A FIFA, a CBF e a falta de transparência no dinheiro do futebol
José Cruz (*)
Se havia algum receio para instalar a CPI da CBF, com temor de provocar desgaste nacional no país da Copa e da Olimpíada, agora não há mais empecilho para tal.
Os escândalos do futebol internacional, a partir da entidade maior, a Fifa, provocam reações no governo da Suíça para conter a voracidade da cartolagem sobre o dinheiro público, principalmente.
Os jornais europeus de hoje informam: o Parlamento Suíço determinou que a Federação Internacional de Futebol, a poderosa Fifa, dê transparência às questões financeiras do futebol.
Mais: que inclua na atualização de suas normas para aceitar auditorias externas.
A senadora Geraldine Savary, do parlamento suíço, apresentou um projeto de lei que obriga as entidades esportivas com sede naquele país a publicarem suas contas. “Não há como continuar desse jeito”, disse a senadora.
Além da Fifa, o Comitê Olímpico Internacional tem sede na Suíça e deverá se submeter à norma.
Evasão de divisas
A exigência se fundamenta no seguinte: as entidades do esporte têm benefícios fiscais na Suíça. Mas crescem as suspeitas de evasão de divisas, a partir da própria Fifa.
Nos últimos dias também cresceram as denúncias de corrupção na poderosa entidade do futebol, envolvendo 24 membros de seu Comitê Executivo, todos acusados de corrupção, recebimento de propinas na venda de seus votos.
No Brasil
O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, está na Suíça. Ele está entre os acusados de recebimento de propinas. Teixeira é o presidente do Comitê Organizador Local da Copa 2014, que não libera informações transparentes sobre as operações financeiras da entidade.
Na rotina dos clubes profissionais filiados à CBF, o futebol tornou-se nos últimos anos um grande beneficiado dos cofres públicos.
Além de contar com recursos da Timemania, que destina dinheiro para cobrir um rombo de R$ 3 bilhões nas contas do fisco – a Lei de Incentivo Fiscal financia a formação de jogadores profissionais que, ao entrarem no mercado, enriquecem os cofres de entidades privadas.
Ministério do Esporte
Mais recentemente, até o Ministério do Esporte envolveu-se no assunto ao contratar uma empresa para promover o registro de torcedores. Em outro projeto, vai instalar circuito fechado de televisão em estádios privados para conter a violência.
Como se observa, o dinheiro público está financiando o futebol nacional, mas a transparência dessas ações, a partir do próprio Ministério do Esporte, é suspeita.
E as dúvidas crescem na medida em que cartolas, políticos e gestores governamentais se envolvem em torno dos assuntos da bola, cada um com seus objetivos específicos.
Assim, a partir dos escândalos internacionais, com repercussões internas junto à CBF, promotora da Copa do Mundo de 2014, e o envolvimento do Ministério do Esporte nas questões específicas de uma atividade particular e altamente rentável, não há mais como o Congresso Nacional se omitir.
É inadiável a investigação sobre tais ações, principalmente porque em seguida virão as Olimpíadas e aí começa outra história.
Por conta da Copa no Brasil, os Ministérios do Esporte, Turismo e Cultura já aplicaram, até agora, R$ 80 milhões em “projetos”.
Agora vai?
(*) Jornalista e cobre há mais de 20 anos os bastidores da política e economia do esporte, acompanhando a execução orçamentária do governo, a produção de leis e o uso de verbas estatais na área esportiva.
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