quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Outra VERGONHA no Esporte

José Cruz (*)

Segundo Tempo: um jogo de xadrez

O Ministério Público Federal determinou o “arquivamento” de um processo do Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, que destinou R$ 4,7 milhões para a cidade de Americana, interior paulista.

Apesar disso, a procuradora da República, Heloisa Maria Fontes Barreto, continua investigando o assunto. Cópia dos documentos que analisou ela encaminhou à Polícia Federal para aprofundar investigações.

Jogo de xadrez
Em 2008, o Ministério do Esporte contemplou a Federação Paulista de Xadrez (FPX) como executora do Segundo Tempo, e não a Prefeitura de Americana, como ocorre em vários municípios.

Por quê uma federação, sem experiência em atividades sociais de campo e sem pessoal capacitado para instalar 70 núcleos do Segundo Tempo?
Horácio Prol Medeiros, então presidente da federação, em 2009, justificou que processos com prefeituras são burocráticos, dão mais trabalho para contratar pessoal – 70 coordenadores e 140 monitores, exigindo concurso etc. Já com entidades particulares o processo é mais ágil, mais simples.


Estrutura
Quer dizer que a Federação tem estrutura para contratar 210 funcionários especializados? Todos com carteira assinada e recolhendo impostos regularmente, exigências do próprio Ministério do Esporte?
Além disso, para aprovar o projeto, o Ministério exige apresentar comprovação de que a entidade tem competência técnica para atuar. A federação preenche esse requisito? Que experiência tem no setor, fora do tabuleiro de xadrez?

E o pessoal contratado pela Federação de Xadrez é habilitado para lidar com crianças? foram selecionados profissionais de educação física como exige a lei?

Estamos, em resumo, diante de um convênio inédito no país com uma federação de xadrez para desenvolver o Segundo Tempo, onde três atividades esportivas são exigidas, sendo duas coletivas, como futebol e handebol, por exemplo.

O outro lado
O que Horácio não explicou é que o prefeito de Americana, Diego de Nadai, pertence ao PSDB e não ao PC do B, partido do ministro Orlando Silva, que, à época da assinatura do convênio, era candidato a deputado federal por São Paulo.

Também chama atenção que o ex-vice-presidente da Federação Paulista de Xadrez, José Alberto Ferreira dos Santos, era o presidente do PPS em Americana.

O acordo para a assinatura do convênio foi feito pelo então secretário nacional de Esportes Educacionais, Júlio Filgueiras, um dos coordenadores da abortada campanha de Orlando Silva.

Investigação
Entre abril e a última semana de agosto o repórter Gustavo Atoniassi, do jornal O Liberal, de Americana, visitou os núcleos do Segundo Tempo da cidade.

E o que encontrou?
Crianças em menor número do que as registradas, alimentação sem nutrição exigida pelo Ministério do Esporte, espaços inadequados para a prática esportiva, alguns professores sem habilitação a função e material esportivo de péssima qualidade. Essas informações já estão na Polícia Federal.

Estranho
Consultas que realizei, indicaram que o Ministério do Esporte nunca realizou auditoria no Segundo Temo de Americana no local de execução do projeto.

No entanto, a Controladoria Geral da União determina que isso ocorra com os convênios cujos valores sejam superiores a R$ 2 milhões.
E se bem averiguarem observarão que o Segundo Tempo em Americana começou oito meses depois de liberada a primeira parcela. O dinheiro que não foi usado nesse período retornou aos cofres públicos?

Quando comecei a me interessar por esse assunto, no ano passado, não havia uma só referência no site da Federação Paulista de Xadrez sobre o projeto de R$ 4,7 milhões com o Ministério do Esporte. Estranho esconder tão importante e milionária parceria.
As informações só surgiram muito depois que encaminhei os primeiros questionamentos à federação.

Enfim, esses são os fatos que colecionei e aqui disponho para que os leitores vejam como o Segundo Tempo se transformou na maior vergonha brasileiro em termos de projeto social.
Até prisões já foram realizadas aqui em Brasília, cujo processo do Segundo Tempo é tão rumoroso que respinga, inclusive, em candidato ao governo do Distrito Federal

(*) Jornalista . Cobre há mais de 20 anos os bastidores da política e economia do esporte, acompanhando a execução orçamentária do governo, a produção de leis e o uso de verbas estatais na área esportiva.

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