sexta-feira, 29 de abril de 2011

Por ano, uma Belo Monte jogada fora

Por ano, SP joga fora uma Belo Monte em cogeração de energia

Folha de São Paulo

A indústria canavieira desperdiçou na última safra 32 milhões de toneladas de palhas, insumo --a exemplo do bagaço-- viável para o uso na cogeração de energia elétrica. Em São Paulo, principal polo da indústria sucroalcooleira brasileira, apenas 30% do bagaço virou energia elétrica na última safra.
O potencial de geração de energia com essas sobras, segundo o governo de São Paulo, seria suficiente para criar um parque de geração com capacidade de 3.800 MW, quase a energia assegurada de Belo Monte, no rio Xingu (PA), ou quase o mesmo que as duas usinas em construção no Rio Madeira (RO), Jirau e Santo Antônio.

O protocolo agroambiental, mecanismo a partir do qual avança o corte da cana crua (sem queima), está despejando por ano cerca de 12 toneladas de palha por hectare. Essa sobra ajuda a proteger o solo, mas em excesso pode virar lixo.
"Metade da palha jogada no solo se decompõe e é absorvida. Em apenas um ano, a deposição desse material não cria nenhum problema. Mas se isso se repetir por um longo tempo vamos ter problemas", diz Ricardo Viegas, coordenador do Projeto Ambiental Etanol Verde.

Palha
Segundo Bruno Covas, secretário de Meio Ambiente de São Paulo, o volume de palha despejada em parte dos 5 milhões de hectares ocupados por canaviais no Estado alcançará o impressionante volume de 70 milhões de toneladas em 2014.
Junto com o bagaço, essa palha pode gerar o equivalente a duas usinas Belo Monte. Nesses volumes, diz Covas, a palha deixa de ser insumo para solo e vira lixo. Em secas severas, essa palha pode virar combustível para queimadas.

A Secretaria de Meio Ambiente informou que o governo de São Paulo está discutindo fórmulas de incentivo econômico para destravar investimentos para cogeração e uso desse combustível hoje jogado fora.
"Hoje, o problema é econômico. Não há estímulo para investir no recolhimento da palha, e é isso que está sendo discutido", diz Covas.

Protocolo
Na safra passada, o corte mecanizado da cana alcançou 55,6% dos canaviais, ou 2,6 milhões de hectares. Mas, pela primeira vez desde o lançamento do protocolo, houve aumento da área de cana queimada.

Na safra 2009/2010, o setor canavieiro queimou 1,91 milhão de hectares. Na safra 2010/2011, a queima atingiu 2,10 milhões de hectares. Até 2009, o número só caía.

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