domingo, 12 de junho de 2011

Guga, dinheiro e saudade

José Cruz (*)

A semana marcou aniversários das vitórias de Gustavo Kuerten em Roland Garros, onde sagrou-se tricampeão em 2001.
Um ano antes, entrevistei Guga, por ocasião dos Jogos Olímpicos de Sydney.

Naquela Olimpíada, o Brasil não conquistou medalha de ouro. Na coletiva de imprensa, o presidente do COB, Carlos Nuzman, disse que não se faz um país olímpico sem dinheiro. A dependência do esporte de rendimento era exclusiva dos cofres públicos.
Decidi escrever um artigo, a partir de respostas de atletas e ex-atletas a uma só pergunta: “O que falta para o Brasil se tornar uma potência olímpica”?

Ao lado do técnico Larri Passos, Guga me atendeu no restaurante de um hotel, na praia de Bondi. Ele ouviu a pergunta, coçou a cabeça, enquanto preparara a respotas:
- Pô, cara! Se o Brasil não sabe cuidar dos dentes dos guris nas escolas, como podemos pensar em política para sermos um país olímpico?

A resposta e argumentação estão no artigo que escrevi – “O cavalo empacou” –, referência a Baloubet du Rouet, o milionário alazão conduzido por Rodrigo Pessoa, que frustrou a expectativa de conquista de uma única medalha de ouro na Olimpíada de Sydney.
Sem entrar no mérito da resposta de Guga, lá se vão 11 anos dos Jogos australianos.

O tempo passou. Ganhamos um ministério exclusivo para o Esporte, o dinheiro chegou. E muito. E daí?
Daí que, agora, o ministro do Esporte nos diz que não esperemos grandes resultados dos Jogos Rio 2016, pois eles serão apenas o início de uma nova etapa para o esporte brasileiro.

E o que ficou da era Guga, uma década, dois ciclos olímpicos depois?
Onde evoluímos na gestão do esporte de rendimento a partir dos milhões de reais despejados nas contas de nossas confederações?

Qual a ação efetiva de longo prazo, depois de três conferências nacionais de esporte, para que se tenha um ordenamento entre as instituições gestoras municipais estaduais, federais, públicas e particulares do esporte?
Não há dúvidas de que desperdiçamos a era Guga para aqui se criar uma escola de tênis. E também não evoluímos no ordenamento político-institucional do esporte. O tempo passa, o dinheiro para o esporte cresce, mas os desperdícios são evidentes.

(*) Jornalista e que cobre há mais de 20 anos os bastidores da política e economia do esporte, acompanhando a execução orçamentária do governo, a produção de leis e o uso de verbas estatais na área esportiva.

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