Edilberto Sena (*)
Entre tantas estórias de tragédias gregas, uma delas conta que certo general, antes de partir para a guerra, consultou a esfinge, uma estátua, tipo cartomante que adivinhava o futuro das pessoas. Ele indagou da esfinge se voltaria vivo da guerra. Resposta da esfinge: “irás voltar não morrerás na guerra” O general então foi tranqüilo, enfrentou os inimigos e foi morto. No retorno, um auxiliar do general
morto, que escapara com vida foi tomar satisfação com a esfinge por ter enganado seu valoroso general e ela respondeu: “ele não colocou a vírgula no lugar certo. O que eu lhe disse foi: irás voltar não, morrerás na guerra”.
Essa lenda vem hoje ao caso porque a Constituição Brasileira tem uma afirmação desse tipo, ao mencionar a necessidade de um plebiscito para criação de novos estados no país. Num de seus artigos está escrito que quem participa do plebiscito emancipatório é “a população diretamente interessada”. A questão é: qual população interessada? A do país todo?
A do Estado todo? Ou só as populações das regiões a serem emancipadas?
Depende de quem interpreta ou onde põe a vírgula, como diria a esfinge grega.
O senador Flexa Ribeiro, que quando ainda candidato, buscou muitos votos nas regiões de Carajás e do Oeste do Pará, porque é da região de Belém, não aceita a emancipação dos dois novos Estados. Como a decisão sobre o plebiscito depende ainda do Senado Federal, o tal Senador belemense fez uma proposta de esfinge grega: - que o plebiscito seja feito somente em todo o Estado do Pará e não no país todo,
interpretando que a população interessada na emancipação de dois novos Estados ou não, era a população do atual Estado do Pará. Isto é, o espertalhão senador atirou no gavião e acertou no bem-te-vi.
Enquanto os militantes do possível futuro Estado do Tapajós interpretam que a
“população diretamente interessada” é aquela da região a ser emancipada, o senadorzinho diz que deve ser a de todo o eleitorado do atual Pará. Desse modo, espera ele, que o eleitorado de Belém e arredores destruam o sonho dos eleitores dos dois novos possíveis Estados. Assim trabalham os políticos esfinge, nunca jogam limpo. Na época de campanha são amigos de todos. Depois, prevalecem seus interesses.
(*) Sacerdote e Diretor da Rádio Rural de Santarém (PA)
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