sábado, 6 de abril de 2013

O Pesadelo de Dilma

Rodrigo Constantino (*) 

Dilma teve dificuldade para dormir nesta noite, o jantar ainda brigava com os sucos gástricos; os pensamentos ruins iam e vinham e nada do sono chegar. Após muito rolar na cama, e com o auxílio de uma destas maravilhas capitalistas da indústria farmacêutica, ela finalmente pegou no sono. E logo começou a sonhar. 

O sonho começou animador. Uma linda moça, loura, elegante, ponderada e exalando sabedoria, a convidou para um passeio. Mentalmente, a presidente anotou que nunca havia visto a moça em nenhum congresso do PT. O passeio seria pelo futuro próximo, algum lugar entre 2030 e 2040. 

O passeio começou fora do Brasil, pelos aliados bolivarianos. A Venezuela era governada por Conchita Chávez III, neta de Hugo Chávez, que, embora vivo não governava e apenas enviava tweets do hospital. O país virou um amontoado de miseráveis que agora importava petróleo, todos os que produziam ou tinham algum tipo de estudo agora estavam em Miami, que, com isso, viveu um novo boom econômico e já está entre as cinco maiores cidades americanas. A próxima parada, rápida, foi a Bolívia que já não era mais um país e sim um campo de batalha de quadrilhas de cocaleros, sendo a mais poderosa aquela comandada pelo pessoal que soltou um sinalizador em um jogo de futebol há muito tempo atrás. Estabeleceram-se na Bolívia. 

Para encerrar o tour sul-americano, a linda moça levou Dilma para a Argentina. A presidente achou que era uma peça de mau gosto que pregavam nela. Buenos Aires, tão linda, estava caquética e destruída como Havana. Não havia mais produção rural; a carne era importada da Austrália (caríssima) e o tradicional doce de leite não existia mais. A população fazia filas e mais filas atrás dos cupons de racionamento, que davam direito a uma porção diária de comida. Já não havia mais moeda, corroída por uma inflação de quatro dígitos. O escambo havia voltado e cada um se virava como podia. O país era dirigido por uma neta do Maradona com um descendente de Perón, que tinha como plataforma de governo a recuperação das Ilhas Falklands, nesta altura já com um PIB superior ao da Argentina. 


Dilma começava a ficar zangada, achando que isso era uma pegadinha do Lobão ou do Mercadante. A moça então disse, "chega dos vizinhos, vamos ver o Brasil". Dilma ficou feliz, "agora vamos ver a potência que eu e Lula criamos". A visita começou por uma cidade do sul, onde tinha acabado de haver um incêndio em uma boate, ceifando a vida de 300 jovens. Dilma ficou fula. "Como? Nós baixamos 87 decretos e 234 artigos regulamentando a atividade de boates em 2013. Como pode?" 

A próxima parada foi numa plataforma do pré-sal, da antiga Petrobrás. A plataforma (como as outras) já não produzia mais nada há 20 anos. Todas foram alugadas pela empresa de festas do Thor Batista e eram usadas para raves em alto mar. Tudo com open bar e passagem de helicóptero inclusos. Dilma ficou pensando no que poderia ter dado errado. Afinal, ela caprichou na proteção e no financiamento da indústria nacional. Agora o Brasil importava petróleo dos Estados Unidos, que com sua tecnologia de extração do ouro negro do xisto betuminoso, se tornou o maior produtor mundial. 

Ao passar pelas cidades Dilma levou um susto: o trânsito simplesmente parou (afinal o que esperar com quatro milhões de carros vendidos por ano e zero km de estradas construídas) e os carros estavam abandonados na rua, num grande nó. As pessoas agora andavam a pé e as bicicletas do Itaú eram disputadas a tapas. 

Ao procurar agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, Dilma levou um susto ao não ver mais nenhuma. A moça explicou que após a brutal expansão de crédito, seguiu-se uma onda de inadimplência que levou o governo a ter que fazer seguidas capitalizações nos dois bancos. No final, o governo juntou os dois bancos num só, o Banco do Povo, que tinha no seu logo a figura do Che Guevara. 

Dilma perguntou para a sua anfitrião que era aquela fila no centro do Rio de Janeiro. A moça explicou que era a fila do bolsa-vela. Afinal, o setor de energia elétrica foi dizimado em 2012 e não houve mais investimentos. Hoje temos energia somente 4 horas por dia e a vela virou artigo caro e escasso. O governo petista, sempre atento ao social, criou o programa de distribuição de velas para os mais desfavorecidos. 

Dilma perguntou sobre os programas de cotas. Ficou sabendo que apenas quatro cotistas conseguiram se formar verdadeiramente. Os outros se formaram por liminar ou pelo novo sistema de cotas para aprovação automática. Os erros de engenharia e de médicos se avolumavam, causando muitas mortes; o CREA estudava a polêmica medida de somente habilitar engenheiros paraguaios. Ela anotou de chamar o Mercadante para uma reunião. 

Dilma já estava ficando realmente preocupada quando se lembrou de Brasília. Pediu para ver a cidade do poder. Poucas surpresas. O presidente era governado pela chapa Lindbergh Farias do PT tendo como vice o filho do Collor, do PMDB. No Congresso, os netos de Sarney e Renan se revezavam na presidência do Senado e se divertiam fazendo fogueiras com os abaixo-assinados para que saíssem. 

A base aliada já contava com 364 partidos e a palavra oposição foi retirada do Aurélio, por falta de uso. Naturalmente, para pagar a conta deste estado gigantesco, a carga tributária já estava em 70% do PIB. Com isso a economia não conseguia crescer e o PIB per capita já era metade do anotado em 2013. O governo Lindbergh estudava exportar metade da população para África, e com isso melhorar o indicador. O prédio do Banco Central virou um Fundo Imobiliário de um Shopping e agora a política monetária era decidida diretamente por Lindbergh e por Collorzinho no poker das segundas, após o expediente. A inflação não se sabe se oscila nos dois ou nos três dígitos, tantas são as manobras e tablitas sobre o índice. Para manter o povo feliz e o projeto político em funcionamento, os programas de transferência de renda já atingem 300 milhões de pessoas, embora a população tenha apenas 280 milhões. Um mistério. 

Dilma perguntou para a moça (seria uma fada?), afinal o que tinha dado errado? A diáfana e sábia criatura calmamente explicou; "Dilma, todos esses experimentos sociais fracassaram, um após o outro. Os seres humanos são diferentes, e tem diferentes capacidades e ambições. Quando compulsoriamente (veja bem, nada contra a caridade espontânea) os mais fortes e trabalhadores tem que sustentar os fracos e preguiçosos, a sociedade implode. Afinal, o açougueiro não sai da cama de manhã imbuído de doar a melhor carne para o seu cliente. Sua motivação é o lucro. O lucro não é feio, muito pelo contrário. A beleza do lucro é ser a expressão monetária do trabalho bem feito, da inventividade, do sacrifício de uma juventude de estudos, do risco, enfim, de trocar o prazer momentâneo por algo bem maior lá na frente. Se você monta uma estrutura social onde os empreendedores são punidos e os preguiçosos são favorecidos o que você acha que os primeiros fazem? Vão embora, é claro. E o que é uma sociedade formada por gente acomodada? O que você acha que acontece em uma economia sufocada por milhões de normas e decretos, onde é mais simples se cadastrar em alguma bolsa- qualquer-coisa do que produzir uma caneta? O que você acha de uma sociedade onde o empresário gasta mais tempo com o seu contador do que com o seu cliente? Dilma, minha querida. Não se extermina as galinhas dos ovos de ouro de um país impunemente.". 

Dilma acordou sobressaltada, o dia já amanhecia em Brasília e ela anotou no post-it que deveria alterar as regras de privatização de infraestrutura. Enquanto se maquiava lembrou-se de deixar o Tombini fazer alguma coisa com a inflação, que já estava incomodando, e também de demitir o Mantega. Mas como fazer isso sem dar o gostinho para aqueles jornalistas ingleses nojentos? Mas a pergunta que oprimia o seu coração era; "será que vai dar tempo?". 

(*) é Economista  

Um comentário:

  1. Anônimo6/4/13 12:51

    Isso poderia ser realidade ... uma pena ser apenas um pesadelo .. o que para nos seria um sonho

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