Ricardo Noblat (*)
Então fica combinado assim: nesta quarta-feira, na companhia do filho Vinícius de 13 anos, de dois assessores e dos colegas Romário (PSB-RJ) e Eduardo Gomes (PSDB-TO), embarca para Madri o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS). Irá assistir ao jogo Real Madri x Barcelona.
Quem pagará a conta do passeio? Nós, contribuintes.
Foi Romário quem convenceu Marco Maia a viajar. Você votou em Romário? Pois é... Ele preferiu bater bola na Barra da Tijuca a participar da primeira sessão da Câmara, este ano.
Outro dia, Romário profetizou ao comentar seu desempenho como deputado: "Ainda ouvirão falar muito de mim". O que ouvimos até agora não foi bom.
Torcedor do Grêmio, Marco Maia ouviu Romário falar que seria imperdível o jogo Real Madri x Barcelona pela 32ª rodada do Campeonato Espanhol. Romário provou na pele a rivalidade que existe entre os dois times quando jogou pelo Barcelona.
Marco Maia comprou a sugestão de Romário. Mas deputado algum pode viajar para o exterior à custa da Câmara sem que seja em missão oficial. E sem o conhecimento prévio dos seus pares. Nem mesmo aquele que pode assumir eventualmente a presidência da República caso o vice não possa.
Foi dado conhecimento da viagem aos demais deputados. Nem se coçaram. Quanto ao caráter oficial da missão, deu-se um jeito.
A Embaixada da Espanha no Brasil soube do interesse de Marco Maia em visitar o parlamento espanhol entre os próximos dias 14 e 17 – nem antes e nem depois. E, se possível, em se reunir com o presidente da Câmara dos Deputados de lá, Jose Bono Martinez, do Partido Socialista Espanhol (PSOL). O PT e o PSOL são partidos irmãos. A embaixada fez o que lhe cabia.
Real Madri e Barcelona jogarão no dia 16, sábado.
Marco Maia e comitiva deixarão Brasília no dia 13 com destino a Lisboa. De lá voarão para Madri, desembarcando às 9h do dia 14 no aeroporto de Barajas. Voltarão ao Brasil na noite do dia 17, um domingo.
A Espanha atravessa grave crise econômica a menos de um ano da eleição que renovará os 350 assentos do Congresso dos Deputados (Câmara) e os 208 da Câmara Alta (Senado). O PSOL está no poder há oito anos. Deve perdê-lo. O primeiro-ministro José Luiz Rodríguez Zapatero desistiu de disputar mais um mandato. Sua popularidade está ladeira à baixo.
José Bono Martinez concordou em receber Marco Maia e comitiva no domingo dia 17, quando a Câmara não funciona. No sábado, dia do jogo, também não funciona.
Marco Maia visitará a Câmara no dia 14 ou 15. Os deputados espanhóis estão ocupados com as eleições municipais e regionais de maio. Mas sempre haverá alguns na cidade.
Com eles - e também com José Bono -, Marco Maia quer bater um papo sobre projetos de energia eólica e as restrições à entrada de brasileiros na Espanha.
Empresários espanhóis que investem em energia eólica no Brasil estão sempre por aqui até quando não são chamados. Imagine se fossem!
Nem mesmo o Itamaraty, depois de dois anos de trabalho duro, dobrou a resistência espanhola à entrada de brasileiros no país. De 2006 para cá, triplicou o número de brasileiros que migraram para a Espanha, parte deles de forma ilegal.
Sim, Marco Maia aproveitará a estadia em Madri para ser entrevistado pelo jornal “El País”.
O jornal tem correspondente no Brasil. Caso julgasse importante entrevistar Marco Maia o faria daqui mesmo. Daqui ou de lá poderia entrevistá-lo via Skype. Mas se o deputado prefere ir bater na porta do jornal... Problema dele.
Problema nosso também, que toleramos transgressões, digamos assim, “menores”. Pecadilhos...
Protestos? Indignação? Só na internet. Uma vez, Lula presidente, filhos dele, acompanhados de amigos, pegaram carona no avião presidencial de São Paulo para Brasília. Depois foram se divertir no Lago Paranoá a bordo da lancha presidencial.
Bobagem, não?
O piloto de Dilma infringiu há duas semanas as mais elementares regras de segurança dando carona a uma amiga no avião presidencial. Dilma estava no avião.
Outra bobagem!
Em Cádiz, a uma hora de vôo de Madri, Lula receberá na próxima sexta-feira o Prêmio Liberdade Cortes de Cádiz, criado pela prefeitura local.
Quem sabe Marco Maia e comitiva não aparecem por lá para prestigiar o companheiro?
Dá para ir e voltar sem correr o risco de perder o jogo no dia seguinte.
(*) Jornalista e escreve o Blog do Noblat para O Globo do Rio de Janeiro
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