terça-feira, 16 de abril de 2013

A podridão no futebol às custas do dinheiro público

Alexandre Kalil confessa. “Andrés tinha um estádio para detonar o Clube dos 13.” Finalmente alguém revelou como o Corinthians conseguiu o Itaquerão. Estádio de um bilhão de reais que abrirá a Copa do Mundo de 2014…  

Cosme Rímoli (*) 
 
"O Andrés Sanchez tinha um estádio prometido para detonar a mesa. 
Ele ia ganhar um estádio. 
Estou falando aqui porque ele falou comigo e não pediu segredo. 
Falei com ele e perguntei: ‘Que sacanagem é essa?’. 

Porque ele é tudo, menos bobo. 
‘Kalil, estou ganhando um estádio’. 
Virei as costas e saí andando. 
Porque eu também se me dessem um estádio detonava a mesa." 

Sem meias palavras. 
Alexandre Kalil revelou como o Corinthians ganhou o Itaquerão. 
Com Andrés Sanchez implodindo o Clube dos 13. 
Os beneficiados: TV Globo e Ricardo Teixeira. 

Andrés foi perfeito. 
E teve como recompensa o estádio um bilhão, que abrirá a Copa do Mundo. 
Valeu todo seu esforço. 

É preciso recordar como tudo aconteceu. 

O Clube dos 13 foi fundado em 1987. 
Com o objetivo de juntar os clubes para brigar por melhores cotas de transmissão. 
E mais: enfrentar a CBF. 
Acabar com torneios intermináveis, com dezenas de clubes insignificantes. 


A ideia original era formar uma liga independente. 
Exigiu um enxugamento no Brasileiro. 
E os 16 maiores clubes do País disputaram a Copa União. 
Formaram o Módulo Verde 

O Flamengo foi o campeão. 
Outros 16, teoricamente, a Série B, lutaram pelo módulo amarelo. 
O campeão foi o Sport. 
A CBF exigiu o confronto entre os dois, o Flamengo recusou. 

A entidade presidida por Octávio Pinto Guimarães foi firme. 
Tendo a Fifa como cúmplice fez com que o Sport disputasse a Libertadores. 
O time pernambucano ocupou o cargo de campeão brasileiro. 
Com medo de sanções, como desfiliação, os dirigentes recuaram. 

Acabou o motim pela liga. 
O Clube dos 13 se tornou a entidade que negociava com a televisão. 
O presidente consultava os clubes e o que conseguisse da tevê era dividido. 
A TV Globo ganhava todas as disputas, tinha a prioridade. 

Tudo era fechado, sigiloso até. 
Quando as outras emissoras tentavam disputar, a questão já estava resolvida. 
Mas tudo poderia mudar em 2010. 
A emissora carioca soube que outras tevês estavam decididas. 

Deveriam fazer uma proposta irrecusável. 
Poderiam passar da casa dos bilhões de reais pelos Brasileiros de 2012 a 2014. 
Fabio Koff já havia resolvido: todas as propostas seriam entregues ao mesmo tempo. 
Seria uma concorrência normal, sem favorecimento. 

E aberta, com ampla cobertura da imprensa. 
Ricardo Teixeira e a Globo resolveram agir. 
Elas eram parceiras íntimas desde 1989, quando Ricardo foi eleito. 
Era interesse de Ricardo Teixeira que a Globo continuasse com o futebol. 

E Andrés Sanchez teve a promessa de um estádio para o Corinthians. 
Sua missão seria apoiar Kléber Leite na disputa da eleição do Clube dos 13. 
Iria enfrentar Fábio Koff. 
Tinha chances reduzidas, já que não haveria tempo para grandes articulações.

Mas se perdesse, deveria implodir o Clube dos 13. 
Sem dó. 
Cumprindo a missão, teria a recompensa. 
Ou seja: tudo seguiu o roteiro de uma novela. 

Foi assim que aconteceu. 
Fábio Koff ganhou a eleição de Kléber Leite. 
Andrés se aplicou, deu a alma. 
A vitória foi apertada, 12 a 8. 


A eleição aconteceu em abril de 2010. 
Andrés ficou até fevereiro de 2011. 
E convenceu os presidentes dos grandes clubes do Brasil a largar o Clube dos 13. 
Negociar diretamente com a Globo, como o Corinthians iria fazer. 


Garantiu que teriam vantagem. 
E eles o seguiram. 
Fabio Koff ainda realizou a concorrência. 
Os clubes estavam fechados com a Globo. 

Seria perda de tempo outras emissoras participarem. 
Ninguém entendeu porque os dirigentes resolveram ganhar menos. 
Mas assim foi. 
Na concorrência só a Rede TV! foi para a briga inútil. 

Ofereceu R$ 1,548 bilhão e ficou com as edições de 2012 a 2014. 
Isso se as regras valessem. 
Na prática não significou nada. 
Os clubes nem se importaram em dar satisfação. 

Seus presidentes disseram que o Clube dos 13 não os representava mais. 
E fecharam diretamente com a Globo. 
E o Clube dos 13 perdeu sua razão de ser.
Vitória de Andrés Sanches. 

Em março de 2011, o presidente corintiano vibrou. 
Sabia que seria premiado. 
E em outubro do mesmo ano, a FIFA anunciou o Itaquerão abrindo a Copa. 
Com o respaldo do Mundial, o dinheiro público seria fundamental ao estádio. 

O dirigente corintiano foi duplamente premiado. 
Como revelou explicitamente hoje Alexandre Kalil à ESPN. 
No novo contrato, Corinthians e Flamengo são os que mais recebem da Globo. 
Ganham R$ 120 milhões por ano. 

Mas sem dúvida o clube do Parque São Jorge não tem do que se queixar. 
Em mais de cem anos nunca teve um estádio à altura de sua torcida. 
Pelo empenho de Andrés Sanchez, como revela o presidente atleticano.
Além de Ricardo Teixeira, houve a parceria de Lula. 

O ex-presidente corintiano brigou pelo surgimento do Itaquerão. 
Assim que a Fifa declarou que o Morumbi não poderia sediar a Copa. 
Pela sua localização e falta de área para a construção de um centro de imprensa. Dificuldades que surgiram na hora certa. 


E abriram brecha para o governo federal trabalhar pelo estádio do Corinthians. 

Clube que roubou o coração do então presidente da República. 
Não há segredo que o tempo não revele. 
Foi o que fez hoje Alexandre Kalil. 

Confirmou o que muita gente já sabia. Mas faltava a voz oficial. 
Alguém que acompanhou de dentro toda a implosão do Clube dos 13. 
E que tivesse ouvido de Andrés a confissão. 
"Kalil, estou ganhando um estádio." 

Foi o que o presidente do Atlético Mineiro ouviu.

E tudo se cumpriu. 

O Clube dos 13 acabou.
Fabio Koff voltou a ser presidente do Grêmio. 
Ricardo Teixeira renunciou. 
E vive exilado para Boca Ratón, nos Estados Unidos. 

Andrés Sanchez cuida, orgulhoso, do Itaquerão. 
Articula também a sua candidatura à CBF. 
E a TV Globo continua com o futebol brasileiro a seus pés. 
Como acontece desde os tempos da Ditadura Militar...

(*) Jornalista e comentarista esportivo 

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