Eliane Cantanhêde (*)
Estamos assistindo um festival de maus exemplos que partem justamente de quem tem mais responsabilidade em dar bons exemplos para a opinião pública.
O mais recente é o do senador Roberto Requião (PMDB-PR), que se irritou com perguntas sobre sua aposentadoria como ex-governador do Paraná, arrancou o gravador de um jornalista, apagou a fita e ainda foi capaz de fazer um discurso da tribuna em que, em vez de pedir desculpas, disse que quis impedir que o repórter editasse sua entrevista.
Já imaginaram se os políticos, atletas, músicos, advogados, sindicalistas... decidissem seguir o exemplo?
E o presidente do Senado, José Sarney, teve a cara de pau de passar a mão na cabeça do colega e dizer que foi algo "passageiro", que não caracteriza um ataque à liberdade de trabalho e de imprensa. Não?!
Enquanto isso, o senador Renan Calheiros (PMDB), que renunciou à presidência do Senado não faz muito tempo, era nomeado para o... Conselho de Ética da Casa.
Na semana passada, foi a vez do também senador Aécio Neves (PSDB) dar um eloqüente mau exemplo, ao ser pego pela polícia dirigindo com a carteira de motorista vencida e se recusar a se submeter ao bafômetro.
Esquecer de conferir a data da carteira pode acontecer a qualquer um. Tomar uma cerveja e dirigir, também. Mas são erros e, se o senador errou, deveria abaixar a cabeça e assumir a responsabilidade e acatar a ordem da autoridade. É o mínimo que se pode esperar de um candidato potencial à Presidência da República. Certo?
Por fim, a diretora-geral da Polícia Rodoviária Federal, Maria Alice Nascimento Souza tem 27 pontos na carteira de motorista por faltas como excesso de velocidade e estacionamento proibido. Sua habilitação foi suspensa no ano passado e ela fingiu que não era com ela. Recebeu uma notificação em março, e novamente deu de ombros. Só acatou depois que a história foi parar no "Fantástico" da TV Globo.
Ok. Pessoas comuns têm multas, algumas estouram o limite. Mas a manda-chuva da Polícia Rodoviária descumprir seguidamente as leis de trânsito, dar de ombros para notificações e agora ficar sem habilitação e sujeita a fazer aquele cursinho básico para infratores?
É pra rir ou pra chorar?
(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo desde 1997
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