Vejam a foto do Delúbio: não parece que ele está gozando com a nossa cara? Pois ele está. Saiba como
Ricardo Setti (*)
Tudo seguiu o figurino previsto: Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT, assumiu sozinho, como se não existisse mais nada nem ninguém envolvido, a responsabilidade pela distribuição de dinheiro ilegal a políticos e a partidos da chamada “base aliada” do governo no Congresso durante o governo Lula — o escândalo do mensalão, que veio à tona em 2005.
Assumiu, sim, mas, segundo ele, o dinheiro repassado não teve a mais remota relação com o que chama de “o falacioso mensalão”. Não houve compra de apoio para o governo no Congresso, nem nada parecido — alega. O que houve foi distribuição de dinheiro para fazer frente a supostas “despesas de campanhas eleitorais”. Portanto, ele se declara inocente das acusações de ter praticado os crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha, constantes da denúncia do procurador-geral da República, apresentada em 2006 e recebida pelo Supremo Tribunal Federal em 2007.
Tudo com a bênção de Lula
O jornal O Estado de S. Paulo havia antecipado que, com a bênção do ex-presidente Lula, o chamado “núcleo central da quadrilha”, conforme definiu o então procurador Antonio Fernando de Souza, decidiu que fazer Delúbio assumir responsabilidade por irregularidade menor (distribuir para cobrir despesas eleitorais dinheiro não declarado, mas de origem supostamente legal) seria a tática utilizada para livrar a cara dos 38 demais mensaleiros. Teriam particiado da decisão, entre outros, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino.
Em magras 35 linhas de um memorial apresentado ao Supremo por seus advogados, o ex-tesoureiro declara, em juridiquês, que “restou comprovado que o dinheiro utilizado para pagamento de dívidas de campanha foi obtido por meio de empréstimos, junto ao Banco Rural e ao banco BMG”.
Prudentemente, esqueceu que a CPI dos Correios — que investigou o mensalão — concluiu que o dinheiro teve origem em repasses ilegais de órgãos do governo para empresas do empresário Marcos Valério que, delas, fez o dinheiro andar para o caixa do PT e para as mãos de vários políticos.
A foto de Ed Ferreira acima é muito feliz. Parece que Delúbio está gozando com a cara de todos nós — o que ele, de fato, faz, ao praticar essa manobra.
(*) Jornalista e colunista da Revista VEJA
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