Eliane Cantanhêde (*)
Como uma das raras jornalistas que defende há anos a entrada do Exército na guerra urbana do Rio, peço licença para andar agora no sentido contrário.
Uma coisa é as Forças Armadas combaterem extraordinariamente uma situação extraordinária. Outra é virar uma ação ordinária, que pode durar sete meses, um ano ou até a Copa de 2014, quem sabe?
Este é o país da CPMF, contribuição provisória no nome e na sigla, mas eternizada pelos interesses de ocasião e para cobrir buracos de orçamentos frouxos. Acabou numa votação surpresa do Congresso. Pode voltar nas asas da maioria de Lula-Dilma no Congresso de 2011.
Assim, a missão de Exército, Marinha e Aeronáutica no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro também tende a virar a MMPRJ - Missão Militar Provisória no Rio de Janeiro, aquela que não acaba nunca.
É um passo para transformar militares em policiais, com tudo o que isso significa de preocupante, até pela "contaminação" no contato com bandidos comuns e traficantes dos mais variados níveis da hierarquia da criminalidade fluminense.
Há que se reconhecer que o sucesso da operação até aqui se deve em muito à presença militar. As quadrilhas estão armadas até os dentes, e só não houve um banho de sangue de todos os lados, incluindo a população civil, porque os blindados da Marinha garantiram a entrada e a ocupação do terreno. E as tropas fardadas foram decisivas para afugentar os líderes.
Daí em diante, a permanência das três Forças não só pode como principalmente deve gerar um bom debate. Dos 150 mil homens do Exército no país, por exemplo, só 10% tiveram treinamento prático de ação urbana no Haiti.
Um sistema de rodízio, como quer o Exército para a ampliação da ação no Rio, até ajuda. Mas é paliativo.
O risco real é as tropas se instalarem e nunca mais saírem.
Ou ele deixa de ser Exército, ou o Brasil vira uma Colômbia?
(*) Jornalista e colunista da Folha de São Paulo desde 1997.
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