Algumas frases ou afirmativas conseguem levar qualquer um ao chamado processo de reflexão. Isso pode acontecer pelas mais variadas razões. A frase tem um cunho poético que faz qualquer um parar um pouco e disfarçar para que ninguém perceba a ameaça de uma lagrimazinha xereta querendo se intrometer no assunto. Fico imaginando como se sentiria alguém se ouvisse de outro alguém alguma coisa parecida com “eu sei que vou ter amar, por toda a minha vida eu vou te amar” para arrematar com “eu sei que vou chorar, a cada ausência tua eu vou chorar, mas cada volta tua há de apagar, o que essa ausência tua me causou”. Se o cabra ou a cabrita não amolecerem com isso, então não sei do que é feito o coração deles. Pode ser alguma coisa que faça a criatura tremer dentro da roupa de tanto sentimento patriótico e de gratidão. “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. Assim se expressou o Primeiro Ministro inglês Winston Churchill para enaltecer e exaltar a bravura dos pilotos da Força Aérea inglesa, a RAF, que combateu a força aérea nazista com muito menos recursos de que dispunham os alemães. Basta pensar no que teria acontecido com a Inglaterra e talvez com o mundo inteiro se o maluco austríaco travestido de estadista germânico tivesse conseguido arrasar a frota inglesa e invadisse também a ilha. Realmente, os inglesinhos foram porretas e não só os patrícios como nós outros ficamos devendo essa. As frases realmente têm força.
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, proferiu um autor francês que acabou pagando o preço por ter caído nas graças de uma turminha pouco afeita aos atalhos e vielas da reflexão. Foi o famoso Antoine de Saint-Exupery, escritor e aviador francês, autor de “O Pequeno Príncipe”, livro que povoou os sonhos filosóficos de uma geração, mas que acabou se tornando o preferido para nove entre dez candidatas a miss e, por isso, acabou virando sinônimo de pouco alento intelectual. Puro preconceito é claro, mas o fato é que essa frase causou muito transtorno aos que a levaram ao pé da letra. Cada vez que se tinha que terminar um namoro, lá vinha à parte contrária, com sutileza ou mais para praticante de vale-tudo, jogar na nossa cara o estrago que estávamos fazendo e a conseqüente responsabilidade. Era duro e acabava valendo porres e semanas de fossa. Já o presidente norte-americano Abraham Lincoln cultivou com maestria a arte de criar frases que fazem pensar: Exemplos? "Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. Alguém duvida disso? "Todos os homens nascem iguais, mas é a última vez que o serão". E disto? E alguém poderá contestar a imensa verdade que está contida na frase: “É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota, do que falar e acabar com a dúvida”. Já uma das mais famosas, apesar de inteligente e repleta de conteúdo filosófico, tem sido alvo de desafios constantes e contundentes, especialmente aqui pelas bandas do Planeta-Brasil: “Pode-se enganar todas as pessoas por algum tempo e algumas pessoas durante todo o tempo. Mas não se pode enganar todas as pessoas por todo o tempo”. Não sei, não. Aqui tenho as minhas dúvidas.
Existem, também, as frases destrambelhadas, aquelas que, seja por fruto de uma falta de conteúdo, seja até mesmo para que o autor possa mostrar uma erudição completamente falsa (tem gente que adora falar difícil para parecer sério), acabam se transformando em pérolas do despropósito. Um jogador de futebol, perguntado pelo repórter sobre o porquê de sua cidade natal estar-se tornando alvo de traficantes de drogas, saiu-se com a seguinte explicação: “É que lá, agora, tem muita gente jovem, estudantes, por causa da quantidade de faculdades que se criou. A minha cidade se tornou um grande ponto facultativo”. Seguiu-se um silêncio daqueles de derrubar qualquer repórter por mais experiente que seja. E para nós, torcedores, o destemido futebolista passou a ser conhecido como “o ponto”. “O “ponto” joga hoje ou tá na reserva?”.
O chanceler alemão Konrad Adenauer, que esteve no poder logo após o fim da segunda guerra mundial, celebrizou duas frases semelhantes, mas de conteúdo inquisidor e desafiante. Uma delas foi: “É uma pena que o limite da inteligência humana não seja proporcional ao da sua estupidez". A outra, quase um complemento ou um reforço da primeira, foi: "Há algo que Deus fez mal. A tudo impôs limites, menos à ignorância". E toda essa história de frases me ocorreu há poucos dias, depois de ler em um jornal uma observação que me deixou completamente em dúvida quanto à sua natureza e conteúdo histórico-filosófico. Seu autor ainda é anônimo, embora pareça ter todos os recursos para se tornar uma celebridade. A divulgação da frase é mais um serviço prestado pelas modernas ferramentas da informática. Não consegui gravar literalmente, mas se tratava de algo como: “o que é errado para alguns pode ser correto para outros”. Reconheço que, à primeira vista, a frase pode parecer banal ou ate mesmo um tanto óbvia. No entanto, se nos detivermos ao aspecto do conteúdo dualístico da afirmativa, poderemos começar a mergulhar na profundidade que nela está contida. Em especial se levar em consideração o contexto em que ela foi registrada. Como se disse há pouco, a preciosidade veio à luz graças ao milagre da modernidade: a internet. A mídia escrita só fez contribuir para que ganhasse a dimensão que realmente merece. Eis a manchete da noticia: “Donos de carrões põem na internet flagrantes de irresponsabilidade na rua - Motoristas ultrapassam todos os limites de velocidade nas principais vias da capital paulista e fazem questão de divulgar os vídeos.” Infelizmente para as gerações futuras, o autor de a frase lapidar, depois de se identificar como um dos donos dos tais carrões e personagem do enredo optou levado talvez pela modéstia, por não se dar mais a conhecer. Que pena!
(*) Advogado , morador em S. Bernardo do Campo (SPO).
Escreve para o site O Dia Nosso De Cada Dia - http: blcon.wordpress.com
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