segunda-feira, 18 de abril de 2011

Estou tão errado assim?

Antenor Pereira Giovannini (*)

Tenho certeza que administrar um município não é tarefa fácil, principalmente , quando o município é carente de verbas, instalado no meio de um estado enorme como é o Pará e com tantos problemas enraizados que vem aumentando a cada ano que passa. Certamente não deve ser fácil. Como também se entende não ser nada fácil administrar uma empresa, em vista do grau de complexidade dos mercados no mundo moderno. Obrigações tributárias, problemas trabalhistas, competitividade, qualidade de serviço, clientes com nível de exigência cada vez mais alto e um código do consumidor ao seu alcance, tudo isso e muito mais fazem árdua a tarefa de administrar uma empresa nos dias de hoje. Daí a necessidade da capacitação. .

Tal como é organizada uma empresa, cada secretaria do município é igual a um departamento com metas, obrigações, compromissos À frente de cada setor e para dar conta do desafio, a empresa coloca alguém com capacidade, conhecimento, experiência, visão administrativa. Esses indivíduos são os responsáveis por dar suficiente respaldo ao responsável pela empresa, presidente, diretor, acionista, No caso do município esse respaldo é dado ao Prefeito. Havendo cobrança de resultados, bem como treinamento e atualização constantes dos titulares de cada área, será possível medir o desempenho, o grau de eficiência, assim como detectar as ineficiências de gerenciamento e assim apura-la para que as metas sejam atingidas, os resultados sejam alcançados, os objetivos sejam cumpridos. Quando as cobranças não existem ou são relegadas a segundo plano, os erros vão acontecendo e se acumulando. Isso, em qualquer empresa privada, é algo primário e diretamente ligado à sobrevivência da organização. Quem assim age ou pratica, com certeza vai sucumbir no mercado e desaparecer.

Não há empresas sem padrões precisos de organização e regras claras de comportamentos.  Uma delas, por exemplo, se refere à possibilidade ou não de parentes trabalharem juntos e, em especial, que alguém tenha cargo de chefia sobre parentes diretos ou não. 
Trata-se de uma preocupação clara e necessária já que, diante de algum problema naquele departamento, não seja criado um impasse pelo fato de alguém em cargo de chefia ter parentes sob sua responsabilidade. A isso se dá o nome de ética. Não se trata de desconfiança, mas de uma estratégia de comportamento para evitar distúrbios e constrangimentos. Normas como essa compõem o chamado Código de Ética da empresa, ferramenta das mais valiosas para o bom andamento dos negócios e que, diferentemente do que muitos imaginam, tem efeitos extremamente positivos nos resultados econômico-financeiros de qualquer organização. Por mais estranho que possa parecer, andar na linha é mais barato do que andar pelo desvio. 
Como se disse, normalmente existe um documento, ao qual se dá o nome de Código de Ética, no qual são registradas as normas que norteiam o comportamento da empresa e seus integrantes, seja entre si, seja com o mundo externo. Manuais onde constam normas a serem cumpridas e obedecidas. No município normalmente existe um Plano Diretor e inserido nele um Código de Postura onde todos os assuntos inerentes à Administração pública do Município estão devidamente registrados de forma clara para que cada integrante do corpo de funcionários cumpra e siga, assim como para que o responsável pela área possa gerenciar isso tudo além, é claro, de também se submeter às regras. .

No nosso município de Santarém, contudo, não observamos isso. Plano Diretor e Código de Postura, de há muito cobrados, se existem devem estar enfiados em alguma gaveta porque o que mais se observa são descumprimentos de leis que deveriam ser básicas dentro do município. Nepotismo, tão popularmente divulgado pela imprensa e rejeitado pela sociedade, nem é levado em conta porque é o que mais temos na nossa administração. E a situação vai sendo levado como se tudo estivesse as mil maravilhas. Os problemas no Hospital Municipal vão se amontoando a ponto do MP obrigar para que haja mais médicos de plantão diante da grande falta desses profissionais. Quem deveria esclarecer não esclarece. É como se não tivesse ocorrido nada. Um fotógrafo amigo morre de dengue hemorrágica, e sabe-se de outros casos em tratamento no Hospital Regional , e o pior é que a cidade é a segunda no estado com índices dessa doença e o trabalho em cima disso é pífio. Nossos terrenos baldios continuam aumentando o lixo e a sujeira, propiciando condições de proliferação desse mosquito, mas nada é feito contra os proprietários, porque se volta ao problema da falta de um Código de Postura. Ruas começam a ser re-asfaltadas, mas as obras são interrompidas no meio do caminho e não há explicações e tampouco previsão de quando serão retomadas. Secretário deixa o cargo e em seu lugar coloca o filho como substituto numa demonstração que a coisa passa de pai para filho como se fosse uma monarquia, pouco importando se o príncipe herdeiro tem o mais básico preparo para a função. .

Dessa forma, a administração municipal é confusa, gerando insatisfações e demonstrando, o que é pior, falta de planejamento aliado a falta de conhecimento. É claro que administrar não é tarefa fácil, mas, se houvesse um mínimo de semelhança com a iniciativa privada séria, tudo seria diferente. Administração com metas claras e objetivas, propósitos condizentes com a natureza social da entidade cuja existência só se justifica se prestar serviços à comunidade, pessoas certas nos lugares certos e, acima de tudo, transparência, fariam uma revolução administrativa. Até mesmo com as verbas de que se dispõe hoje. Ninguém consegue viver gastando mais do que ganha. A Isso se concede o nome de planejamento. Seja em casa, seja na empresa, seja no município.

Será que estou tão errado assim?

(*) Aposentado, agora comerciante e morado em Santarém (PA)

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