domingo, 5 de dezembro de 2010

Outra carta da Dorinha

Luiz Fernando Verissimo

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha diz que só Deus, que é como ela chama o Pitanguy, sabe a sua idade, mas nega que tenha participado da Coluna Prestes como estagiária. Nunca deixou de se interessar por política, no entanto.

Ela e seu grupo de pressão, as Socialaites Socialistas, lutam pela implantação no Brasil no socialismo soviético na sua etapa mais avançada, que é a volta ao tzarismo, e tem estado presente em todos os principais momentos da nacionalidade, nos últimos anos.

Dorinha estava com Jânio Quadros na sua última noite em Brasília e foi ela que persuadiu o presidente, que queria fazer algo espetacular para terminar a noite, a renunciar em vez de subir no mastro da bandeira da Esplanada só de cuecas.

Ela e algumas das suas companheiras — Tatiana “Tati” Bitati, Violeta “Vi” Scosa, Kiki “Ki” Coisa e outras — só não foram ao palácio para defender o Jango no golpe de 64 porque não conseguiram decidir o que usar.

Dorinha ainda tem o bilhete que recebeu do Fernando Henrique pedindo que ela queimasse suas cartas e esquecesse tudo que ele lhe tinha escrito depois daquele fim de semana em Guarapari. E etc. e etc.

Por isso Dorinha não acha certo que, justamente agora, quando alguém do mesmo gênero chega à Presidência da República, não se recorra às Socialaites Socialistas para preencher cargos no governo. Ela mesma diz que está com seu tailleur pronto para servir, só esperando que a Dilma...

Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta chegou, como sempre, escrita em papel lilás com tinta púrpura e perfumado com “Mange Moi”, que foi condenado pelo Vaticano em recente homilia.

"Caríssimo! Beijos úmidos. Estamos em campanha por cargos no Ministério da Dilma. Conhecemos nossos competidores, os homens, e principalmente essa variedade particularmente insidiosa de homens chamada PMDB. Mas não desanimaremos. Iremos à luta e já escolhemos as armas: confronto de ideias e, se a coisa engrossar, saltos de sapato. O fato de ter apoiado a Dilma não dá ao PMDB direito à maioria dos cargos. Nós também apoiamos a Dilma. Pouca gente sabe que fui eu que atirei aquela bola de algodão na testa que fez o Serra desmaiar. Isso não vale um ministério? O que o Sarney tem que nós não temos? O bigode, certo, mas o que mais? Chegou a hora das mulheres, e a Dilma sabe o meu telefone. Da tua esperançosa Dorinha.”

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