Eliane Cantanhêde (*)
Sem nenhum preconceito, até porque não sou nenhuma menininha, mas o fato é que a oposição envelheceu.
Deixou que Lula e o PT lhe roubassem os principais programas e bandeiras, ficou atordoada com os avanços sociais de Lula e não soube ir além, consome excesso de energia em disputas internas e, como disse o ex-presidente Itamar Franco à revista "Época", está com a bússola avariada, sem norte e sem saber para que lado o Leste fica.
Um dos problemas, segundo o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo para a revista "Interesse Nacional" antecipado pela Folha, é que a oposição tem de parar de perseguir a simpatia e o voto do que chamou de "povão" e também dos movimentos sociais tradicionais para passar a investir na nova classe C e na classe média ainda resistente ao petismo. Ele não disse, mas é como se dissesse, que ficar atrás dos beneficiados do Bolsa Família e de centrais e movimentos comprados por Lula seria como dar murro em ponta de faca.
Foi um deus-nos-acuda no PSDB, que vive tentando exorcizar o fantasma do elitismo, e no Dem e no PPS. Até o cordato senador Aécio Neves, candidato a candidato em 2014, discordou, lembrando que, em Minas, as classes C e D são tucanas.
Olha só a coincidência: Itamar e Fernando Henrique são octogenários (FHC faz 80 em junho) e são eles os provocadores, os que lançam idéias, críticas, debates. Como também fazem Roberto Freire, do PPS, que está a um ano dos 70, e Jarbas Vasconcelos, da dissidência do PMDB, que já passou disso.
Uma boa pergunta, portanto, é: cadê os jovens da oposição? Afora um ou outro, como o deputado ACM Neto, do DEM, que está se esfalfando, onde estão os outros? Fazendo o quê? Defendendo o quê?
O PT reclamava muito de como era duro ser oposição, mas chorava de barriga cheia. Na verdade, nunca foi tão duro ser oposição como agora. E, com o PSD do Kassab comendo pelas bordas, sempre pode piorar.
(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo desde 1997
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