O PT no poder é vítima do PT na oposição. Boa parte do que os petistas classificam hoje de entraves para obras federais foi defendida pelo próprio PT no passado.
O fortalecimento do TCU (Tribunal de Contas da União) é um deles. Surgiu depois das saraivadas de críticas de petistas contra irregularidades descobertas na construção do prédio TRT (Tribunal Regional do Trabalho) paulista nos anos 90.
Na época, a principal crítica era como o tribunal havia permitido que fossem gastos cerca de três vezes o necessário até detectar irregularidades na construção.
A partir dali, os auditores do TCU passaram a fazer auditorias prévias e fazer sugestões de paralisações de obras federais, instrumentos que foram se aperfeiçoando e se tornando mais rígidos desde então.
Resultado: o tribunal ganhou mais eficiência e eficácia, na visão do TCU, ou passou a dar mais dor de cabeça e criar empecilhos para o andamento de obras, na ótica do governo Lula.
Durante os dois mandatos do ex-presidente, o TCU deixou de ser um aliado em potencial e passou a ser encarado como um quase inimigo dos petistas. Lula não poupou o tribunal de críticas, responsabilizando-o pelo atraso de obras.
Agora, o governo Dilma busca um entendimento com o tribunal. Sabe não ter condições de acabar com o poder fiscalizador do TCU, e também não o deseja politicamente, mas quer acertar com o órgão mecanismos que permitam antecipar futuros problemas.
A dúvida é sobre o tipo de entendimento a que se pode chegar. O risco visto por técnicos é o tribunal comprometer sua autonomia por conta de uma excessiva proximidade entre o executor e o fiscalizador.
Por outro lado, é sabido que alguns entraves podem ser eliminados, e já foram em experiências recentes, desde que seja estabelecido um canal de diálogo entre os dois lados.
O que não se pode, contudo, é cortar caminhos e fazer vistas grossas só por conta da urgência demandada por grandes eventos no país, como a Copa de 2014.
(*) Jornalista é repórter especial da Folha de São Paulo
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