Edilberto Sena (*)
Um dos assuntos que tem rolado nas conversas de vizinhos, palestras em escolas e encontros de políticos, nestes dias é a questão dos dois novos estados a serem surgidos a partir da emancipação do grande Estado do Pará. A Câmara federal já aprovou o direito ao plebiscito, o senado não deve demorar a concluir a aprovação do referido direito aos povos das duas regiões irem ao plebiscito.
Assim, tudo leva a crer que na Amazônia real, em vez de seis serão em breve, oito estados federados. Isso é bom ou não? Depende! Dirá o pescador.
O Pará não pode mais continuar assim, concentrando os recursos em Belém e administrando muito mal o interior do Estado. Seus atuais sete milhões e meio de habitantes precisam de melhor assistência do poder público, melhor distribuição das riquezas arrecadadas. Os povos do sul e oeste do Pará vivem abandonados pela capital e pelos políticos viciados em seu próprio proveito.
Quem usufrui das riquezas das duas regiões são as grandes empresas e seus prepostos. O número de 22 mil famílias no município de Santarém, que vivem dependentes da miséria do bolsa família é um indicador do grau de desigualdade social da região. Não que a maioria da população de Belém esteja em melhores condições.
Hoje, Manaus é muito mais importante para os habitantes do Oeste do Pará, do que a capital Belém. Falam que mais de 400 mil paraenses ajudam hoje a funcionar a Zona Franca de Manaus, sinal de que o desemprego aqui na região é calamidade. A criação dos novos estados pode ser esperança para suas populações, mas pode ser também grande ilusão.
O sonhado desenvolvimento humano é esperado, mas pode ser abortado. Esse é o risco que precisa ser evitado. Caso a constituição de cada um deles venha a ser apenas cópia da constituição de um dos ex novos estados de Tocantins, ou Amapá, não se terá nada de novo, apenas a criação de novas elites aproveitadoras dos recursos públicos, como são hoje as elites do grande Pará. Uma nova constituição cidadã precisa ser construída com participação firme da sociedade civil. Uma constituição com novas regras de convivência entre os municípios e a capital, entre a sociedade civil e os representantes públicos.
Outra solução para se ter um novo Estado sem os vícios dos atuais, é que se decida que nenhum político com mandato hoje, de vereador a senador, ou que já tenha assumido um cargo eletivo, possa ser candidato nas primeiras eleições. Novas lideranças forjadas nas associações de moradores, nas academias, nos centros onde o serviço social não tenha sido emprego, possam ser apresentados como candidatos a vereadores, deputados, prefeitos e outros cargos eletivos do novo Estado.
Impossível? Não! Pode ser difícil, mas só assim os que hoje lutam pela emancipação darão prova de sua abnegação de cidadania. Aqui vale a afirmação bíblica – “ não se pode colocar remendo em novo com pano velho. Para pano novo, remendo novo .
(*) Sacerdote e Diretor da Rádio Rural de Santarém (PA)
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