Luis Fernando Verissimo para O Estado de S.Paulo
Seguindo a velha regra que já ajudou a identificar tantos culpados, na ficção e na vida - pergunte sempre a quem mais interessa o crime - seria possível imaginar o próprio Sarkozy disfarçado de camareira entrando naquele quarto para tentar o Strauss-Kahn. Que, como se sabe, assedia sexualmente qualquer coisa com duas pernas. A ninguém aproveitou mais a desmoralização do provável candidato socialista à sua sucessão do que a Sarkozy. Mas as teorias conspiratórias sobre uma possível armadilha para o grande Kahn, que já eram improváveis, não resistiram às provas coletadas e não parece haver mais dúvidas (pelo menos no momento em que escrevo) de que a camareira foi forçada a fazer o que não queria, como tantos países emergentes constrangidos pelo FMI. E que o Sarkozy não estava por perto.
As multidões que protestam nas ruas da Espanha contra os políticos em geral e as medidas de austeridade do governo em particular (nos moldes das impostas pelo FMI a economias subdesenvolvidas e que o Strauss-Kahn criticava quando era do outro lado), como as manifestações recentes na Inglaterra e na França, são uma reação à proposta indecorosa de que a maioria se sacrifique para resolver uma crise da qual não é culpada. No caso do estouro das finanças que há dois anos reverbera pelo mundo, está claro quem são os culpados e a quem aproveita o crime. O capital financeiro não precisa sacrificar nada e ainda é subsidiado, e cria dificuldades para resolver as crises com dívidas incontroláveis que assolam a Espanha e outros países - com as quais os bancos também lucram.
Uma curiosidade liga as manifestações na Europa com as revoltas nos países árabes. Nos dois casos, pelo que se ouve, são as redes sociais que estão convocando e organizando os movimentos populares. Quando se esperava que o resultado da interligação do mundo por uma malha eletrônica fosse um enclausuramento geral - todo mundo preso à sua telinha - houve o contrário. A internet botou todo o mundo na rua
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