Roberto Rodrigues (*)
Hoje, 28 de julho, é o Dia do Agricultor.
Prestar homenagem a esse herói sem nome é um preito de gratidão, um gesto de respeito. E poder fazer isso é uma grande alegria.
E por que esses substantivos (gratidão, respeito, alegria) todos?
Comecemos com a gratidão. Como viver sem os agricultores? São eles, no amanho diuturno da terra, que produzem tudo o que nos permite preservar a dádiva divina da vida: alimentos, energia, fibras e biomassa.
Respeito, porque fazem isso enfrentando todas as dificuldades que os demais setores da economia enfrentam em relação às crises financeiras e ao "custo Brasil", e ainda precisam acertar contas com são Pedro, do qual dependem visceralmente. Muitas vezes sem o suporte oficial que os concorrentes de outros países recebem de seus governos, vão conquistando espaço nos mercados, com a tecnologia sustentável desenvolvida por nossos cientistas, e assim contribuindo para a redução da fome no mundo.
E é claro que destaco isso tudo com incontida alegria, porque tenho a honra de ser neto, filho, irmão, pai e amigo de produtores rurais.
Esse orgulho espalho por onde passo, e talvez a mais clara demonstração pública disso tenha sido o discurso que fiz em julho de 2006, quando deixei o Ministério da Agricultura:
"Amo a agricultura, profunda e reverentemente.
Emociona-me a alvura imaculada dos algodoais em colheita, o rubro-verde dos cafezais em cereja, o galeio mágico que o vento provoca nos canaviais verdejantes ou nos dourados trigais; encanta-me o cheiro adocicado das espigas dos milharais, ou os laranjais carregados, as flores das fruteiras polinizadas pelas abelhas operárias; orgulha-me o progressista ronco das colhedeiras nos sojais e arrozais maduros; admiro os capinzais cultivados, alimentando rebanhos leiteiros e de sadia carne; minha alma se desvanece a cada vez que vejo uma semente germinando no milagre da preservação das espécies.
Amo a agricultura, profunda e reverentemente.
E respeito, admiro e venero os milhões de homens e mulheres que, dia após dia, ano após ano, em comunhão sublime com a natureza e com o Criador, plantam e colhem tudo o que garante a perenidade da existência.
Mas não foi só por esse amor inesgotável que aceitei o honroso convite do presidente Lula para ser ministro da Agricultura em seu governo. Foi por muito mais.
Foi por compreender com clareza que é o produtor rural quem, em sua cotidiana e anônima labuta, aciona a roda do desenvolvimento em um país como o nosso.
Sem o produtor rural, para que produzir sementes, defensivos, fertilizantes, corretivos, medicamentos veterinários, rações? Para que produzir tratores, equipamentos e máquinas colhedeiras? Sem a produção agrícola, para que construir usinas, fábricas de alimentos, fogões? Para que fabricar caminhões, trens, trilhos, silos e armazéns? Para transportar e guardar o quê? Sem os agricultores, como seriam criados todos os empregos nessas áreas referidas?
Não há ovo de Páscoa sem plantador de cacau, não há vestido de seda sem plantador de amoras, não há cabos e pneus de borracha sem plantador de seringueira, não há papel sem plantador de árvores, não há cerveja sem plantador de cevada, vinho sem plantador de uva, não há calça jeans sem plantador de algodão, não há sapato e bolsa sem o pecuarista, não há etanol sem cana, não há pão sem trigo, óleo sem soja, manteiga sem leite, não há vida sem a agricultura e sem o agricultor.
Por isso aceitei o convite e o desafio: por amar a terra e ao seu amanhador, e por reconhecer que seu trabalho é o motor da economia e da democracia".
Saudemos hoje, com entusiasmo, esse herói e usemos este dia para pensar nele. O produtor rural é, por tudo o que foi dito, o parceiro constante do cidadão urbano: um não vive sem o outro. São gêmeos univitelinos, para não dizer siameses.
Por isso é tão importante uma estratégia para o setor rural em nosso país: todos ganharão com ela, e não apenas os agricultores.
(*) É Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e Professor do Departamento de Economia Rural da Unesp-Jaboticabal. Foi ministro da Agricultura (governo Lula).
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