Helvecio Santos (*)
Recentemente escrevi artigo intitulado “Eu para Prefeito”, publicado no jornal O Gazeta, no Blog do Jeso e no blog Rabiscos do Antenor, onde exponho, de forma sucinta, o que penso serem os parâmetros que um candidato a prefeito deve mirar.
Parcela dos leitores do Blog do Jeso comentaram. Alguns, impregnados do vírus futebolístico, deixando de lado o cerne do assunto – comprometimento com o futuro da cidade e dos munícipes -, torcendo pelos oito anos do governo do Sr. Lira Maia, outros torcendo pelos quase oito anos da Sra.Maria do Carmo.
Numa nociva comparação, tentavam justificar o desejo do retorno de um ou a continuação do outro. Penso que a continuar esse tipo de “torcida”, os únicos perdedores serão sempre os moradores e o município.
Primeiro, porque não é preciso uma análise profunda para se concluir que ambos deixaram a desejar, como de resto, todos os prefeitos que os antecederam.
Segundo, porque como uma administração nada mais é do que a continuação da outra, ou deveria ser, sempre a seguinte seria melhor que a anterior, salvo se esta fosse um verdadeiro caos.
Talvez nessa postura “futebolística” residam os grandes males que nos afligem, pois os eleitores fazem um verdadeiro “cabo de guerra”, sem se importarem em analisar no período pré eleição os programas de governo e, no pós, cobrar a implementação dos ditos programas.
Vestidos com as cores partidárias, o grupo perdedor fica na torcida do quanto pior melhor, esperando o fim do governo para a “brincadeira de roda” continuar. Outros comentaram em tom jocoso, considerando-me um desinformado que não consegue entender que política é “assim mesmo”, onde as pessoas entram para se “darem bem” e a prova maior do “bom” político é o patrimônio exibido depois de pouco tempo.
Por esta visão eu seria presa fácil enveredando-me em seara alheia e desconhecida, habitada por lobos prestes a devorar quem ali se aventurasse.
À vista do respeito no trato com a coisa pública que exponho no Artigo, um leitor disse que “na prática a teoria é outra” e que tão logo eu entrasse no “meio” iria me corromper. Já um outro afirmou que eu só ganharia uma eleição se “comprasse os líderes das comunidades mais importantes que me ensinariam o caminho das pedras das comunidades menores”.
Numa época trabalhei num banco e dias após uma das muitas eleições que compareci, como o contínuo mostrava-se muito eufórico com o resultado, perguntei em quem ele votara e ele me respondeu que nunca perdera um voto. Só votava no candidato que estava à frente nas pesquisas.
Também já ouvi isto em Santarém.
Em rápidas pinceladas, são algumas de nossas mazelas políticas as quais impactam fortemente no nosso dia a dia e pior, com consequências no nosso futuro.
Voto dado, não adianta chorar o leite derramado!
Infelizmente, os eleitores ou comportam-se como torcedores de times de futebol ou votam para não perderem o voto ou, descrentes do sistema, anulam o voto em forma de protesto e calam-se para não serem ridicularizados.
Qual dos três é o seu caso, leitor?
Dos comentários dos blogueiros pode-se concluir que temos um longo caminho a percorrer até começarmos a dar um fim nos males que nos assolam, o que desaguaria na cidade que sonhamos. Afinal, quem disse que as coisas têm que ser assim?
Numa comparação um tanto quanto exagerada, já pensou se os gregos não acreditassem que a democracia era um bom sistema de governo? Até hoje viveríamos sob o jugo de reis que diziam descender de divindades.
Então, se até os reis “divinos” deram passagem à vontade do povo, por que pensar e aceitar que política nada mais é do que a arte de “se dar bem” e que o eleitor comparece somente para validar?
É preciso acreditar que administrações voltadas para o próprio umbigo não é destino e que essa realidade é possível de ser mudada. O pastor norte americano Martin Luther King, mártir da luta contra o preconceito racial, dizia que “o que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.
Creio que as pessoas valem por suas idéias e estas é que devem ser levadas em consideração. No artigo “Eu para Prefeito”, expus uma idéia que penso ser boa. É um sintético manual de como achar políticos comprometidos com o município e com os munícipes.
Mas é errando que se aprende! É preciso votar, quantas vezes for preciso, e o eleitor precisa entender que o voto é uma arma mortal que deve ser usada contra político “vampiro”, aquele que se sustenta com o sangue do povo, aumentando seu patrimônio ou não fazendo nada do que prometeu, o que dá no mesmo.
E qual a tarefa do eleitor na busca do “Eu” do artigo em comento?
Para uns é preciso saírem desse silêncio perigoso e para outros, não se comportarem como torcedores de futebol.
É preciso analisar cuidadosamente as propostas dos candidatos e depois, por qualquer meio disponível, cobrar a realização das propostas de campanha.
É preciso não trocar o voto por um “caraminguá” qualquer, vendendo barato nosso futuro e o futuro dos nossos filhos.
É preciso que ao se sentir lesado em seu voto pelo não cumprimento das promessas de campanha, apostar no novo, independente de partido.
Por findo, é preciso banir o político profissional, aquele que na época das eleições bota uma “cara” com um belo sorriso e aperta a mão até de boneco de posto de gasolina e, se eleito, alça vôo e só retorna no próximo período.
Dom Hélder Câmara dizia que “quando uma pessoa sonha é somente um sonho mas, se muitos sonham, o sonho vira realidade”.
Comparo o artigo “Eu para Prefeito” a uma pedra que lançada no meio do lago, vai formando círculos concêntricos que vão, vão, vão até alcançarem a beira do lago.
Espero que um dia a beira do lago seja alcançada e as pessoas escolham os nossos governantes pelos programas apresentados e que o cumprimento desses programas seja cobrado ao longo do mandato e, mais, que os “ungidos” que não cumprirem suas promessas de campanha, sejam banidos da vida pública através do voto.
Este é o meu sonho!
Modestamente lancei luz sobre a forma correta de tratar a coisa pública, convidando a materializarmos um sonho que só depende de nós. Basta tirar os antolhos, ver que há um presente melhor e um futuro idem que passam longe dessa inútil disputa de “torcida de futebol”, dessas comparações insossas sobre governos em quase nada diferentes e dessas “máximas” de política de esgoto.
Isso só interessa aos políticos e a seus apaniguados! Mas se esse não for o entendimento, só por pirraça, vamos votar em caras novas, nem que seja pelo prazer de fazermos novos ricos.
Ah! Uma última coisa! Esqueceram de tachar-me do que eu gostaria.
Louco seria bem apropriado e eu procuro loucos como eu.
Loucos por decência, loucos por ética, loucos por honestidade, loucos por lealdade, loucos por dignidade, loucos por SANTARÉM.
P.S. Dedico estes escritos ao Mestre, Colega e Amigo Dr.José Ronaldo Dias Campos e a todos que compartilham conosco este louco sonho possível.
(*) Advogado/Economista - morador no Rio de Janeiro
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