sábado, 1 de setembro de 2012

Os que querem e os que podem



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Bellini Tavares de Lima Neto (*)

No tempo em que era moda falar mal dos norte-americanos a rapaziada gostava de contar uma historinha inventada que um texano típico (grandalhão, barulhento, de traseiro quadrado e cabeça ainda mais) foi a Paris e acabou caindo no Louvre. Impressionado com aquilo tudo, procura o diretor e pergunta, de forma direta, o que era preciso para construir um negócio igual àquele lá na terra dele. O francês, então, cheio de “savoir faire”, responde: “É simples. Só duas coisas: um monte de milhões de dólares, que vocês têm de sobra e mais 3.000 anos de civilização. Que vocês vão ter que esperar um pouquinho.” 

É claro que isso nunca aconteceu, mas foi alguma coisa parecida com isso que me veio à cabeça quando, finalmente e depois de mais de duas semanas, consegui ficar a sós com o objeto do meu assunto aqui presente. 
Nada acontece do nada. E tampouco se consegue alcançar as alturas por meio de atalhos. Os degraus são percorridos um a um. Com muito boa vontade pode ser que se vá de dois em dois. Mas aí é preciso ter ainda mais força e energia. Daí para frente é mentira, lenda, não vai acontecer, Portanto, ninguém vai se aproximar das altas esferas e fazer parte delas se não tiver bagagem, conteúdo, talento. E o mais interessante é que aparência, jogo de cena, é o que menos conta. 

Eu me lembro do aniversário de um velho amigo que resolveu contratar duas artistas para alegrar a festa. Fiquei desconfiado. O amigo não tem lá grande ligação com essa história de cantar e, preconceito meu, por se tratar de coisa do interior, fui preparado para topar com duas caipirinhas cantando “la.la, La, lá” de trancinha e sanfona. E a coisa ficou ainda mais esquisita quando vi que uma delas tinha uma barriga de uns 14 meses de gravidez. Não podia dar certo. Até que a pretensa acompanhante da grávida foi afinar o violão e, serenamente, começou a executar um “Samba do Avião”. 

Tinha alguma coisa errada. E depois, as duas começaram a função e eu fui me deixando cair de queixo e tudo, lamentando não ter prestado atenção no nome da grávida (já que a atrevida que afinava o instrumento tocando Baden Powell, eu não conhecia, mesmo). 
Essa mocinha grávida (que gostou tanto da brincadeira a ponto de repeti-la) é que me mandou o objeto do meu assunto aqui presente: um disquinho que atende pelo modesto título de “Elas cantam Menescal”. 
Bem, aqui eu já estraguei tudo, escancarei tudo, não tem mais como continuar o joguinho de gato e rato a que me propus. Essa mocinha se chama MARCIA TAUIL que, além de cantar como devem ser os amanheceres em algum paraíso, ainda se dá o direito de ser parceira desse indivíduo que se apresenta como Roberto Menescal. Como se alguém pudesse ser Roberto Menescal e tudo ficar por isso mesmo. 


Esse disco simplesmente abusa do direito de emocionar. 
Sim, porque, não bastasse essa caipirinha vinda diretamente do interior do céu, ainda conta com mais três anjos que atendem pelos nomes de Cely Curado, Sandra Dualibe e Nathália Lima. Chega a ser um tanto perigoso. Eu resolvi enfrentar isso tudo de uma maneira bastante peculiar.

Saí de casa no começo da tarde para atravessar dois municípios: São Bernardo do Campo e São Paulo. A Avenida dos Bandeirantes, em São Paulo, pode se orgulhar de ser, a qualquer hora do dia ou da noite mas com absoluta certeza, a musa inspiradora de Dante Alighieri para descrever o seu inferno. Não há Lexotan, que mantenha um sujeito razoavelmente equilibrado num lugar assim. 

Depois de uns 20 ou 30 minutos se arrastando em meio aquela enxurrada de automóveis e caminhões, qualquer “serial killer” passa a ser visto com certa naturalidade. Pois eu fiquei por ali tempo suficiente para ouvir duas vezes esse “Elas cantam Mesnescal” .
As outras duas vezes, ouvi pelo restante do caminho. E terminei o meu percurso exatamente com se estivesse assistindo o por do sol na minha praia predileta. 

Sempre poderá haver aqueles que valo achar isso tudo um exagero. Sem problemas. Afinal, quem não é a favor da liberdade de expressão. Mas o sujeito que não sair viajando pelo astral com a guitarra, as melodias cheias de modulações, as harmonias fascinantes e desafiadoras de Nosso Senhor Roberto Menescal, deve ser ruim da cabeça, como se dizia antigamente. E quem se mantiver indiferente ao canto dessas quatro musas, sejam elas cada uma de cada vez, sejam elas em vocal alucinante, melhor procurar ajuda porque pode ser grave. E com saúde a gente não brinca. 

O disco é simplesmente deslumbrante, bonito, bonito, bonito até não poder mais. 
E, é bom que se diga, ninguém faria alguma coisa assim em conjunto com o Santo Menescal se não tivesse muito talento. Do mesmo jeito que, por mais que desejasse, o nosso texano teve que esperar os 3000 anos de civilização. 

Márcia, Cely, Nathalia e Sandra têm muito mais que isso. Meninas, que maravilha é esse oásis que vocês nos deram. Minha querida Márcia, a quem tenho o orgulho e o privilégio de conhecer a mais tempo, saiba que, nesta semana de agosto deste ano da graça de 2012, eu tive duas alegras e duas emoções. 

A primeira delas foi a chegada da minha princesa Laura Manon, irmão do Bernardo, responsáveis pela minha assumida baba de avô. A segunda foi esse “Elas cantam Menescal”. Não é alegria demais para um sujeito qualquer? Maravilha!!!!!

(*) Advogado e agora bi-avô morador em São Bernardo do Campo (SP)

2 comentários:

  1. Anônimo1/9/12 11:02

    Olha ... parabéns ao Bellini !! É impressionante como seus textos são bem elaborados ... é um escritor de mão cheia !!

    Alexandre

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  2. Alexandre - obrigado pela audiência.
    Concordo mil por cento. Dr Bellini tem verdadeiras obras primas descritas de uma maneira gostosa de ler e sempre com uma pitada de ironia, humor, que fazem com que seus textos sejam brilhantes. Uma pena que uma grande maioria ele não permite que sejam publicados. Mas, de vez em quando escapa um como esse.

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