Antenor Pereira Giovannini (*)
Continuamos vivendo no país do faz de conta, da mentirinha, do deixa para lá. Seriedade é uma palavra em desuso. Ética então, apenas nos livros de história. Mais o tempo passa e mais enganadores travestidos de pessoas sérias tomam conta do País e de suas leis. Já não bastasse termos um Código Penal arcaico, obsoleto, ultrapassado, graças ao qual os bandidos têm mais regalias que as vitimas, ainda observamos em coisas menos sérias como é o futebol profissional, as ações dessas pseudo pessoas sérias, agindo de forma a induzir que realmente somos um País formado por palhaços, idiotas que somos todos nós.
A noticia de que novo tipo de arrecadação foi autorizada pelo Governo Federal, destinada a ajudar clubes endividados por dirigentes desqualificados, mal intencionados, e principalmente, péssimos administradores do dinheiro alheio, reforça a convicção de que não somos sérios nem mesmo com algo de menor vulto como um esporte. Fazer com que o povo, já iludido com a remotíssima perspectiva de ficar rico por meio dos diversos tipos de jogos, aumente a sua “chance” tirando do seu bolso para “ajudar” clubes falidos ou quase, administrados por parasitas, é algo difícil de entender. Como é o caso da loteria chamada Time Mania.
Pobre povo idiota e iludido. Palhaço de nossas autoridades federais. Há algumas semanas atrás foi aprovada uma modificação na Lei Pelé concedendo benefícios para que esses maus dirigentes não sejam punidos por má gestão financeira de seus clubes. E não satisfeitos, nossos legisladores aprovam mais essa vergonha que é compra de um título de capitalização por parte dos torcedores junto às casas lotéricas, sendo que 50% do arrecadado vai para os clubes. É uma verdadeira piada, quando se sabe que os clubes estão semi-falidos por má administração, por má gestão financeira.
Ora, ora senhores políticos. Tenham escrúpulos. Tenham um pingo de racionalidade. Ajam pelo menos palidamente de maneira igual a qualquer pais sério que faz com que maus dirigentes esportivos sejam cassados, punidos, presos e tenham seus bens seqüestrados. Que o clube sofra as conseqüências dessas irresponsabilidades. O que não é possível é deverem milhões e milhões de reais, principalmente em impostos federais, estaduais e municipais, que afetam toda uma população, e ainda não serem punidos. Ao contrário, são beneficiados com a criação de jogos, loterias, títulos de capitalização e outras manobras que apenas servem de reforço para que esses dirigentes continuem executando suas gestões de forma inconseqüente.
Merecemos ser de terceiro mundo por sermos subservientes, sermos omissos, sermos dolentes em aceitarmos pacificamente tais decisões políticas, porque futebol é apenas diversão, mas que acaba levando de roldão um monte de dinheiro que deveria ser revertido para esse mesmo povo torcedor ou não.
E para completar esse circo ainda temos a Copa do Mundo onde cidades como Recife, escolhida como sede de jogos inexplicavelmente tem que construir um novo estádio, sendo que os três grandes clubes do Estado possuem estádios.
Senão vejamos: O Sport tem a Ilha do Retiro com capacidade para 35 mil torcedores, o Naútico tem o Estádio dos Aflitos com capacidade para 20 mil torcedores e o Santa Cruz tem o Estádio do Arruda que comportou domingo na decisão do campeonato pernambucano mais de 62 mil torcedores.
A pergunta que incomoda e ninguém responde:
- Porque precisam construir um novo estádio com custo estimado de R$ 400 milhões de reais com dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) que já liberou R$ 280 milhões?
- Porque esses já existente não sofrem um reparo compatível (afinal continuarão a ser usados) por um custo menor e o restante seja aplicado na saúde, na educação enfim em outras melhorias muito mais emergenciais do que estádio de futebol?
- Importante frisar que estão construindo um novo estádio para sediar tão somente 4 jogos da Copa que poderá ser entre seleções de pouca expressão mundial. Precisa um estádio novo? Vale um investimento de R$ 100 milhões por jogo?
Tenham vergonha, senhores políticos, de serem tão medíocres.
(*) Aposentado, agora comerciante e morador em Santarém (PA)
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