Opinião do Estadão
A presidente Dilma Rousseff viajou a São Paulo na quarta-feira para um evento de "caráter privado", conforme a Secretaria de Comunicação do Planalto, em um hotel de luxo da capital - à custa do erário. Mas, na atual ordem das coisas, isso decerto importa menos do que o motivo da viagem: uma reunião a portas fechadas, que acabou se estendendo por sete horas, com o antecessor e mentor Luiz Inácio Lula da Silva e mais quatro participantes. Além do dublê de ministro da Educação e conselheiro de confiança da presidente, Aloizio Mercadante, do presidente do PT, deputado estadual Rui Falcão, e do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, ali estava o ex-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. O principal operador da campanha de Dilma foi o primeiro dos seis ministros atingidos pela chamada faxina a que ela se entregou no ano inaugural do mandato, embora por alegados "malfeitos" anteriores a sua nomeação.
Com toda a probabilidade, aquele não há de ter sido o primeiro encontro entre a presidente e Palocci, ou entre ela, ele e Lula. Ninguém ignora que a sua saída do núcleo central foi uma perda que Dilma tenta tardiamente reparar, fazendo de Mercadante, segundo o noticiário, o seu interlocutor privilegiado. (Segundo os cínicos, isso se explicaria menos pelas eventuais qualidades de estrategista político e administrativo do senador petista licenciado, do que pela esperteza que o faria sempre dizer à chefe o que ela gostaria de ouvir.) Nem ao Estado nem ao Valor, que publicaram anteontem alentadas entrevistas com a presumível estrela em ascensão no Planalto, ele aceitou tratar da reunião "privada" paga com recursos públicos, da qual, assim como a presidente, não poderia tomar parte em pleno horário de expediente. Mas, de novo, isso é detalhe, perto, entre outras coisas, da incurável dependência de Dilma do seu patrono.
"Eles sempre conversam e é muito interessante", diz o ministro, de um lado constatando o óbvio, de outro, quem sabe, para mostrar intimidade com o que o "extraordinário" Lula e a sucessora - a quem atribui "profunda formação política" - se falam. De todo modo, não é preciso ter dons divinatórios para saber que, direta ou indiretamente, o assunto em torno do qual tudo gira é a sucessão de 2014 - não apenas no plano federal, como também nos Estados. É exclusivamente dessa perspectiva que Lula orienta as decisões de governo da protegida cuja recandidatura ele foi o primeiro a lançar em fevereiro último - a 19 meses, portanto, do próximo ciclo eleitoral. Como se diz em linguagem corrente, eles não pensam em outra coisa. Isso, evidentemente, não os torna iguais.
Mercadante pode afirmar quantas vezes queira, citando pesquisas reservadas, que "os dois viraram uma coisa só" - um "Lulilma", digamos. Para o povo, sustenta, "tinha um (presidente) que era muito bom e agora têm dois, que é melhor ainda". Embora a popularidade de Dilma tenha de fato alcançado níveis lulistas, e a rejeição ao seu nome deva ser menor que ao dele em determinados segmentos, pode-se supor que, se se perguntasse ao eleitor em qual dos dois preferiria votar, numa imaginária disputa entre ambos, Lula prevaleceria. Seria uma simplificação presumir que dele dependem quaisquer iniciativas ou decisões da presidente. A ascendência do criador sobre a criatura passa pelo que ele poderá achar bom ou mau, nas políticas do governo, para a permanência do PT no poder - e nessa matéria, ainda que fosse a notável gestora que Lula fazia crer que fosse em 2010, Dilma precisa dele como do ar que respira.
Por exemplo, não será ela quem dará a última palavra sobre a candidatura do partido ao governo paulista - um dos principais assuntos, ao que vazou, da reunião da quarta-feira. Se assim não fosse, talvez não houvesse razão para a presença do prefeito Luiz Marinho, um dos nomes que Lula parece considerar, além do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e do próprio Mercadante. Contra um pesa a maciça reprovação popular do setor. Contra o outro, a preferência do eleitorado estadual por um tucano em 2006 e 2010 (quando ele podia se reeleger senador). "O PT não me deve nada", diz Mercadante. Os companheiros fingem acreditar.
A presidente Dilma Rousseff viajou a São Paulo na quarta-feira para um evento de "caráter privado", conforme a Secretaria de Comunicação do Planalto, em um hotel de luxo da capital - à custa do erário. Mas, na atual ordem das coisas, isso decerto importa menos do que o motivo da viagem: uma reunião a portas fechadas, que acabou se estendendo por sete horas, com o antecessor e mentor Luiz Inácio Lula da Silva e mais quatro participantes. Além do dublê de ministro da Educação e conselheiro de confiança da presidente, Aloizio Mercadante, do presidente do PT, deputado estadual Rui Falcão, e do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, ali estava o ex-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. O principal operador da campanha de Dilma foi o primeiro dos seis ministros atingidos pela chamada faxina a que ela se entregou no ano inaugural do mandato, embora por alegados "malfeitos" anteriores a sua nomeação.
Com toda a probabilidade, aquele não há de ter sido o primeiro encontro entre a presidente e Palocci, ou entre ela, ele e Lula. Ninguém ignora que a sua saída do núcleo central foi uma perda que Dilma tenta tardiamente reparar, fazendo de Mercadante, segundo o noticiário, o seu interlocutor privilegiado. (Segundo os cínicos, isso se explicaria menos pelas eventuais qualidades de estrategista político e administrativo do senador petista licenciado, do que pela esperteza que o faria sempre dizer à chefe o que ela gostaria de ouvir.) Nem ao Estado nem ao Valor, que publicaram anteontem alentadas entrevistas com a presumível estrela em ascensão no Planalto, ele aceitou tratar da reunião "privada" paga com recursos públicos, da qual, assim como a presidente, não poderia tomar parte em pleno horário de expediente. Mas, de novo, isso é detalhe, perto, entre outras coisas, da incurável dependência de Dilma do seu patrono.
"Eles sempre conversam e é muito interessante", diz o ministro, de um lado constatando o óbvio, de outro, quem sabe, para mostrar intimidade com o que o "extraordinário" Lula e a sucessora - a quem atribui "profunda formação política" - se falam. De todo modo, não é preciso ter dons divinatórios para saber que, direta ou indiretamente, o assunto em torno do qual tudo gira é a sucessão de 2014 - não apenas no plano federal, como também nos Estados. É exclusivamente dessa perspectiva que Lula orienta as decisões de governo da protegida cuja recandidatura ele foi o primeiro a lançar em fevereiro último - a 19 meses, portanto, do próximo ciclo eleitoral. Como se diz em linguagem corrente, eles não pensam em outra coisa. Isso, evidentemente, não os torna iguais.
Mercadante pode afirmar quantas vezes queira, citando pesquisas reservadas, que "os dois viraram uma coisa só" - um "Lulilma", digamos. Para o povo, sustenta, "tinha um (presidente) que era muito bom e agora têm dois, que é melhor ainda". Embora a popularidade de Dilma tenha de fato alcançado níveis lulistas, e a rejeição ao seu nome deva ser menor que ao dele em determinados segmentos, pode-se supor que, se se perguntasse ao eleitor em qual dos dois preferiria votar, numa imaginária disputa entre ambos, Lula prevaleceria. Seria uma simplificação presumir que dele dependem quaisquer iniciativas ou decisões da presidente. A ascendência do criador sobre a criatura passa pelo que ele poderá achar bom ou mau, nas políticas do governo, para a permanência do PT no poder - e nessa matéria, ainda que fosse a notável gestora que Lula fazia crer que fosse em 2010, Dilma precisa dele como do ar que respira.
Por exemplo, não será ela quem dará a última palavra sobre a candidatura do partido ao governo paulista - um dos principais assuntos, ao que vazou, da reunião da quarta-feira. Se assim não fosse, talvez não houvesse razão para a presença do prefeito Luiz Marinho, um dos nomes que Lula parece considerar, além do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e do próprio Mercadante. Contra um pesa a maciça reprovação popular do setor. Contra o outro, a preferência do eleitorado estadual por um tucano em 2006 e 2010 (quando ele podia se reeleger senador). "O PT não me deve nada", diz Mercadante. Os companheiros fingem acreditar.
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