domingo, 14 de novembro de 2010

Futebol, políticos e empreiteiras, tudo a ver

José Cruz (*)

O Tribunal Superior Eleitoral já exibe os doadores de campanha da recente eleição.
Dos sete estados que têm prestação de contas na rede, R$ 139 milhões das campanhas vieram de empreiteira.
Num país recheado de obras para a Copa 2014, faz sentido. 
A recompensa – ou recuperação da doação – vem na conta superfaturada.
A OAS, uma das mais presentes nos estádios, Brasil afora – como a reforma do Maracanã – participou com R$ 4,5 milhões. Desse total, R$ 1 milhão foi para a reeleição do governador Sérgio Cabral.
A Camargo Corrêa, outra gigante da construção civil, doou R$ 8,6 milhões.

Empenho
Em Brasília, o governador do Distrito Federal, Rogério Rosso, questionou a Fifa sobre a decisão de escolher São Paulo para o jogo de abertura da Copa do Mundo.

Rosso, um inexperiente
Rosso atropelou o diálogo político-esportivo e ignorou o poderoso chefão da CBF, Ricardo Teixeira. Com isso elimina, de vez, Brasília do jogo inaugural da Copa. Ainda bem.
Mas, por que esse governador tem tanto interesse em construtir um estádio para 70 mil pessoas e aqui realizar a abertura da Copa 2014?
A 45 dias de encerrar seu mandato tampão, o que move Rosso a uma causa que será dor de cabeça para o próximo governo?

A explicação
Rogério Rosso, cria de Joaquim Roriz (argh!) aprendeu a lição básica: estar ao lado do futebol, dos cartolas etc rende votos. Melhor: rende dinheiro. Muito dinheiro.
E como isso ocorre? Simples: faz o jogo das empreiteiras e fica bem na fita.
É por isso que Rogério Rosso quer um estádio para 70 mil pessoas, numa cidade sem clube expressivo e que promove um campeonato distrital horroroso e, com licença, “pavoroso de ruim”, com 100 gatos pingados num jogo de domingo.

Como dizia o repórter Roberto Naves, meu colega de redação nos bons tempos em que estávamos no Correio Braziliense:
“O Campeonato Candango não tem público, tem testemunhas...”

Entenderam o motivo de tanto ardor de Rogério Rosso?
Passará a pesada conta de R$ 750 milhões da obra do Mané Garrincha para o próximo governo pagar – com nosso dinheiro, claro – e fará média com as empreiteiras para a eleição de 2014, quando ele deverá se candidatar ao GDF.

Tô nem aí
Na sexta-feira, voltei a conversar com o promotor de Defesa do Patrimônio Público do Distrito Federal, Ivaldo Lemos Jr.
Ele havia questionado o GDF sobre a obra do Mané Garrincha para 70 mil pessoas, sendo que o jogo de abertura da Copa será em São Paulo.
Tratou do assunto pessoalmente, mas nunca recebeu resposta do Senhor Rosso. Pediu para que o governador designasse um representante a fim de dialogar com a Promotoria sobre o assunto. Nada. Silêncio.
Ou seja, esse governador “ad hoc” sequer respeita os questionamentos das autoridades do estado que dirige.
"Tá nem aí”, como se diz, demonstrando que o poder que ostenta é supremo. Ainda bem que já está de saída.
E já vai tarde, pois encerrará o mais triste período da ainda recente história do Distrito Federal, que teve em José Roberto Arruda a imagem negativa de gestor corrupto, tanto no Legislativo como no Executivo.

Doações
"O maior partido do país foi o recordista de arrecadação para a campanha eleitoral deste ano. O PMDB conseguiu coletar a cifra de R$ 465,6 milhões. Cerca de 920 candidatos peemedebistas foram agraciados com a verba".

(*) Jornalista e cobre há mais de 20 anos os bastidores da política e economia do esporte, acompanhando a execução orçamentária do governo, a produção de leis e o uso de verbas estatais na área esportiva.

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