Janio de Freitas (*)
Grande parte, talvez a maior, da culpa pelos motivos da greve de cerca de 150 mil funcionários públicos, com possível adesão de milhares mais, é da própria CUT que comanda o movimento. Culpa que contamina a greve e enfraquece as exigências do funcionalismo para retomar suas atividades.
A CUT dá sinal de vida, com a greve. Mas só pode fazê-lo porque passou como morta os oito anos do governo Lula. O imobilismo servil foi a sua política então.
Ou o governo concedeu, por iniciativa própria, tal ou qual benefício em remuneração ou em condições de trabalho, ou o funcionalismo e tais condições ficaram largados a si mesmos: sindicatos curvados à CUT e a grande central "única" dos trabalhadores a detê-los com seu imobilismo indiferente.
Não foi no ano e meio do atual governo que se acumularam os motivos para as greves reunidas pela CUT rediviva.
As reivindicações de hoje vêm do que faltou ontem e anteontem. Por ausência de política ativa e de ação combativa da representação trabalhista.
Afinal, como entidade dos trabalhadores, a função estrita da CUT é defender o máximo de justiça alcançável, nas circunstâncias de cada momento, para os que mantêm a sociedade com o seu trabalho. O que é a mais avançada forma de política.
A CUT preferiu passar-se, no governo Lula, por partido político convencional. Assim como o PSDB e o DEM buscavam obstruir projetos sociais do governo, a CUT obstruiu sua função reivindicatória.
Não precisava fazê-lo, para apoio e proteção ao governo. Houvesse batalhado por correções moderadas, mas capazes de evitar perdas excessivas, não teria prejudicado o governo e não haveria a greve atual.
Hoje, a reposição, de uma vez só, de tudo o que ficou para trás, não é admitida pelo governo. Com o argumento, cuja contestação não é fácil, de que o custo iria contra os esforços da política econômica anticrise.
Logo, o acúmulo de perdas permitido pela CUT prejudicou o funcionalismo antes e o prejudica outra vez, com a provável solução do parcelamento das reposições.
E greve de funcionalismo público, consiga ou não favorecer o funcionalismo, é sempre contra o público. Ou seja, contra a população que não nega ao funcionalismo correções e vencimentos em dia, assegurados pelos impostos e contribuições sufocantes e irremediáveis.
A Troca
A presidência da Câmara não se destinará ao PMDB por concessão do governo, como está bastante noticiado, para obter as aprovações de duas medidas provisórias e da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Vem de longe um acordo de revezamento PT/PMDB, as duas bancadas majoritárias, para ocupar a presidência.
(*) Jornalista é colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de São Paulo
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