terça-feira, 4 de setembro de 2012

Futebol e Política - tudo a mesma sujeira

As 25 escolhas de Patricia Amorim para empregos públicos na Câmara Municipal do Rio. Tudo ‘gente bacana’. Ligada ao Flamengo por pura coincidência, lógico. Na lista, mãe, irmã e marido… 

Cosme Rímoli (*) 
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"Não preciso abrir mão do trabalho de uma pessoa bacana." 
É revoltante. 
Dessa maneira singela, Patricia Amorim explicou algo impensável. 

A presidente do Flamengo é também vereadora. 
Ou é vereadora e também presidente do Flamengo. 
As duas coisas estão mais misturadas do que todos poderiam imaginar. 
Do que deveriam estar. 

Ela teve a coragem de nomear 25 pessoas ligadas ao clube para o seu gabinete de vereadora. 
Com salários pagos pelo cidadão carioca. 
Durante anos ela vem fazendo isso. 
Essas nomeações são um escândalo. 

O conflito de interesses negado por Patricia é evidente. 
Todas as 25 nomeações, absurdas. 
A mais chocante é a do Capitão Léo. 

Ex-chefe de torcida organizada do Flamengo. 
Principal articulador da queda de Zico, ele é presidente do Conselho Fiscal do clube. 
A pessoa responsável por fiscalizar como Patricia usa o dinheiro do Flamengo. 
Ela o manteve no cargo de 2003 a 2007. 
Recebia até R$ 7.000,00. 

Quando saiu, indicou seu sócio na empresa Leson Auditoria e Contabilidade. 
Nelson Santos de Souza. 
O mais incrível na bizarra situação foi que a pessoa mais indignada foi Patricia. 

Ela não teve como negar a revelação. 
Foi obrigada a confirmar. 
Os documentos são públicos. 
Mas não admite questionamentos. 

Como se fosse normal a sua postura. 
Uma presidente distribuir cargos públicos a pessoas ligadas ao clube. 
A situação de Patricia no Flamengo já era péssima. 
Ficou pior, sem defesa. 

Perdeu rápido demais a aura com que assumiu a presidência. 
Todos se esqueceram que era a primeira mulher a assumir o clube mais popular do Brasil. Que ela havia vencido o machismo. 
Não era uma mera esposa assumindo o cargo em nome do marido, como Marlene Matheus, por exemplo. 



Não, quem votou, votou em Patricia. 
Queria renovação no futebol. 
O resultado desta 'renovação' foi lastimável. 
Uma série de vexames marcam sua gestão. 

A começar pela dívida do clube que atingiu mais de R$ 434 milhões. 
O caos administrativo fez com os telefones fossem cortados na Gávea. 
Contrata Ronaldinho, mas por pressa, não elabora um contrato com a Traffic. 
Só um documento resumido que dá margem a várias interpretações. 

Com o prejuízo envolvendo o jogador, já que as ações de marketing fracassaram, a Traffic rompe a parceria. 
A partir de então, os salários do meia começam primeiro a atrasar e depois a não serem pagos. 
Ele dá o troco. 
Falta à cerimônia de parceria entre Flamengo e Unicef, ele seria o garoto propaganda da ação. 

Se nega a entrar em campo com o distintivo piscando como parte de um evento comercial de uma fabricante de pilhas. 
Depois foi flagrado com mulher na concentração. 
E quem o flagrou, Luxemburgo, é demitido. 
Como agradecimento, Ronaldinho processa o clube em mais de R$ 50 milhões. 

Patricia não consegue implantar o plano de sócio-torcedor. 
Chama Zico para cuidar do futebol e o derruba em quatro meses. 
Não arruma patrocínio para a camisa mais popular do País. 
Sofre um processo de impeachment por má administração. 
Permite que Adriano humilhe o clube. 

A revelação dos 25 nomeados para a sua câmara provocou revolta em conselheiros. 
Eles querem a saída imediata da presidente. 
Mas as coisas não acontecem tão rapidamente. 
Muito pelo contrário. 

O processo é lento. 
Seu mandato termina no final do ano. 
Há enorme chance dela continuar até lá. 
As eleições acontecerão em dezembro. 

E ela sabe das ínfimas chances de ser reeleita. 
Sua preocupação mais premente é o pleito para a Câmara Municipal. 
Já é vereadora há 12 anos. 
E quer mais quatro. 

Por quê não? 
A presidente gosta de trabalhar com 'gente bacana' há muito tempo... 
Chegou a nomear seu marido, sua irmã e a própria mãe para seu gabinete. 
Eles ganhavam de R$ 5 mil a R$ 13 mil. 
Como a legislação agora proíbe, ela escolheu outras pessoas 'bacanas'. 

Principalmente ligadas intimamente ao Flamengo. 
O levantamento da ESPN/Brasil não deixa dúvida. 
São nomes e salários para não serem esquecidos. 
Assim como a triste atitude de Patricia. 

Capitão Léo, presidente do Conselho Fiscal, R$ 4,6 mil. Exonerado. 
Nelson Santos de Souza, sócio do Capitão Léo, R$ 4,6 mil. 
Fernando Sihman, marido de Patrícia, R$ 8,3 mil. Exonerado. 
Patricia Filles Amorim, irmã e membro do Conselho Deliberativo, R$ 8,3 mil. Exonerada. Tania Filles Amorim, mãe de Patricia Amorim. Exonerada. 
Cristina Isensee Callou, vice Esportes Olímpicos, R$ 7,1 mil. 
Renata Callou de Aça Belchior, irmã de Cristina Callou, R$ 4,6 mil. Exonerada. 
Jorge Roberto Teixeira Braga, membro do Conselho Deliberatio. R$ 10,1 mil. 
Deborah Frochtengarten, membro Conselho Deliberativo, R$ 5,2 mil. 
Arnaldo Szpiro, diretor de basquete, R$ 5,2 mil. 
Eduardo Moraes de Carvalho, assessor da presidente, R$ 5,2 mil. 
Neide Nunes Pacheco de Mello, parente do conselheiro Carlos Eduardo de Mello, R$ 10,1 mil. 
Valeria Guedes Veneu, esposa do supervisor de Esportes Olímpicos, R$ 8,3 mil. 
Edson Terra Cunha Junior, supervisor de Esportes Olímpicos, R$ 8,3 mil. Exonerado. Cinthia Griner, membro do Conselho Deliberativo, R$ 4,6 mil. 
Felipe Guedes Gullo, R$ 7,1 mil. 
Carlos Eduardo de Mello, Conselho Deliberativo, R$ 10,1 mil. Exonerado. 
Marcia Veronica Apolonio de Mattos, funcionária do Flamengo. R$ 4,6 mil. Exonerada. Bruno Mantuano Caravello, ex-vice de finanças. R$ 4,6 mil. Exonerado. 
Bernardo Andrade Monteiro de Souza, assessor de imprensa. R$ 4,6 mil. Exonerado. Cristina da Silveira Lobo, ex-nadadora., R$ 4,6 mil. Exonerada. 
Izamilton Mota Gois , ex- presidente do Conselho Deliberativo. R$ 5,2 mil. Exonerado. Jorge José Bichara, membro do Comitê Olímpico Brasileiro. R$ 5,2 mil. Exonerado. 
Silene Branco, parente de Carmen Branco, membro do CD. R$ 7,1 mil. Exonerada. 
Márcio de Menezes Duba, exonerado. 

O Flamengo não merecia passar por isso... 

(*) Jornalista esportivo . Ganhou o premio ACEESP por seis vezes como melhor repórter esportivo entre jornais e revistas de São Paulo. Trabalhou 22 anos no Jornal da Tarde. Seu blog na UOL comerçou em 2009. 

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