Edilberto Sena (*)
Quem te viu e quem te vê, oh! Fordlândia só tem a lamentar. Em 1928 era a atração total para tantos jovens que precisavam trabalhar e ganhar dinheiro na região do rio tapajós. Algum sobrevivente daquela época, se ainda existe, deve falar saudoso - ah! Naquele tempo... Fordlândia era mais moderna que Santarém, tinha tudo e não faltava nada. Aqueles que já se foram, devem ter contado a seus netos que hoje tentam celebrar a festa dos 82 anos daquilo que foi e daquilo que ainda é da vila querida.
Vivem da memória do que seus pais lhes contaram - “meus filhos, em 1930 em Fordlândia havia trem e serraria nova, havia água pura encanada direto do rio Tapajós, havia telefone e cinema, havia e havia, que tempo bom, mesmo quando oito anos depois os gringos se mandaram para Belterra, nossa Fordlândia ainda era legal, havia escola boa para vocês meus filhos”. Assim devem ter contado os primeiros empregados da "Companhia", como se dizia na época.
O gringo destruiu imensa floresta e plantou seringal, depois foi embora e entregou ao governo brasileiro, que não teve tanto interesse e finalmente Fordlândia adquiriu alforria tornando-se distrito do Município de Aveiro, saiu do céu para o purgatório. Hoje é o que é, de um lado permanecem os restos mortais do que foi o tempo da fartura e surge uma nova Fordlândia, independente, pobre mas com novas gerações de filhos e filhas que ainda amam sua terra e que se orgulham e fazem festa, mesmo distantes mas conscientes de que ali, à margem do belo rio Tapajós estão enterrados seus cordões umbilicais.
Agora, os filhos de Fordlândia, como os filhos de Aveiro, de Itaituba, Belterra, Santarém e de todo a Tapajônia precisam olhar o passado, se unir no presente, porque querem destruir o Rio Tapajós, seus povos para transformar as águas em mercadoria energética. Se os filhos da beira do rio de um lado e de outro, de Pimental a Alter do Chão, de Vila Raiol a Vila Franca, cruzarem os braços, no futuro só terão a recordar o que foi Fordlândia, Aveiro, Itaituba e o Tapajós! E o que dirão os descendentes desta geração?
(*) Sacerdote e Diretor da Rádio Rural de Santarém (PA)
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