Folha de São Paulo
Em janeiro de 1953, com 30 anos, sob o pseudônimo Honorato, José Saramago concluiu o seu segundo romance, "Claraboia".
Por caprichos que a literatura é pródiga em operar, só agora, quase 60 anos depois, o livro é publicado.
Após ver a obra esnobada por uma editora, o único Nobel de Literatura da língua portuguesa nunca mais quis vê-la publicada, mas autorizou que o fizessem após a sua morte -ocorrida em 2010.
O enredo em torno de "Claraboia" nesses anos todos é um romance em si.
O descaminho começa quando Saramago entrega o original a um amigo, o artista plástico Figueiredo Sobral.
O futuro Nobel era, naquele 1953, um burocrata que fazia cálculos de pensões na Companhia Previdente.
Seu romance de estreia, "Terra do Pecado", de 1947, tivera tímida acolhida de público e crítica.
O amigo encaminhou "Claraboia" à Empresa Nacional de Publicidade. A editora não deu resposta ao autor e nunca lhe devolveu o original.
Saramago só tinha uma outra cópia, mas, segundo seu editor e amigo Zeferino Coelho contou à Folha, perdeu-a poucos anos depois.
"Claraboia" sumiu.
Quarenta anos mais tarde, no início dos anos 90, sendo Saramago já um romancista consagrado, a editora o procurou para dizer que, numa mudança, havia encontrado o manuscrito e tinha interesse em publicá-lo.
Era tarde demais.
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