Cristiane Celina (*)
A agricultura familiar passa por um momento importante de transição: transformar a agricultura convencional, esse atual modelo de produção agroquímica de larga escala e de monoculturas, com maciça destruição do meio ambiente apenas para atender aos interesses privados de alguns setores que buscam o lucro imediato a qualquer custo, em uma agricultura ecologicamente correta, realizando desenvolvimento rural sustentável, adotando os princípios da agroecologia, baseando-se em estratégias e políticas públicas voltadas a uma maior responsabilidade social e econômica no interagir do homem com o meio ambiente.
A chamada “Revolução Verde”, termo que surgiu em 1970, foi um amplo programa idealizado para aumentar a produção agrícola no mundo, por meio de melhorias genéticas em sementes, uso intensivo de insumos industriais (fertilizantes e agrotóxicos), mecanização da lavoura e diminuição do custo de manejo. Junto a esses “pacotes inovadores” veio também vasta destruição ambiental: empobrecimento e erosão dos solos, pelo uso excessivo de adubos e pesticidas, poluição e assoreamento dos rios e barragens, contaminação das águas superficiais e lençóis freáticos e a presença de contaminantes químicos em nossa cadeia alimentar, ou seja, estamos envenenando nossa própria comida e causando danos à nossa saúde, pois é fato que há várias pesquisas desenvolvidas que demonstram a relação entre conta minação por agrotóxicos e inúmeros tipos de doenças (câncer de mama, de próstata, de estômago, má formação fetal, etc). De fato houve um aumento considerável na produção de alimentos.
No entanto, o problema da fome no mundo ainda não foi solucionado, pois a produção dos alimentos nos países em desenvolvimento é destinada, principalmente, a países ricos industrializados, como Estados Unidos, Japão e Países da União Européia.
A agroecologia mais do que simples manejo ecologicamente responsável dos recursos naturais, constitui-se em um vasto campo do conhecimento científico que, partindo de um enfoque holístico e de uma abordagem sistêmica, pretende contribuir para que as sociedades possam redirecionar o intercâmbio entre o homem e a natureza, de forma que possamos integrar os saber es populares dos agricultores com os conhecimentos tecnológicos e científicos, permitindo a compreensão, análise e crítica do atual modelo convencional de agricultura a um modelo sustentado na ética ecológica, agregando valores que orientam nossas decisões de produção, consumo e organização social de forma sustentável do início ao fim do processo.
Seria incrementar as práticas convencionais para reduzir o uso de insumos externos caros, escassos e que danificam o meio ambiente, substituindo por práticas alternativas que nos trazem saúde e bem-estar a nós humanos e ao nosso meio ambiente como um todo. Sustentabilidade refere-se também a equilíbrio.
A transição agroecológica implica não somente a busca de uma maior racionalização econômico-produtiva, mas também uma mudança nas at itudes e valores de todos nós, seja nas relações sociais, seja nas atitudes com respeito ao manejo e conservação dos recursos naturais.
Essa mudança refere-se a um processo de evolução contínua e crescente no tempo, sem ter um momento final determinado.
Agroecologia não é um tipo de agricultura, ou um sistema de produção, ou uma tecnologia meramente agrícola.
É, além disso, um mundo complexo de processos socioculturais, econômicos e ecológicos envolvidos e que reforça a natureza científica da Agroecologia, bem como seu status multidisciplinar e desafiante objetivo de construir estilos de agriculturas sustentáveis de médio e longo prazos.
Como ensina Stephen R. Gliessman, professor de agroecologia na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, a agricultura sustentável, sob o ponto de vista agroecológico é aquela que, tendo como base uma compreensão holística dos agroecossistemas, seja capaz de atender, de maneira integrada e permanente, aos seguintes critérios:
a) Baixa dependência de insumos comerciais;
b) Uso de recursos renováveis localmente acessíveis;
c) Utilização dos impactos benéficos do meio ambiente local;
d) Aceitação e/ou tolerância das condições locais, antes que a dependência da intensa alteração ou tentativa de controle sobre o meio ambiente;
e) Manutenção a longo prazo, da capacidade produtiva;
f) Preservação da diversidade biológica e cultural;
g) Incorporação do conhecimento e da cultura da população local e
h) Produção de mercadorias para o consumo interno e para a exportação, se for o caso .
A dimensão local é portadora de um potencial intrínseco, rico em recursos, conhecimentos e saberes que facilitam a implementação de estilos de agriculturas potencializadores da biodiversidade ecológica e da diversidade sociocultural.
A transição para agriculturas mais sustentáveis requer participação importante do Estado através de políticas públicas, planos e programas que dêem suporte necessário ao processo de mudanças e nesse sentido, a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), através do Projeto Vida Nova, proporciona este novo modelo de assistência técnica e extensão rural em Mato Grosso com parceria com o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).
O Projeto já foi implantado em 55 municípios, atendendo uma média de 2.450 agricultores familiares com metodologia de implantação em três fases de execução: segurança alimentar, sustentação econômica e auto gestão dos negócios.
Formada em Comunicação Social pela UFMT, Master Practitioner em Programação Neurolinguística e Assessora de Comunicação da Empaer
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