Bellini Tavares de Lima Neto (*)
Certas questões parecem ter sido formuladas não para que alguém as responda ou esclareça, mas apenas para que permaneçam no ar, esperando por uma resposta que nunca ninguém se dispõe a dar. Parecem se nutrir de si mesmas. Elas lembram a história do sujeito que adquiriu um “container” de peixes. Aproveitou um momento em que o tal “container” se achava com o preço em baixa e o arrematou. E, em seguida, individuo de sólida formação e larga experiência no mundo das finanças, tratou de revender o mesmo “container” de peixes, fazendo um lucro que o mercado financeiro conhece como “spread”. O novo comprador, por seu turno e também militante do mesmo segmento, logo tratou de passar adiante o produto acrescentando mais uma diferençazinha que o mesmo mercado financeiro seria capaz de, brasileiramente, chamar de “spreadzinho”. E assim o “container” foi passando de titularidade em titularidade, caracterizando uma corrente de compradores e vendedores à qual o mercado financeiro confere o nome de “string”. Eis que, em dado momento, um desavisado, tendo acabado de adquirir o “container” de peixes, resolveu abri-lo para poder provar do produto. E, para sua enorme surpresa, toda a mercadoria estava completamente deteriorada, apodrecida. O sujeito, então, foi imediatamente em busca do que lhe havia vendido e manifestou de maneira irada sua indignação. Ao que o vendedor, entre surpreso e paciente, explicou ao reclamante: “mas, meu amigo, esse “container” de peixe é para vender, não para comer”.
Essa historinha é muito conhecida no mundo corporativo e vem a calhar muito bem com certas questões que, como comentei acima, parecem ter sido formuladas para se manter como questões e não obter respostas. Questões dessa ordem acabam gerando verdadeiros conflitos de opinião, discussões altamente apaixonadas, algumas vezes levam até mesmo à troca de sopapos e safanões, sem falar no xingamento que corre de rédea solta, sem limites ou fronteiras. E tudo porque ninguém se dispõe a fornecer a única coisa plausível que uma questão deveria merecer: uma resposta. Uma dessas estranhas questões está diretamente relacionada ao conjunto da obra de dois governos federais em particular: o que durou de 1994 a 2002 e o que vigorou de 2002 a 2008. Ao primeiro se resolveu tachar de “herança maldita” ou, pelo menos, uma significativa facção da sociedade optou por essa qualificação. Há que se convir, no entanto, que a expressão é extremamente vaga. Ora, o que está contido nela? No que consistiu, afinal, essa herança maldita? A resposta, no entanto, não vem. E seria tão simples esclarecer. Basta que se faça um levantamento imparcial, neutro, desapaixonado, de tudo o que o governo desse período realizou. Sem juízo de valor, sem qualificações ou classificação. Apenas uma lista circunstanciada do que foi realizado no período. De posse de uma lista dessas seria possível a qualquer individuo bem intencionado tirar suas conclusões.
Exatamente no mesmo sentido permanece no ar uma outra questão que pode ser traduzida pela expressão “as obras e realizações do governo em vigor no período entre 2002 a 2008” Fala-se em profusão a respeito dessas obras e realizações, mas nunca se vai além da abstrata expressão. Afinal, no que consistiram essas obras? Concretamente falando, quais foram as realizações do governo nesse período de 2003 a 2008? Igualmente à situação anterior, a resposta não vem, se limita a repetir o mesmo jargão sem que se lhe explique o conteúdo. E seria tão simples esclarecer. Basta que se faça um levantamento imparcial, neutro, desapaixonado, de tudo o que o governo desse período realizou. Sem juízo de valor, sem qualificações ou classificação. Apenas uma lista circunstanciada do que foi realizado no período. De posse de uma lista dessas seria possível a qualquer individuo bem intencionado tirar suas conclusões.
Alguém já pensou que tremenda economia de energia vital se poderia fazer se, ao invés de se alimentar essa querela que não parece ter fim, a sociedade se desprendesse de falsos ideologismos sem fundamento e se dedicasse exclusivamente a avaliar de forma neutra o que foi que aconteceu nos últimos quase 20 anos? Uma avaliação honesta, despida de partidarismos, isenta de interesses pessoais, baseada exclusivamente na realidade, certamente daria todas as respostas que as tais questões irrespondíveis comportam. E assim, pronto! Com a vantagem que diante de fatos não há argumentos. Examinando os fatos, não haveria como ficar tentando construir um palavrório interminável e, ao mesmo tempo, completamente vazio. Seriam algumas questões a menos a confundir o espírito humano. Tirar questões do caminho é uma atitude sábia, producente, profilática. Quem mantém ranços guardados no fundo de baús envelhecidos e empedernidos, passa a vida patinando no mofo e jamais sai da esfera nebulosa em que se encontra. E, enquanto isso, criaturas isoladas se aproveitam da nebulosidade e se locupletam, tiram partido de tudo, se refestelam. E nós deixamos porque insistimos em lutar pela manutenção da questão em situação de carência de uma resposta.
Seria tão simples. A receita, então, é um primor de simplicidade. O único ingrediente é a honestidade de propósitos. Tudo se esclareceria e, então, aí sim, se poderia começar a discutir a construção de uma nação e não de um arremedo de país que cada vez mais tem cara de quintal de si mesmo. Como? O ingrediente está em falta? Ah, que pena!
(*) Advogado , morador em S. Bernardo do Campo (SPO).
Escreve para o site O Dia Nosso De Cada Dia - http: blcon.wordpress.com
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