Folha de São Paulo
O governo do Amapá realiza no sábado (25) um mutirão para analisar os casos de vítimas de escalpelamento --pessoas que sofreram mutilações ou deformações quando tiveram o couro cabeludo puxado por eixos ou hélices de barcos. Esse tipo de acidente é comum em barcos da Amazônia sem proteção no motor.
Noventa e oito pessoas devem passar por avaliações com 14 cirurgiões. Segundo a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), que participa do mutirão, dependendo do caso as vítimas poderão passar por operações de restauração do couro cabeludo e das sobrancelhas e por reconstrução de orelhas.
Pelo menos 30% das vítimas cadastradas tiveram o couro cabeludo totalmente arrancado quando se aproximaram do eixo de motores de barco e tiveram os cabelos puxados pelo movimento de rotação do motor.
No mutirão, as vítimas também vão receber acompanhamento psicológico. Muitas pacientes são mulheres adultas que foram vítimas de escalpelamento quando eram crianças ou adolescentes.
De acordo com a SBCP, as cirurgias devem acontecer em abril ou maio, quando uma equipe de 25 cirurgiões voluntários de diferentes Estados será deslocada para Macapá para realizar os procedimentos.
A iniciativa também conta com a participação da DPU (Defensoria Pública da União), que realizou um cadastro das vítimas de escalpelamento no Amapá --há 124 pessoas cadastradas no Estado. Nem todas tiveram condições de comparecer ao mutirão devido a dificuldades de deslocamento.
Segundo a deputada Janete Capiberibe (PSB), autora de um projeto de prevenção de acidentes que em 2010 tornou obrigatória a instalação de cobertura nos motores e eixos que podem provocar mutilações, o número de acidentes diminuiu após a intensificação da fiscalização e do lançamento de campanhas educativas.
Em 2010, foram registrados dois casos de escalpelamento no Amapá. Em 2011, nenhuma mutilação foi registrada nos cerca de 30 mil barcos que navegam nos rios do Estado --destes, apenas 5.000 são registrados, segundo o governo.
De acordo com o vice-presidente da SBCP, Luciano Ornelas Chaves, o mutirão é uma oportunidade para jovens cirurgiões aplicarem diferentes técnicas de reconstrução.
"Essas juntas médicas vão ter a oportunidade de aplicar sete ou oito técnicas diferentes em um curto espaço de tempo. E em pacientes com um problema que não se vê todo dia. É uma bela chance para aprender", disse Chaves.
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