sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Guerra no Rio (3)

Antenor Pereira Giovannini (*)

Quem sou eu para discutir política pública e morando tão distante, querer palpitar nos problemas dessa cidade do Rio de Janeiro, tão linda e tão maravilhosa que tive o privilégio de morar por 2 anos em outros tempos, entre 1972/1973, primeiro na Voluntários da Pátria em Botafogo, e depois na Marechal Trompowiski na Tijuca bem no caminho para praia da Barra, aquela altura ainda não tão explorada como hoje.

Outros tempos porque na época cheguei a levar um funcionário da fábrica de Nova Iguaçu até a Rocinha onde tinha parentes e cheguei a comer uns petiscos numa de suas tabernas e ainda curtindo uma roda de samba. Sem qualquer problema ou tipo de ameaça. Hoje outros tempos apesar da grande maioria dos moradores nessas inúmeras favelas serem trabalhadores e que não tiveram a chance de alçar melhores vôos na vida. Se o governo se fizesse presente desde aquela época, certamente essa tranqüilidade persistiria, porém deram espaço ao tráfico e este tomou conta e praticamente mantém o morro com alimentação, remédios, material escolar e certamente essa troca vira ser refém de algo que gera muito dinheiro e poder, e quem não aceita, morre. . Os governos foram subservientes e hoje se vêem à mercê desses marginais. O exemplo dos morros cariocas é tal qual a Amazônia. Lá o trafico substituiu aos governos e aqui as ONGs fizeram esse papel e dominam toda a região e certamente impedindo qualquer ação que eventualmente possa prejudicá-los em seus objetivos, inclusive de sobrevivência financeira. Tal qual o tráfico.

O que intriga no caso do Rio de Janeiro a leigos como eu, é como se pode ser tão incompetente, omisso, ou sei lá até cúmplice de uma situação que se observa que o morro não consegue produzir ou industrializar nada, Tudo vem de fora.

Senão vejamos: numa dessas últimas investidas da Policia foram apreendidas perto de 2 toneladas de maconha. Alguém faz idéia o que são 2 mil quilos de um produto? Mas, o detalhe está que a maconha não é plantada no morro, pode até ser refinada, preparada, mas, não plantada. Como isso conseguiu chegar sem qualquer conhecimento de ninguém?
Sem qualquer conhecimento do serviço de inteligência das polícias? Não sendo o primeiro caso de apreensão desse material, porque ainda não foram tomadas ações eficientes para cortar esse trânsito, esse elo que faz com que esse material suba.

Outra pergunta sem resposta: os noticiários dão conta que a policia do Rio de Janeiro em todas as operações realizadas no ano de 2010, somente em 2010, apreendeu mais de 5 mil armas de todos os tipos e calibres. Ou seja, quase 500 armas por mês. Há de se convir que se trata de número assustador. De onde vem? Quem compra? Aonde compram? Como é transportado? São perguntas básicas que sempre ficam sem respostas ou então respostas do tipo:” Vem do Paraguai”. Mas, sim vem do Paraguai e como conseguem chegar até ao Rio de Janeiro passando por tantas estradas federais, por tantas fronteiras, como é possível não ter facilitações para que os serviços de inteligência não consigam rastrear tais aquisições.

Certamente não é aquele elemento de chinelo de dedos, camiseta regata, calção caindo pela metade da bunda e que é pego com um fuzil, uma metralhadora, com uma granada, com um porta-foguete, com uma escopeta, enfim, com uma arma nas mãos que foi até o Paraguai e trouxe na mochila.

Não é possível não se acreditar que haja gente graúda envolvida que anda até de paletó e gravata pelo centro do Rio de Janeiro que facilite e coordene toda essa engrenagem de angariar recursos, comprar, fazer o pagamento e principalmente coordenar a logística para que isso chegue junto a essas comunidades. Seria ingenuidade demais pensar que atacando os traficantes, encurralando as gangues irão exterminar sem chegar aos verdadeiros chefes.

Pelo menos é o que pensa alguém que se penaliza com o povo carioca e se coloca no lugar dessas pessoas que acordam angustiadas e apavoradas, isso se conseguirem dormir, conscientes que nem dentro de suas casas estão seguras.

E o nosso governo federal pensando apenas na repercussão mundial, o que vão achar, o que pode colocar em risco Olimpíadas, Mundial de Futebol, etc., quando deveria pensar exatamente antes de tudo em todo esse contingente de pessoas que moram nessas comunidades em aparelhar melhor todas as nossas policias, remunerar melhor seus integrantes, patrulhar de forma eficaz nossas fronteiras, e nossos deputados e senadores trabalharem uma vez pelo povo e modificarem em caráter de urgência nossa legislação penal fazendo com que tais elementos sofressem penas duras, sem privilégios, sem regalias, em presídios com celas individuais e sem comunicação exterior e com detalhe tendo que trabalhar para se auto sustentarem e não fazendo com que esse mesmo povo que sofre todas as ameaças ainda seja obrigado a pagar através de impostos a comida e o sono desse bando de vagabundos e párias da sociedade .

(*) Aposentado e agora comerciante morador em Santarém (PA)

Um comentário:

  1. Pedro Nunes-Rio de Janeiro26/11/10 17:55

    Sr Antenor - Sou de Niterói mas vivo aqui ha mais de 45 anos. Moro na Tijuca e nunca imaginei viver momentos como estamos passando e assistindo coisas bem perto de nossas casas. O espaço é pequeno para tentar mostrar todos os erros que se observa em nossa politica de combate ao tráfrico. Essas unidades que estão começando a ser instaladas no morro já foram um grande passo e talvez iniba a ação dos miliantes, sente-se que demoraram demais para serem instaladas. Vamos ver se essa ação usando Marinha e Exército seja realizada até que consiga que todos os morros estejam protegidos pela Policia como deve ser e não pelos traficantes. Mas, tenha certeza de uma coisa todos os cidadãos fazem as mesmas perguntas que o senhor levantou e nao se obtem respostas adequadas e principalmente ações que impeçam que esse armamento pesado (e põe pesado nisso) chegue nos morros. Nossos politicos são o que tem de pior porque nada fazem. Eles deveriam ficar no meio do fogo cruzado para quem sabe algum deles acordar e agir em prol do povo e não fazendo lei para bandido usufruir.
    Nosso Cristo irá abrir de novos os braços e abraçar nossa cidade . Tenha certeza ela merece.

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