de saudosista quando o assunto é futebol. Não nego que adoro pesquisar, ler e falar de grandes lances, partidas e craques do passado. Mas tenho plena consciência de que o futebol jogado no passado nunca vai ser repetido e não serve de comparação com o que acontece nos gramados atualmente.
Confesso que estou animado e tenho certeza que nos próximos anos a qualidade do futebol praticado no mundo irá melhorar muito. Times como o Barcelona, no exterior, e o Santos, aqui no Brasil, principalmente, se conquistarem títulos, vão influenciar outras equipes a adotar o estilo ofensivo de jogar.
Aliás, o Barcelona prova que jogar ofensivamente é muito diferente de sair atacando sem planejamento e deixando inúmeros buracos na defesa para o adversário explorar. O time catalão consegue encurralar seus adversários porque marca muito.
O time aperta a saída de bola do adversário e, quando retoma a posse novamente, impõe um ritmo de jogo que faz o adversário correr muito, com a difícil tarefa de tentar parar as jogadas de Messi e seus companheiros.
Por isso, podemos não perceber, mas já temos uma geração de treinadores modernos, que se preocupam em achar alternativas de ataque para suas equipes. Já podemos sentir que técnicos que foram vitoriosos estão ficando ultrapassados e estão perdendo espaço.
É muito bom que essa nova geração de treinadores tenha redescoberto o 4-3-3, um esquema ofensivo, que, quando usado com inteligência, é muito eficiente também quando o time é atacado.
Fica claro que agora o talento volta a ser fundamental na escolha dos jogadores que entram em campo. Em pouco tempo, não haverá espaço para aqueles jogadores "brucutus", que só entram em campo para desarmar, dar carrinhos e passes curtos. Já é necessário --e exigido-- que os atletas, até os defensores, tenham condições de iniciar um jogada e habilidade para chegar ao ataque.
Hoje é primordial, por exemplo, que um volante faça tabela com os atacantes, entre na área do adversário e saiba finalizar de longa distância. Não faz muito tempo, o que era exigido dos volantes é que eles só marcassem e atuassem como zagueiros.
Com o talento voltando a ser essencial, com certeza a qualidade dos jogadores revelados também irá subir. Se observarmos nos últimos anos, voltaram a surgir jogadores habilidosos, sem medo de tentar um drible, e até armadores cerebrais, aqueles que ditam o ritmo de uma partida e que são capazes de acertar um lançamento longo ou um passe milimétrico.
Também vejo, principalmente no Brasil, uma mudança para breve no perfil de nossos dirigentes. É lógico que, como sempre, a evolução fora dos gramados será mais lenta. Mas em pouco tempo não haverá mais espaço para dirigentes que adoram se perpetuar no poder.
O futebol vai ser gerido por profissionais, obrigados a alcançar metas estabelecidas. Não tem jeito, por mais que se tente adiar, o modelo de administração amador utilizado hoje terá de ser abandonado para que os clubes sobrevivam.
No futebol, como na vida, reverenciar o passado não significa que você não se possa evoluir e mudar o presente e acreditar em um futuro promissor.
Até a próxima.
(*) Jornalista e colunista da Folha de São Paulo.
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