Erik L. Jennings Simões (*) para o Blog do Pajú (http://www.paju.net.br/)
O novo prédio do Hospital Municipal de Santarém construído para realizar os atendimentos de urgência e emergência foi inaugurado às vésperas do segundo turno das eleições majoritárias. A obra esperada por todos como um marco da melhoria da assistência a saúde da população de Santarém e região já nascia com aquele clima de obra com interesses puramente eleitoral. Correria de última hora e vários materiais e equipamentos emprestados do Hospital Regional foram rapidamente arrumados no novo prédio, para se inaugurar de qualquer forma, pois antes mesmo de nascer o novo pronto-socorro já tinha sua primeira árdua missão de Salvar: tentar reeleger a governadora. Sua primeira missão fracassou. O pior, continua fracassando na dura realidade de salvar aqueles que realmente precisam, dia após dia.
O prédio é amplo, moderno, bem iluminado e o mais importante: novo! Porém, iniciou os trabalhos sem planejamento e sem a preocupação com a peça mais importante na prestação de assistência a saúde: os recursos humanos. O mais grave, o prédio novo abriga os velhos vícios de gestão, de infra-estrutura e de equipe médica e de enfermagem.
GESTÃO
Os vícios da gestão dos recursos são caracterizados pelo descontrole do que se compra e do que se gasta no hospital. A lista padrão de medicamentos não é seguida e muito menos atualizada de tempos em tempos. Pode-se notar a falta crônica de medicações como dipirona, decadron, furosemide… E outros medicamentos básicos e baratos que de maneira alguma podem carecer um pronto-socorro. Não existe um controle de estoque em uso e estoque mínimo de medicação. Quando falta, compra-se ou empresta-se.
Os critérios para remuneração de equipes também não são claros, levando ao desprestígio de uns e favorecimentos de outros, sem levar em consideração a eficiência e resolutividade. A gestão ainda atua com a velha prática de punir os que criticam e favorecer os que concordam com tudo. Inclusive a própria gestão é punida ou favorecida, de acordo com as relações políticas internas do governo. Até hoje existe o processo de “fritura” de secretários. Ou seja, às vezes o recurso existe, mas alguém mais acima não libera para justamente prejudicar o gestor. No final, quem sente é a população.
O hospital municipal não é uma unidade orçamentária, sendo tudo centralizado na secretaria de saúde do município. A figura do diretor técnico do hospital só é acionada somente para apagar incêndios, mas não tem liberdade orçamentária para resolver os problemas que estão ali, em sua frente. No final, a desculpa que os recursos são insuficientes não justifica a tamanha falta de condições básicas para assistir alguém doente. Na semana passada, vários leitos da UTI foram interditados pelos médicos, pois não havia remédio para sedar os pacientes entubados.
A gestão comete um grande engano, quando não aproveitou a chegada do Hospital regional, para fazer um bom serviço de urgência e emergência. Ao contrário de fortalecer os serviços de urgência e emergência, o hospital municipal manda cada vez mais, para o regional, os casos que seria de sua competência resolver.
INFRA-ESTRUTURA
A infra-estrutura do novo prédio não contempla o fornecimento contínuo e adequado de oxigênio para funcionar os modernos respiradores que foram adquiridos para a unidade de graves. Até o momento, tem acontecido a velha cena (inadmissível) do familiar bombear manualmente ar e oxigênio para o seu paciente entubado, hora após hora. Além de humanamente humilhante a cena é de uma ineficiência tremenda. Ora se dá demais, ora se dá de menos oxigênio. Já existe queixa no Ministério público de óbito que ocorreu por esta situação.
Os pacientes ficam em salões abertos, sem divisórias efetivas, que nem hospital de campanha, e o trabalho médico é realizado sem nenhuma privacidade para ambos. O novo prédio não dispõe de uma agência transfusional ( banco de sangue) dentro do hospital. O Hemopa é eficiente, mas necessita de tempo precioso para chegar ao hospital, colher a amostra de sangue, ir ao hemocentro e voltar ao hospital novamente com o sangue. Várias vezes o sangue chega só final da cirurgia, comprometendo o resultado.
O centro cirúrgico continua com instrumentais obsoletos, velhos, alguns ainda do tempo do antigo Sesp. Tem cirurgião reclamando que o porta-agulha não segura coisa alguma na hora de dar um ponto. E se esse ponto for fundamental para parar um sangramento, quem será o maior prejudicado?
MÉDICOS, ENFERMAGEM E TÉCNICOS
Os médicos e enfermeiros, em sua maioria não são treinados para atenderem urgência e emergência. Todos são capacitados, com títulos, currículos, formação acadêmica etc. Mas não têm TREINAMENTO. Estar e ser capacitado é diferente de estar TREINADO. O novo prédio não treinou ninguém. Não existe educação continuada para médicos e enfermeiros. As condutas adotadas no prédio novo são as antigas e muitas vezes ineficientes do prédio velho. Além de tudo, o corpo clínico (os médicos) está desagregado, sem liderança e preso a salários e outros compromissos que os impede de exercerem um direito e um dever de médico, que é denunciar as péssimas condições de trabalho a que estão sujeitos. Até agora nada fizeram para mudar esta situação.
O governo atual tem o mérito de ter tido a iniciativa de construir um novo prédio para pronto-socorro, mas não está tendo a responsabilidade de torná-lo eficiente e realmente novo em todos os sentidos. Saúde não se faz só com prédios e máquinas, mas principalmente com pessoas treinadas e comprometidas em cuidar. Por enquanto, o novo pronto-socorro é apenas um prédio novo, que abriga velhos vícios, muito sofrimento e perdas de vidas que poderiam ter sido evitadas.
(*) Mèdico residente em Santarém
Esse Eric não sabe se é médico ou politico. O problema de saúde pública é nacional e parece que êle só ve erro em Santarém. Se enxerga Eric
ResponderExcluirAntenor o Eric tem razao a coisa no HM é absurda. Quem precisar de usar aquilo com certeza as chances de morrer são grandes .
ResponderExcluirFaça uma visita noturna de preferencia pela madrugada e assiste o que é desespero.
Anônimo das 14,30 posso concordar que o problema de saúde seja nacional, mas o Dr Eric atua aqui em nossa região e tem todas as condições de expor o problema que se observa por aqui. Pelo fato dele expor uma situação não significa que ele esteja querendo ser politico e pelo que sei já foi convidado e sempre negou o que concordo.
ResponderExcluirNada demais.
Rabiscos do Antenor