Sebastiao Imbiriba (*)
Minhas reflexões sobre os percalços desta vida me levam a indagar porque alguns são vitoriosos e outros não atingem seus ideais, o que me leva a concluir que profissões vencedoras são as em que o profissional soluciona a grande maioria dos problemas menores do dia-a-dia e, quase sempre, resolve o problema crucial de seu ofício.
Nesta ordem estão empresários e executivos que conduzem suas corporações por entre tropeços e acertos, estes sempre em muito maior número, até que se retirem com saldo positivo de solidez empresarial, crescimento continuado, boa imagem perante clientes, colaboradores e fornecedores, e histórico de lucratividade na média do setor.
Não é difícil encontrá-los. Afinal, mercado é campo onde alguns são expoentes, mas a maioria é vitoriosa, mesmo porque, perdedores logo são afastados. O capitalista falido sai do negócio lambendo as feridas de seu prejuízo e o empregado dispensado recebe o seguro e busca colocação em empresa mais próspera. Mas, quando se constata impossibilitada de cumprir seus compromissos, a empresa privada para de dar prejuízo pelo mero fato de falir, simplesmente deixa de existir. (Ao contrário, a estatal deficitária continua a sangrar seu acionista, o contribuinte, porque o pagador de impostos não tem como fugir; tributo não é voluntário, é imposto pela força da lei e coerção do Estado).
Profissionais do setor acadêmico, da saúde, da magistratura, enfim, da maioria das atividades são vitoriosos no sentido em que o propósito da carreira é atingido. Dois profissionais, no entanto, enfrentam terríveis perspectivas. São eles: o político e o militar.
O político tem que vencer duas principais barreiras. A primeira é a constituição de renome e eleitorado que o eleja. A segunda é o cumprimento das promessas de campanha. O número de candidatos concorrentes é igual aos cargos a serem preenchidos multiplicados pelos partidos concorrentes. Portanto o candidato enfrenta muitos adversários dentro e fora de seu partido. E, se eleito, ainda tem que vencer as barreiras da burocracia, dos ritos regimentais e a concorrência de seus pares. O índice de políticos vitoriosos é mínimo.
O destino do militar é diferente. As chances de vitória são, no máximo, cinquenta por cento, porque, se há vencedor deve existir o derrotado e, muitas vezes, há empate. Em nações pacíficas, como o Brasil, o guerreiro passa a vida toda se preparando para eventual conflito que nunca acontece. É claro, não existe possibilidade de vitória quando não há antagonismo a enfrentar. Em países mais beligerantes, como vimos, as chances de vitória são menores do que as de derrota ou irresolução. Mesmo quando vence, as perdas materiais e humanas podem ser tão grandes que a vitória em si é derrota. Portanto, triunfo é raridade no meio militar.
Há exceções, evidentemente, e uma das mais representativas foi a “Guerra nas Estrelas”, uma das mais grandiosas batalhas da História, na qual não se desembainhou uma espada, não se disparou um tiro, embora travada com denodo por dois grandes impérios. Os Estados Unidos desenvolveram grandioso esforço científico, tecnológico e financeiro no sentido de implantar escudo de antimísseis capaz de neutralizar os artefatos atômicos soviéticos, colocando-se em vantagem estratégica frente a adversário que não disporia tão cedo de proteção semelhante e, portanto, estaria vulnerável a ataques nucleares sem poder de retaliação. Tal esforço, embora pesado, representava fração do PIB nacional estadunidense.
Do outro lado, a União Soviética, com economia muito menor, se sentiu compelida a replicar o esforço e seus militares pressionaram o governo a alocar recursos retirados de outros setores, alguns muito carentes, na tentativa de desenvolver seu próprio escudo antinuclear. Tal empenho afetou enormemente a economia soviética que se viu obrigada a descontinuar investimentos extremamente importantes para sua infraestrutura, para o bem estar de sua população e até ajuda econômica e militar a aliados como Cuba, Europa Oriental e alguns países africanos.
A exaustão econômica, a par da corrupção, da ineficiência da economia centralmente planejada e ausência de empreendedorismo, foi o principal fator que conduziu a União Soviética ao desmoronamento de seu império, ao fim do regime comunista, à queda do Muro de Berlin, ao abandono do campo da Guerra Fria.
Os Estados Unidos saíram vitoriosos, mas não incólumes. O esforço elevou as despesas militares a níveis extremos em detrimento de outros campos, com drástica diminuição de investimentos na NASA e em outros setores científicos não militares, assim como na infraestrutura industrial, tornando sua economia, já deficitária, enormemente dependente da economia de outros países como os exportadores de petróleo, da China e até do Brasil. Isto, associado a excessos de criativos gerentes de produtos financeiros, principalmente dos derivativos imobiliários, conduziu o país à crise do sistema financeiro e à recessão dela decorrente que se alastrou pelo Japão e Europa.
A maior economia do mundo sentiu nas próprias partes baixas o golpe que desferiu contra seu arqui-inimigo. Venceu, mas sofre o enorme preço da vitória.
Tudo isto me aflora à lembrança ao refletir sobre a grande vitória do NÃO sobre o SIM no recente plebiscito em que se decidiu pela não criação, por enquanto, dos estados do Carajás e Tapajós. Será o sucesso nãossista episódio sem consequências? Ou terá o Grão Pará de pagar alto preço por vitória de Pirro?
(*) Professor e Historiador morador no Rio de Janeiro
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