sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O que, exatamente, você espera?

Bellini Tavares de Lima Neto (*)

Imagine que você tenha um amigo ou amiga que seja fã incondicional de um artista qualquer. Então você encontra um comentário completamente desairoso a respeito desse artista.

Se for um cantor, por exemplo, o comentário afirma que o sujeito é inteiramente desprovido de qualquer talento e que seus fãs só podem ser idiotas completos, inteiramente desprovidos de qualquer sensibilidade ou percepção.

Você, então, envia esse comentário ao seu amigo ou amiga que é fã do tal artista.
O que exatamente você espera que isso provoque no seu amigo ou amiga?
“Ah, ele vai achar engraçado”.

Pode ser que sim, ainda que não seja lá muito provável.
Mas, tendo em vista que isso aconteceu pela primeira vez, pode ser que o amigo ou amiga tome a tua atitude como uma simples brincadeira feita sem pensar muito.

Uma brincadeira de gosto no mínimo duvidoso, um tanto insensível ao que se poderia chamar de noção mais refinada de respeito, mas, enfim, nada além disso.
Afinal, vocês são amigos, não é?

Acontece que se passam alguns dias e você encontra uma outra crítica tão ou mais contundente que a primeira a respeito do mesmo artista, aquele de quem o seu amigo ou amiga é fã incondicional.
E você, então, ato contínuo, envia a nova descoberta a ele ou ela.

O que exatamente você espera que isso provoque no seu amigo ou amiga?
“Ah, como eu mandei a primeira e ele não ficou bravo, acho que ele deve ter gostado ou pelo menos não se importou. Então eu posso mandar esta outra”.
Ainda pode ser que sim, embora seja ainda mais improvável que da primeira vez. Afinal, foi só a segunda vez e o teu amigo ou amiga pode, com muito boa vontade, fazer uma leitura amena do teu gesto.
“É possível que o meu silêncio não tenha sido suficientemente eloqüente e ele não tenha compreendido que a brincadeira é desagradável, para não dizer que é ofensiva”.
Afinal, vocês são amigos, não é?


Eis que mais uns dias se passam e você encontra... “Ora, chega disso. Até quando vamos ficar aqui repetindo que isso aconteceu numa semana, na outra e na outra?” Será que você diria isso ou, no mínimo, pararia de ler esta chatice que fica repetindo o mesmo tema de maneira maçante e sonolenta?

Eu tenho a forte impressão que seria mais ou menos isso que você faria, assim como eu faria, também.
Afinal, aonde alguém quer chegar com essa conversinha repetitiva? Pois é.
Essa pergunta talvez tenha a mesma resposta que a outra, formulada um pouco antes: o que exatamente você espera que isso provoque no seu amigo ou amiga?

Você já recebeu essas brincadeiras que são enviadas pela “internet” a respeito de clubes de futebol?
Você já notou que, com raríssimas exceções, elas são de um mau gosto ilimitado e extremamente ofensivas? Mas não são apenas as que são colocadas em circulação pela “internet”. Elas também se repetem em situações sociais, inclusive as mais amistosas possíveis.

Eu presenciei, certa ocasião, em uma festa, um sujeito, torcedor de um determinado clube de futebol, perguntar a um amigo, torcedor de um outro clube de futebol, a quem não via há muitos anos: “fulano, você ainda torce para aquele time?” É claro que a pergunta veio acompanhada de um ar de incredulidade diante da obvia perspectiva de que a resposta seria afirmativa. E eu não consegui evitar que me viesse a mesma e insistente pergunta: o que exatamente você espera que isso provoque no seu amigo ou amiga?

Será que a pergunta é assim de tão alta indagação e complexidade a ponto de não se conseguir obter uma resposta?

Ou, diversamente, o propósito da iniciativa de gosto absolutamente duvidoso e de primorosa falta de senso de oportunidade, é ser ofensivo?

E, se o objetivo é, realmente, ofender o destinatário, qual é a razão para isso? Bem, neste último caso, a razão talvez seja enviar ao tal destinatário uma mensagem nada cifrada.

Ou será que o que leva uma pessoa a fazer isso com outra é apenas o resultado desse corre-corre dos tempos modernos que vai embotando a sensibilidade a ponto de cegar os olhos da conveniência, da polidez, do tratamento com civilidade?

Eu não tenho resposta alguma.

E exatamente porque não sou capaz de penetrar no âmago, no espírito da coisa, opto pela única reação que me permite a minha parca capacidade de percepção: apago as mensagens que chegam à tela do computador sem lê-las ou simplesmente me afasto quando a comunicação é oral.

Pena que ainda não consegui barrar por completo a impressão, embora passageira, que isso me deixa a respeito dos remetentes ou autores.

Mas eu tenho fé que ainda vá conseguir. 
 
(*) Advogado , avô, morador em S. Bernardo do Campo (SPO).
Escreve para o site O Dia Nosso De Cada Dia - http: blcon.wordpress.com

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