Ricardo Perrone (*)
Tudo começou quando Andrés Sanchez pediu ao então presidente da República que ajudasse o time de ambos a ter um estádio. Lula não viu mal nenhum. Convenceu até Juvenal Juvêncio de que meteria a colher só para que o Corinthians tivesse sua casa própria. Nada a ver com Copa.
A sugestão do presidente comoveu a Odebrecht. No Conselho Deliberativo corintiano, o projeto foi vendido como uma casa humilde.
Com Andrés e Ricardo Teixeira desfilando de novos melhores amigos de infância, ficou fácil prever que o Morumbi teria problemas para ser o palco da abertura do Mundial. A brincadeira de casinha virou coisa de gente grande quando finalmente o estádio do São Paulo saiu do mapa da Copa.
A arena basiquinha virou um projeto suntuoso para abrigar a abertura. Empresários amigos de Ricardo Teixeira e cartolas corintianos antes afirmavam ser fácil arrumar investidores e patrocinadores. Mas não apareceram com uma proposta concreta.
Odebrecht e Corinthians passaram a se estapear por causa do tamanho da conta. Lula, um dos pais da criança, foi chamado para tentar forçar o início das obras. Outra interferência que exige antiácido para ser digerida. Ao menos para quem examina o caso sem paixão clubística.
Depois do novo empurrão do ex-presidente, a largada foi marcada para a próxima terça, mas deve ser a adiada para o final do mês ou para o início de junho.
Claro. Apesar da intervenção de Lula ninguém quer pagar a conta. Enquanto isso, o jogo fica cada vez mais pesado. O ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, pressiona o Governo do Estado a ajudar financeiramente.
Curiosamente, uma ala da diretoria corintiana acusa o ministro de querer ver o governo do PSDB perder a abertura da Copa. Estranho. Poucas horas depois de pressionar numa reunião o governador Geraldo Alckmin para botar a mão no bolso, Orlando e Andrés participaram juntos de uma roda de samba. Prova de sintonia.
Nesse cenário, o monstro criado pelo presidente corintiano e por Lula segue descontrolado. Enquanto isso, gente graúda esfrega as mãos esperando a partida inaugural do Mundial acontecer em seu quintal.
Brasília foi pintada pelo Comitê Organizador como favorita. Mas Aécio Neves, futuro candidato a presidência e amigo do peito de Teixeira, quer o jogo em Belo Horizonte. Talvez, a pane paulistana e a briga entre BH e Brasília façam com que a fita da Copa seja cortada no Rio.
Não seria desagradável para o presidente da CBF e do comitê. Ele já defendeu publicamente que a cidade concentre eventos importantes do Mundial. Sem falar que o Maracanã, público e aparentemente sem um teto para gastos, já estará adequado para abertura. Ela será feita nos mesmos moldes da final, que é do Rio e ninguém tasca.
(*) Jornalista esportivo. Escreve para Folha de São Paulo
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