Bellini Tavares de Lima Neto (*)
Embora seja difícil de acreditar, o mundo já existiu sem o “Google”. Mais do que isso e, me perdoem pelo impacto, já existiu sem “internet”, sem “facebook”, sem “smartphone” e tantos outros elementos vitais. Isso foi pouco tempo depois da extinção dos dinossauros, quer dizer, muita gente nem se lembra mais. E, num mundo sem “Google” havia algo chamado “Enciclopédia”. Para os que não são jurássicos como este escrivinhador de mão esquerda, enciclopédia era um conjunto de livros que continha informações sobre todos os assuntos objeto do conhecimento humano da época. É bom enfatizar que, é claro, as enciclopédias já traziam informações sobre os poucos dados de conhecimento do homem naqueles tempos. Assim, mesmo que algum arqueólogo, em meio às suas escavações, viesse a encontrar algum exemplar de uma enciclopédia, certamente não iria achar qualquer referencia ao “funk” carioca ou ao BBB ou a tantas outras preciosidades da cultura moderna.
Por estas bandas tropicais havia algumas enciclopédias famosas. Uma delas era a “Barsa”, composta por mais ou menos quinze volumes além de dicionário de Inglês e um volume extra que se chamava “O Livro do Ano”, em que os autores ou donos da editora iam atualizando os assuntos com as descobertas do ano. Havia uma outra, fantástica, chamada “Enciclopédia Britânica” que também era de arrasar quarteirão. Talvez antes de todas elas, existia algo que se chamava “O Tesouro da Juventude” onde se podia encontrar praticamente de tudo. Um verdadeiro “Google” impresso em papel acetinado, capa dura azul-marinho com as inscrições em letras douradas que, com o tempo, iam desaparecendo. Essa enciclopédia tinha uma particularidade: um dos volumes se chamava “O Livro dos Porquês” e se propunha a responder a uma infinidade de curiosidades científicas, mitológicas, literárias, enfim, um manancial de informações para os roedores de unhas ávidos de conhecimentos ou para os desocupados em geral.
Esses verdadeiros templos do saber podiam ser adquiridos em seus respectivos escritórios de representação. E esses escritórios dispunham de uma figura excêntrica, uma espécie de camelô da cultura: o vendedor de enciclopédia. Essas criaturas iam de casa em casa, batiam à porta e despejavam um discurso cheio de verve e sabor para convencer as donas de casa (outra figura desse mundo antigo, praticamente em extinção) a adquirir uma enciclopédia, aquela arca de tesouro cultural que serviria para educar os pimpolhos e refinar o nível da família como um todo. Esses mágicos das palavras, na verdade, tinham como meta, convencer a rainha do lar acerca da completa impossibilidade de se continuar a viver sem aquela cornucópia de conhecimentos imprescindível a qualquer sobrevivência digna. Caso conseguisse a cumplicidade da patroa, o patrão, que era quem decidia sobre os gastos ou (como sempre foi ao longo da história da humanidade) achava que decidia, bateria o martelo, já que ela martelaria sua cabeça até a exaustão.
O vendedor de enciclopédia era, de um modo geral, educado, simpático, agradável e, acima de tudo, respeitoso. Mas o tempo da enciclopédia, assim como o dos acendedores de lampião de gás e dos professores de filosofia e educação moral, social e cívica, passou. E assim, seria de se concluir, passou também o tempo do vendedor de enciclopédia. Aí, no entanto, reside um grande equívoco. O vendedor de enciclopédias não desapareceu, apenas mudou de forma e de ”modus operandi”. Agora, ele não tem mais fisionomia humana, não bate à porta das donas de casa (o que seria impossível em face do desaparecimento delas) nem pede licença para falar. Agora ele invade os meios de comunicação, seja pelo telefone, seja, mais recentemente, pela “internet”. Depois da verdadeira batalha campal contra aquelas ligações sem hora nem momento, eis que surge, agora, a invasão pelo “facebook”. Já há algumas semanas que se entra na página do “facebook” e surgem mensagens publicitárias oferecendo desde imóveis até cremes miraculosos contra rugas e envelhecimento. Chegam sem anunciar, sem bater à porta, sem nenhuma chance de defesa.
Mas, nada é tão poderoso que não tenha seus calcanhares de Aquiles. Apesar da minha vexatória condição de ignorante crasso em matéria de informática, acabei descobrindo que é possível acionar um mecanismo (que, agora, se chama “clicar”) e fazer com que os tais anúncios sejam bloqueados. Ah, doce vingança! Já exterminei vários deles. É quase tão prazeroso quanto matar moscas com aquelas raquetes que são vendidas em sinal de trânsito. Portanto, a esses modernos e inconvenientes vendedores de enciclopédia, tenho a informar que sempre estarei a postos e alerta para eliminá-los como um verdadeiro super-herói contra o aborrecimento. Mas, tem mais: não me limitarei a eliminá-los. Vou colecionar seus nomes e, periodicamente, vou listá-los nesse mesmo “facebook” para que todos os internautas saibam que são vocês e não lhes comprem nem uma agulha. Vocês haverão de perder o mercado dos internautas que, convenhamos, não é dos menores. Pois é, chatos de plantão, minha vingança será maligna.
(*) Advogado, avô, corintiano e morador em São Bernardo do Campo (SP)
Embora seja difícil de acreditar, o mundo já existiu sem o “Google”. Mais do que isso e, me perdoem pelo impacto, já existiu sem “internet”, sem “facebook”, sem “smartphone” e tantos outros elementos vitais. Isso foi pouco tempo depois da extinção dos dinossauros, quer dizer, muita gente nem se lembra mais. E, num mundo sem “Google” havia algo chamado “Enciclopédia”. Para os que não são jurássicos como este escrivinhador de mão esquerda, enciclopédia era um conjunto de livros que continha informações sobre todos os assuntos objeto do conhecimento humano da época. É bom enfatizar que, é claro, as enciclopédias já traziam informações sobre os poucos dados de conhecimento do homem naqueles tempos. Assim, mesmo que algum arqueólogo, em meio às suas escavações, viesse a encontrar algum exemplar de uma enciclopédia, certamente não iria achar qualquer referencia ao “funk” carioca ou ao BBB ou a tantas outras preciosidades da cultura moderna.
Por estas bandas tropicais havia algumas enciclopédias famosas. Uma delas era a “Barsa”, composta por mais ou menos quinze volumes além de dicionário de Inglês e um volume extra que se chamava “O Livro do Ano”, em que os autores ou donos da editora iam atualizando os assuntos com as descobertas do ano. Havia uma outra, fantástica, chamada “Enciclopédia Britânica” que também era de arrasar quarteirão. Talvez antes de todas elas, existia algo que se chamava “O Tesouro da Juventude” onde se podia encontrar praticamente de tudo. Um verdadeiro “Google” impresso em papel acetinado, capa dura azul-marinho com as inscrições em letras douradas que, com o tempo, iam desaparecendo. Essa enciclopédia tinha uma particularidade: um dos volumes se chamava “O Livro dos Porquês” e se propunha a responder a uma infinidade de curiosidades científicas, mitológicas, literárias, enfim, um manancial de informações para os roedores de unhas ávidos de conhecimentos ou para os desocupados em geral.
Esses verdadeiros templos do saber podiam ser adquiridos em seus respectivos escritórios de representação. E esses escritórios dispunham de uma figura excêntrica, uma espécie de camelô da cultura: o vendedor de enciclopédia. Essas criaturas iam de casa em casa, batiam à porta e despejavam um discurso cheio de verve e sabor para convencer as donas de casa (outra figura desse mundo antigo, praticamente em extinção) a adquirir uma enciclopédia, aquela arca de tesouro cultural que serviria para educar os pimpolhos e refinar o nível da família como um todo. Esses mágicos das palavras, na verdade, tinham como meta, convencer a rainha do lar acerca da completa impossibilidade de se continuar a viver sem aquela cornucópia de conhecimentos imprescindível a qualquer sobrevivência digna. Caso conseguisse a cumplicidade da patroa, o patrão, que era quem decidia sobre os gastos ou (como sempre foi ao longo da história da humanidade) achava que decidia, bateria o martelo, já que ela martelaria sua cabeça até a exaustão.
O vendedor de enciclopédia era, de um modo geral, educado, simpático, agradável e, acima de tudo, respeitoso. Mas o tempo da enciclopédia, assim como o dos acendedores de lampião de gás e dos professores de filosofia e educação moral, social e cívica, passou. E assim, seria de se concluir, passou também o tempo do vendedor de enciclopédia. Aí, no entanto, reside um grande equívoco. O vendedor de enciclopédias não desapareceu, apenas mudou de forma e de ”modus operandi”. Agora, ele não tem mais fisionomia humana, não bate à porta das donas de casa (o que seria impossível em face do desaparecimento delas) nem pede licença para falar. Agora ele invade os meios de comunicação, seja pelo telefone, seja, mais recentemente, pela “internet”. Depois da verdadeira batalha campal contra aquelas ligações sem hora nem momento, eis que surge, agora, a invasão pelo “facebook”. Já há algumas semanas que se entra na página do “facebook” e surgem mensagens publicitárias oferecendo desde imóveis até cremes miraculosos contra rugas e envelhecimento. Chegam sem anunciar, sem bater à porta, sem nenhuma chance de defesa.
Mas, nada é tão poderoso que não tenha seus calcanhares de Aquiles. Apesar da minha vexatória condição de ignorante crasso em matéria de informática, acabei descobrindo que é possível acionar um mecanismo (que, agora, se chama “clicar”) e fazer com que os tais anúncios sejam bloqueados. Ah, doce vingança! Já exterminei vários deles. É quase tão prazeroso quanto matar moscas com aquelas raquetes que são vendidas em sinal de trânsito. Portanto, a esses modernos e inconvenientes vendedores de enciclopédia, tenho a informar que sempre estarei a postos e alerta para eliminá-los como um verdadeiro super-herói contra o aborrecimento. Mas, tem mais: não me limitarei a eliminá-los. Vou colecionar seus nomes e, periodicamente, vou listá-los nesse mesmo “facebook” para que todos os internautas saibam que são vocês e não lhes comprem nem uma agulha. Vocês haverão de perder o mercado dos internautas que, convenhamos, não é dos menores. Pois é, chatos de plantão, minha vingança será maligna.
(*) Advogado, avô, corintiano e morador em São Bernardo do Campo (SP)
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