quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fim da lua de mel

Eliane Cantanhêde (*)

A "lua de mel" do governo Wilma Rousseff não durou um semestre inteiro. Apesar de haver, sim, boa vontade com o início do governo e reconhecimento à discrição e à seriedade da nova presidente, ninguém pode ignorar que o aumento vertiginoso do patrimônio de Antonio Palocci é de deixar qualquer um tonto, principalmente a própria Dilma, já que ele é, nada mais nada menos, chefe da Casa Civil e o ministro mais importante do governo. Como, aliás, foi também no início do governo Lula, até despencar do pedestal com a quebra de sigilo do caseiro Francenildo.

Relembrando, Palocci declarou bens de R$ 375 mil em 2006, incluindo uma única casa, no valor de R$ 56 mil. Cinco anos e um mandato de deputado federal depois, comprava uma empresa por R$ 882 mil e um apartamento de mais de 500 m2 em São Paulo por R$ 6,6 milhões. O ministro não é fraco, não.

Na avaliação do Palácio do Planalto, a informação, divulgada pela Folha no último domingo, afeta a posição do ministro, deixa dúvidas no ar e expõe o governo a constrangimentos, mas ainda é cedo para dizer que ele vá cair. Pelo contrário, há todo um esforço para manter Palocci. Desde que ele se explique. E, evidentemente, que não continuem saindo coisas cabeludas em jornais, revistas, tvs. É uma batalha minuto a minuto.

A maior contraofensiva pública do ministro, até agora, foi uma carta de sua assessoria a parlamentares atacando, em 13 itens, as acusações. Veja bem o verbo. Em vez de se defender, talvez porque a coisa seja mesmo indefensável, ele tratou de atacar.

Foi uma tática a la mensalão. Sem terem o que dizer, Lula partiu, e Palocci agora parte, para a velha tática do "todos fazem". Se Pedro Malan, Pérsio Arida, André Lara Rezende, do governo Fernando Henrique Cardoso, e até Mailson da Nóbrega, do distante governo José Sarney, saíram de postos chaves da área econômica e ficaram milionários, porque o Paloccinho paz e amor também não pode? E os parlamentares, vão falar o quê, se 200 e tantos deles têm negócios em indústrias, consultorias, empreendimentos rurais?

Curiosa é a posição dos partidos. Na base governista, a defesa ficou com o PMDB, incluindo aí o vice-presidente Michel Temer, enquanto o PT --partido de Palocci-- preferiu se preservar e observar do banco de reservas. Na oposição, líderes do PSDB, do DEM e do PPS se esfalfam para acionar a Procuradoria Geral da República, o Tesouro, a Receita, a Coafi, a Comissão de Finanças da Câmara, enquanto dois dos principais nomes nacionais tucanos ficam, ora, ora, em cima do muro.

José Serra, candidato derrotado por Dilma em 2010, minimizou o boom imobiliário de Palocci, meio na linha "deixem o homem trabalhar". Aécio Neves, provável candidato contra Dilma (ou Lula) em 2014, pede "serenidade" em tom ostensivamente governista e diz que não entra em processos de "desestabilização do governo". Tomara que Itamar Franco quebre essa corrente de bom mocismo calculado.

Cá pra nós, com uma oposição como essa, para que Dilma precisa de uma base aliada tão robusta?

(*) Jornalista, é colunista da Folha de São Paulo desde 1997

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