Bellini Tavares de Lima Neto (*)
Há algum tempo a mídia veiculou uma propaganda de uma famosa marca de sandálias envolvendo uma igualmente famosa modelo e atriz. Provavelmente quase todo mundo ainda se lembra. A moça entra em um estabelecimento para experimentar as sandálias e um sujeito metido a conquistador se aproxima dela. A conversinha é das mais comuns: “Puxa, você fica linda nessas sandálias”. Por acaso você é modelo?” E a moça, com toda a calma do mundo responde: “Sim, sou”. O sujeito fica um tanto desconcertado e pergunta: “Como assim”?” E a linda jovem explica com a mesma naturalidade com que respondeu à primeira pergunta: “sim, sou modelo, sou fulana, modelo”. E o “Don Juan de padaria, completamente desolado, choraminga: “Poxa, sacanagem”! Era a minha melhor cantada”.
Efeito muito semelhante ao da resposta natural da moça era a reação de algumas pessoas diante da tentativa de colocar um apelido em alguém. Se o alvo dos que tentam a rotulagem do apelido tiver uma reação de confronto, automaticamente se tornará um fortíssimo candidato a que o apelido lhe grude na pele e dificilmente saia. Já se for possível simplesmente não esboçar reação alguma, a iniciativa dos abusadores se esvazia imediatamente. É claro que não há nada de simples nisso e talvez por isso tantos apelidos acabem pegando, sobretudo aqueles que têm uma flagrante conotação pejorativa ou ofensiva. Todo e qualquer individuo que se dedica a abusar dos demais deve trazer consigo uma forte dose de insegurança que simplesmente não resiste ao silêncio como reação. O truculento não suporta o silêncio de sua vítima.
Isso é o que tem me ocorrido diante das ações cada vez mais freqüentes de verdadeiras turbas ou até mesmo de vozes isoladas contra determinadas pessoas. Os homossexuais têm sido alvo constante desse tipo de agressão. Volta e meia se constatam ataques físicos contra eles. É claro que, em se tratando de violência física é bem mais difícil não reagir ou, pelo menos, procurar se esquivar e tratar de se colocar a salvo, até porque esses ataques, além de tudo, são absolutamente covardes já que, via de regra, reúnem vários trogloditas contra um ou poucos alvos. Se, contudo, a agressão for apenas verbal, que tal simplesmente ignorar? Imagine-se que um imbecil qualquer ou um bando de cretinos comece a uivar contra alguém, impropérios relacionados com sua opção sexual. Imagine-se, em seguida, que o alvo desses impropérios se limite a seguir adiante sem dar a menor atenção ou esboçar qualquer reação. “Você está me chamando de homossexual? Pois é, eu sou homossexual.” Isso com a mesma naturalidade da resposta da modelo do comercial das sandálias. Qual seria a reação da tropa de asnos?
Afinal, uma pessoa que faz essa opção de ordem sexual, tem algo contra sua própria escolha? Se tiver, deveria, então, procurar um jeito de se modificar. Se, no entanto, a opção tiver sido consciente, porque dar a ela a conotação de algo ofensivo? E, nesse caso, porque se sentir ofendido caso um estúpido qualquer, o identifique com um homossexual? Se o optante reagir de maneira confrontante, não estará fazendo outra coisa senão ratificando o conteúdo negativo que o ofensor está pretendendo dar ao que considera uma ofensa. Se, no entanto, sua ofensiva não obtiver reação alguma, não lhe restará alternativa senão afivelar a máscara de idiota ou, quem sabe, melhor dizendo, desafivelar a máscara de individuo respeitável e deixar a nu a sua natureza de idiota completo.
Aos homossexuais em geral, seria interessante considerarem simplesmente parar de reagir ao que se tem considerado como ofensa. É possível que, diante do esvaziamento da acusação, os acusadores se dêem conta de que estão gritando no vácuo, onde o som não se propaga. Algo parecido com o ambiente em que se mantém o cérebro dos homofóbicos. E a estes, os homofóbicos em geral conviria esclarecer que se a homossexualidade alheia lhes causa tanto temor, fiquem tranqüilos. Vocês só farão sua própria opção por ela se assim o desejarem. Não é algo obrigatório. Portanto, não tenham tanto receio, até porque, se isso lhes for algo incontrolável, mais dia, menos dia, acabarão se encontrando. E aí, vai ser pior, não é?
(*) Advogado , morador em S. Bernardo do Campo (SPO).
Escreve para o site O Dia Nosso De Cada Dia - http: blcon.wordpress.com
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