Eliane Cantanhêde (*)
Ao criar um triunvirato feminino no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff foi ousada e mandou um duro recado para o PMDB, o PT em geral, o PT da Câmara e o PT paulista muito em particular: "Quem manda aqui sou eu".
Dilma presidente, Gleisi Hoffmann chefe da Casa Civil, Ideli Salvatti manda-chuva da articulação política. Taí uma solução surpreendente sob vários aspectos --inclusive o de prestigiar mulheres e o Senado, deixando a Câmara de fora-- e com um detalhe constrangedor: o troca-troca entre Ideli e o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).
Ideli vai para a vaga de Luiz Sérgio no Ministério de Relações Institucionais, e Luiz Sérgio vai para a vaga dela no Ministério da Pesca. O que os dois entendem de pesca? Não me perguntem, porque não tenho a mais remota ideia. O fato é que Dilma quis atrair Ideli para o Planalto e não quis deixar Luiz Sérgio (que tinha o apelido de "garçom" do governo) boiando.
Dilma, porém, precisa avaliar bem os riscos e os efeitos dessa sua atitude de confrontar os peixes graúdos, porque está tratando com profissionais e com essa gente não se brinca.
O PMDB, muito mais profissional, se reuniu no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer e bunker da reação peemedebista, e decidiu agir com competência: ninguém cobra cargo, ninguém critica Gleisi, ninguém fala mal de Ideli. E todo mundo concorda com a presidente. Pronto, o PMDB se cacifou e se armou para o próximo bote!
O PT, que está sem líder, desarticulado, guloso e contrariado, agiu sem nenhum profissionalismo. O presidente da Câmara, Marco Maia, se estapeia com o líder do governo, o petista Cândido Vaccarezza, que se estapeia com o líder do partido, Paulo Teixeira, que não fede nem cheira. Pronto, o PT está desarmado e é alvo fácil.
Dilma, que vinha de praticamente cinco meses de mesuras e elogios, inclusive da mídia e de eleitores tucanos, acaba de cair na real, ou na vida real de presidente, que não é nada fácil.
Com a remontagem do núcleo do poder, já passada a lua-de-mel com a opinião pública e já sem o encanto inicial, ela deve se preparar: as críticas vão aumentar de tamanho e de tom. E os aliados poderão ser seus piores adversários.
(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo desde 1997
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